Cisão entre organizadores encolhe ato no Rio; petista é hostilizada

No Rio de Janeiro, o ato pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em Copacabana (zona sul), foi menor do que aquele promovido em 15 de março, especialmente em razão de uma cisão entre os grupos organizadores, que trocam acusações e defendem soluções diferentes para a crise política brasileira. Cada qual com seu carro de som, eles ocuparam uma pista da Avenida Atlântica ao longo de um quilômetro, entre os postos 5 e 6.

Os grupos Vem pra Rua e Revoltados On Line iniciaram seus atos às 11h, enquanto os grupos União Contra a Corrupção (UCC), Movimento Brasil Livre, Extermínio e O Pesadelo dos Políticos, que dividiram o terceiro carro de som, partiram às 14 horas. O grupo Vem Pra Rua, que estimou em 100 mil o público de março, desta vez calculou ter atraído 110 mil, mas o ato de ontem foi visivelmente menor. A PM não calculou o público.

O principal motivo para a cisão entre os grupos é uma troca de acusações sobre financiamento por partidos políticos. O Vem pra Rua é acusado pelos demais de ser bancado pelo PSDB, mas nega. “Não recebemos dinheiro de nenhum partido, justamente para poder criticar. Isso só divide os movimentos”, diz a dentista Rizzia Arrieiro, porta-voz do Vem pra Rua.

Ela alega diferenças ideológicas em relação ao grupo composto por União Contra a Corrupção, Movimento Brasil Livre (MBL), Extermínio e O Pesadelo dos Políticos, que atrai manifestantes favoráveis à intervenção militar. “O pessoal do MBL não está alinhado com que a gente pensa. A gente respeita as instituições, não passa por cima delas”, diz Rizzia.

O empresário Rodrigo Brasil, um dos líderes do Revoltados On Line no Rio de Janeiro, disse concordar com o Vem pra Rua, mas criticou o MBL e seus parceiros. “O pessoal lá está metido com político e a gente está fora disso”, disse Rodrigo, que defende nova eleição caso ocorra impeachment de Dilma. Embora ele seja contra intervenção militar, ao redor do carro de som de seu grupo havia muitos simpatizantes da ditadura.

“O racha vem do pessoal do Vem pra Rua, que é ligado ao PSDB”, acusou o técnico em segurança do trabalho Maicon Freitas, de 32 anos, um dos líderes do UCC. “A gente faz vaquinha para pagar o carro de som.”

Como em março, o ato foi pacífico, com o público vestindo camisetas da Seleção ou roupas em verde e amarelo. Houve pedidos de salva de palmas para o juiz Sérgio Moro, e todos os “procuradores e policiais federais envolvidos nas investigações da Operação Lava Jato”. Os manifestantes também entoaram vaia coletiva ao ex-presidente Lula, “o grande responsável por botar o Brasil nesse buraco”.

O público abaixo do esperado frustrou as expectativas do vendedor ambulante Marcelo Bento, de 28 anos, que investiu R$ 700 para comprar, 70 camisetas amarelas com a inscrição “Fora Dilma” e “Fora PT”. Havia vendido apenas 30 até as 13h30. “Foi um furo n’água.”

Pelo menos duas pessoas foram hostilizadas durante o protesto. Um homem que com um megafone discursava contra o ato foi ameaçado por manifestantes e teve que ser conduzido até um carro da polícia, que o levou embora.

O segundo atrito envolveu a corretora de imóveis Denise Almeida, de 55 anos, moradora de um apartamento de cobertura na Avenida Atlântica e petista declarada. Ao passar pelos manifestantes, às 14h30, ela perguntou a um deles se sabia quem assumiria a presidência se Dilma for impedida. Foi o suficiente para que dezenas de ativistas exaltados a cercassem, xingando e empurrando a mulher.

“Vagabunda”,”prostituta” e “vai pra Cuba” foram as palavras mais repetidas. “Esse pessoal não tem educação nem para dar aos filhos, e ainda quer cuidar do Brasil. O que eu disse a eles é que precisam eleger bons deputados, governadores, prefeitos. A Dilma não é responsável sozinha por todos os problemas do Brasil. Pelo contrário, foi no governo dela que o porteiro do meu prédio comprou o primeiro carro”, disse Denise, enquanto um homem repetia, aos gritos, que “comunista tem que andar de bicicleta”. Após ser perseguida por 150 metros, a mulher conseguiu chegar em casa.

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