A governabilidade de Dilma também dependerá do relacionamento com o PMDB, que ficou estremecido após a eleição. Mesmo mantendo a coligação com o PT no plano nacional – com Michel Temer como vice-presidente da República -, o partido enfrentou o aliado em algumas disputas estaduais.

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Foi assim no Rio Grande do Sul, onde a chapa do governador eleito, José Ivo Sartori (PMDB), e Simon derrotou o petista Tarso Genro, candidato à reeleição. O clima no Congresso ainda reflete as rusgas da eleição. Na semana passada, por exemplo, os peemedebistas da Câmara lideraram votação que derrubou o decreto de Dilma para a regulamentação de conselhos populares.

“O presidente da Câmara (Henrique Eduardo Alves, do PMDB), que foi candidato a governador no Rio Grande do Norte, estava com a eleição ganha, tinha garantido o apoio do PT, e na última hora o PT apoiou o candidato adversário e ele perdeu. Ele está numa revolta enorme”, afirmou Simon.

Diante desse cenário, ele acredita que o futuro do PMDB e da aliança com o PT ainda é “imprevisível”. Por isso, evita fazer projeções sobre uma eventual candidatura própria do seu partido para presidente em 2018. “Eu diria que esta é uma exigência unânime, mas vai depender de cada Estado, da composição que vai haver”, afirmou.

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Reforma política

O diálogo, segundo Simon, também será fundamental para fazer uma reforma política, uma das promessas de Dilma na campanha. Para ele, no entanto, “é quase impossível” levar adiante um plebiscito, como sugeriu a presidente. O senador defende uma ampla discussão entre o governo e o Congresso para, depois, pedir a aprovação da população através de um referendo.

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“O que a gente tem que fazer, e Dilma pode conduzir isso, é sentar e discutir um conjunto de ideias e uma forma de levar isso adiante”, explicou Simon, defendendo que a presidente convide até mesmo a oposição para participar do debate e chegar a um entendimento. “Ela não tem que ser a heroína. O papel dela será chamar todos, proporcionar esse diálogo, dar um impulso para que a reforma possa sair do papel.”

Na opinião de Simon – que deixará o Senado no final de janeiro e, portanto, não vai participar diretamente da discussão sobre o tema no Congresso -, o projeto de reforma política deve incluir uma cláusula de barreira para criação de partidos, o fim da reeleição e a mudança no formato atual das Medidas Provisórias. Ele também espera uma análise mais aprofundada das propostas de proibição do financiamento privado de campanha e de adoção do voto distrital.

Futuro

No dia 31 de janeiro, quando se despedir da cadeira que ocupou por 32 anos, Simon pretende de fato se afastar da vida pública. Ele descarta a possibilidade de integrar o governo de Sartori, para quem fez campanha na eleição para o governo gaúcho.

“Vou estar à disposição do Sartori para quando ele precisar de mim, para ajudar. Mas nem passa pela minha cabeça um convite formal, nem passa pela cabeça dele fazê-lo. Estou me aposentando”, ressaltou. “Pretendo andar pelo Brasil debatendo, fazendo palestras.”

Simon aproveitou para minimizar a sua própria derrota nesta eleição. “Uma coisa que tem que ficar clara é que não fui candidato ao Senado. Como diz o Sartori, fui constrangido a aceitar quando o Beto Albuquerque deixou a chapa. Não fiz campanha, não rodei o Estado, já estava envolvido na candidatura do meu filho Tiago (Simon, eleito deputado estadual) e foi o que continuei fazendo”, justificou.

O senador também revelou estar “muito feliz” com a vitória de Sartori e disse que o jeito de governar do ex-prefeito de Caxias do Sul pode servir de referência para Dilma: “Aquilo que estou dizendo que a Dilma deve fazer lá, ele vai fazer aqui. Vai reunir, vai discutir, vai debater, vai sentar à mesa, vai conversar com a sociedade.”