Cientistas querem entrar no debate do Código Florestal

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) enviaram carta ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em que pedem que a proposta do novo Código Florestal seja discutida na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) da casa. Por enquanto, o texto passará pelas comissões de Meio Ambiente e de Agricultura.

Os pesquisadores argumentam que a ciência poderia servir como um fiel da balança na disputa entre ambientalistas e ruralistas. “Se os ruralistas vencerem, o País perde. Se os ambientalistas vencerem, o País também perde”, diz o engenheiro agrônomo José Antonio Aleixo. “A única forma de o País ganhar é não existirem vencedores. O interesse público deve prevalecer.” Aleixo, pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, coordenou o grupo criado pelas entidades científicas para discutir o Código.

Para a presidente da SBPC, Helena Nader, não faltou insistência aos cientistas. “Já enviamos várias cartas. Estamos sendo ignorados”, disse, durante a 63ª Reunião Anual da SBPC, iniciada domingo em Goiânia.

Aleixo argumenta que a ausência dos pesquisadores na discussão torna o diálogo irreal. “Já disseram que, se não fosse autorizado o plantio nos morros a altitudes superiores a 1,8 mil metros, as videiras do Rio Grande do Sul estariam condenadas”, exemplifica. “Mas o ponto mais alto da Serra Gaúcha não tem mais de 1,4 mil metros.”

A carta enviada a Sarney diz que, sem participação da ciência, o novo Código “será, já de nascença, considerado defasado”. Os cientistas argumentam que os limites rígidos de distância estipulados na atual proposta para determinar até onde as áreas devem ser preservadas (na beira de rios, por exemplo) só se justificam porque o texto em que a lei se baseia foi escrito em 1965.

A carta aponta que “um novo método quantitativo, baseado em imagens de radar e análises digitais de terreno”, pode “definir com precisão as larguras funcionais de matas ciliares em função das características variáveis dos solos, da vegetação e dos rios”. Não usar as imagens seria como obrigar pessoas diferentes a calçar sapatos do mesmo tamanho, compara Aleixo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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