Apesar da promessa do novo ministro Mendonça Filho (DEM) de que não haverá uma “gestão de choque”, a classe artística recebeu com pesar a notícia oficial da extinção do Ministério da Cultura, agora unido à Pasta da Educação.

continua após a publicidade

“Não há risco de descontinuidade, de interrupção nem de censura”, disse o ministro na quinta-feira, 12, ao ser questionado sobre a junção dos dois ministérios no governo Michel Temer.

Criado por um decreto de José Sarney em 1985, o MinC era um símbolo marcante da redemocratização, de acordo com Juca Ferreira, ministro do governo Dilma.

Veja algumas das reações de artistas à extinção do MinC:

continua após a publicidade

Paulo Ricardo (músico e vocalista do RPM):

“Independente dos desdobramentos, acho fundamental o corte nesse número absurdo de ministérios. Na minha opinião, o inchaço da máquina é um dos maiores desafios que temos que enfrentar. Há uma simbiose intrínseca entre Educação e Cultura. Se bem administrado, a fusão pode funcionar. Mas, a princípio, sou a favor e estou otimista.”

continua após a publicidade

Lobão (músico):

“Uma maravilha! O MinC sempre foi uma excrescência! Muito feliz pela fusão e pelo nome de Mendonça Filho no MEC!”

João Barone (baterista do Paralamas do Sucesso):

“O Brasil, infelizmente, tem essa condição terrível de precisar desse insumos governamentais para a cultura. E, na verdade, a educação é que precisa muito mais do que além dessa merreca que acabam dando para a cultura. Se pararmos para analisar, a educação precisa de mais insumos, mesmo. A gente viveu durante esse período de vacas gordas uma certa ilusão de que a cultura seria levada a um outro patamar. Acho que fica todo mundo com pé atrás de que essas pequenas conquistas sejam melindradas com essa nova realidade. Espero que as discussões continuem e os avanços que foram feitos na cultura sejam mantidos.”

Dado Villa-Lobos (guitarrista da Legião Urbana):

“Voltamos a viver como a 30 anos atrás. E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas.”

Danilo Santos de Miranda (diretor regional do Sesc São Paulo):

“Lamento muito a fusão dos dois ministérios. São lógicas diferentes. Um gestor de uma área para lidar com todos os temas dos dois ministérios tem de ser múltiplo, pois a política que ordena a educação não é a mesma que ordena a cultura, que lida com um lado mais espontâneo, transgressor”.

Luís Terepins (presidente da Bienal de São Paulo):

“Acho que ter só um ministério pode garantir um status melhor, mas tudo vai depender do ministro, de como serão alocados os recursos. Não tem mesmo muito sentido manter vários ministérios”.

Heitor Martins (presidente do Masp):

“Ainda não tenho claro para mim, mas o Ministério da Cultura teve um papel importante no resgate da Bienal durante o período 2009/2010.Pode funcionar dos dois jeitos, porque alguns países europeus adotam esse modelo de fusão. De qualquer modo, não é mesmo necessário ter tantos ministérios”.

Eduardo Saron (diretor do Itaú Cultural):

“Se a fusão contribuir para o incremento dos recursos da Cultura, cujo orçamento é equivalente ao de 2008, acho positivo. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio, pois a Educação sempre teve recursos mais expressivos. Nossos governantes têm de considerar que a cultura precisa se tornar central nas políticas públicas”.

Paulo Pasta (pintor):

“Quando se tira a autonomia das duas áreas, é uma prova do descaso do governo com a educação e a cultura. É uma regressão, um atraso, que remete à política do regime militar.”

Milton Hatoum (escritor):

“O fim do MinC e do McT e a nomeação de políticos irrelevantes à frente desses e de outros ministérios não me surpreendem. Cultura, educação e pesquisa científica foram rebaixados. A pantomima continua. Numa crônica de 1949, Rubem Braga escreveu: ‘Nossa vida política é, em seu jogo diário, de um nível mental espantosamente medíocre. Mental… e moral. Há uma cansativa tristeza, um tédio infinito nesse joguinho miúdo de combinação através das quais se resolve o destino da pátria’.”

Elias Thomé Saliba (historiador):

“Vejo tal medida – como muitas outras que já estavam em curso nos últimos dois anos -com perplexidade. Se isto se concretizar na interrupção de projetos culturais em andamento, será lamentável. Na história brasileira, talvez desde Gustavo Capanema, todas as vezes que um governo minimizou a cultura por razões orçamentárias obscureceu as mentes mais criativas e só aprofundou a crise.”

Paulo Werneck (curador da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP)):

“A fusão é mais um sinal do encurtamento de horizontes do País. Vai na contramão de uma tendência internacional de valorização da cultura como política de Estado. A Itália aumentou em 27% o orçamento para a cultura neste ano, com um bilhão de euros só para o patrimônio histórico. No ano passado, Portugal recriou o seu Ministério da Cultura e o México elevou a Conaculta, maior fomentadora de cultura do país, ao status de ministério. O consolo é pensar que, neste governo, a manutenção do ministério significaria apenas mais um cargo à espera de um bispo da Igreja Universal, como aconteceu com a Ciência e Tecnologia.”

Ignácio de Loyola Brandão (escritor):

“Começou mal o período interino do vice-presidente. De cara, desaparece o Minc, sem que se saiba como será. Na verdade, governos jamais ligaram muito para a cultura. Nunca esperei nada de governos, de modo que para mim o que era ruim, ruim fica. Um projetinho aqui, um programinha ali, e pronto. Se alguém souber quando houve uma política cultural merece o prêmio Nobel ou a mega sena. Nenhuma surpresa. Que o vice poeta tenha piedade.”

Ricardo Lísias (escritor):

“Não sei como os artistas que apoiaram o golpe não morrem de vergonha!”

Humberto Werneck (jornalista e escritor):

“É um retrocesso absurdo fazer com que a Cultura volte a ser um apêndice da pasta da Educação. Desconfio que o governo provisório esteja apenas jogando para a torcida mais desinformada, ou seja, querendo faturar em cima de um corte que seria não nas verbas, mas apenas no número de ministérios. Se não for isso, pior ainda – pode-se imaginar que o orçamento da Cultura, já insuficiente, agora, com a pasta reduzida a apêndice, vai ficar ainda menor.”

Luís Antonio Torelli (presidente da Câmara Brasileira do Livro):

“A Câmara Brasileira do Livro está atenta a todos os passos para a superação da crise brasileira e continuará a cobrar robustas políticas para a Cultura e para a Educação, em especial para o livro e a leitura.”

Laura Erber (escritora, artista plástica e editora):

“A anunciada incorporação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação deve ser recebida com perplexidade. A mensagem é bastante clara e sinaliza que, para o governo interino, cultura é algo supérfluo e sujeita a todo tipo de achatamento e descarte. Significa que entramos novamente em um período de obscurantismo cultural no que diz respeito às ações do Estado, como foi a era Collor que devastou diversos setores artísticos do País e deixou as instituições artísticas órfãs por muitos anos. Com todas as críticas que possamos fazer às políticas públicas para as artes do governo PT, ele teve certamente o grande mérito de assumir suas responsabilidades na área cultural, desencadeando debates cruciais, que ressignificaram e mudaram a compreensão das ações estatais no campo da cultura. Vejo essa fusão de ministérios como a interrupção de um processo fundamental de democratização da cultura que precisava amadurecer para rever os modelos de incentivo fiscal e as estratégias de descentralização.”

Abrelivros, emitido por seu Presidente, o Sr. Antonio Luiz Rios:

“Entendemos que qualquer avaliação neste momento deva ter como referência a grave crise econômica que vivemos e a perspectiva de construção dos caminhos para a sua superação. A união dos ministérios da Cultura e da Educação deve ser vista nesse contexto. É claro que, para que as duas áreas sejam plenamente contempladas, apesar da escassez de recursos, é preciso que se estabeleça uma cultura de fusão, em contraposição à de incorporação: nem a cultura pode estar subjugada à educação, nem a educação à cultura. Essa fusão, caso ocorra de fato e não apenas formal e burocraticamente, pode encerrar um potencial muito positivo para as políticas públicas no País, ao tratar educação e cultura de forma integrada, sem as compartimentações usuais, em geral forçadas. Do ponto de vista das políticas de incentivo à leitura e de livros, podemos ter efeitos bem positivos.”

Odilon Wagner (ator):

“Sob o guarda chuva da cultura encontram-se todas as áreas da economia criativa, são setores produtivos, que geram emprego, renda, conhecimento e cidadania. Não se trata de ideais partidários. Os partidos mudam, entram ministros, saem ministros, mas devemos lutar por políticas públicas de estado, que sejam permanentes no Ministério da Cultura. Conquistamos há quase 30 anos o direito a um Ministério que pense exclusivamente a vasta e pujante cultura nacional. Ele não foi criado para acomodar “amigos e aliados políticos”. NÃO À JUNÇÃO COM A EDUCAÇÃO!”

Ruy Cortez (diretor teatral e produtor):

“A fusão dos ministérios é um enorme retrocesso, reflexo de um projeto neoliberal que não reconhece a centralidade e a magnitude que a cultura deve ocupar no processo de transformação do país. Esse projeto neoliberal que começa a ser implantado está superado internacionalmente e o Brasil, que ocupava até ontem uma posição de “avant-garde” em assuntos de política cultural internacional, não pode aceitar esse retrocesso.”