Ele era o terrorista mais procurado do mundo. O venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como Carlos, o Chacal, foi salvo pela Agência Central de Inteligência Americana (CIA), que sabotou uma iniciativa da Operação Teseo, braço da Operação Condor criado para assassinar opositores dos regimes militares na América do Sul exilados na Europa.
Documento de 7 de outubro de 1977 sobre a Operação Teseo mostra que a espionagem americana foi informada que uma unidade “composta por um argentino, um chileno e por um uruguaio foi enviada à França no começo de 1977 para caçar Ilich Ramírez Sánchez”. As quatro linhas seguintes permanecem em sigilo e foram tarjadas pela CIA antes de divulgar o documento.
Mas em outros documentos é possível descobrir o que houve. Datado de 18 de abril de 1977, um relatório diz que o centro de operações de Buenos Aires da Operação Teseo descobriu que a França tinha conhecimento da existência de “objetivos da Operação Condor” pelo menos desde 1976. De fato, em dezembro de 1976 outra equipe com argentinos e uruguaios havia sido enviada à França para tentar matar “terroristas uruguaios”.
Um dos alvos era o sindicalista Hugo Andrés Cores Pérez, que estava exilado em Paris. Peréz já havia sido sequestrado e depois libertado quando estava na Argentina, em 1975. Quando a equipe da Condor/Teseo chegou a sua casa, ele havia deixado o imóvel um dia antes. “A falha foi atribuída pelos militares ao vazamento da informação para os terroristas”, diz a CIA. Mais uma vez, a agência teria feito chegar aos franceses a informação, o que impediu a ação dos militares.
No caso de Chacal, argentinos, uruguaios e chilenos queriam matá-lo porque suspeitavam da participação dele no assassinato do adido militar uruguaio em Paris, o coronel Ramón Trabal, em 1974. Chacal era ligado à Organização Para a Libertação da Palestina (OLP), que, por sua vez, mantinha relações com o movimento esquerdista argentino Montoneros.
Em 23 de setembro de 1980, o Washington Post publicou um artigo com o título CIA conspira para salvar terrorista, sobre o caso. Cópia da reportagem estava arquivada com outros documentos secretos sobre a repressão na Argentina. Na mesma série de documentos, está o telegrama enviado em 18 de agosto de 1976 pelo então subsecretário de Estado para a América Latina, Harry Schlaudeman (gestão do republicano Gerald Ford), aos embaixadores no Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai, Brasil e Bolívia, países membros do Condor.
Para cada embaixador foi dada uma recomendação diferente para pressionar os países contra ações fora da América do Sul. Para os embaixadores na Argentina e no Chile foi recomendado que se procurasse pessoalmente os ditadores Jorge Rafael Videla e Augusto Pinochet. Aos argentinos foi dito que ações no exterior teriam um impacto negativo nos esforços de financiamento estrangeiro do ministro da Economia Martínez de Hoz.
Mesmo assim, em 21 de setembro, agentes chilenos fizeram voar pelos ares o carro em que estava o ex-chanceler socialista Orlando Letelier, em Washington. No atentado, além de Letelier, morreu sua secretária americana Ronni Moffitt. Sob fogo do Congresso de maioria democrata, o governo Ford teve de reagir. E, assim, Chacal e os uruguaios foram salvos. Ele só seria preso em 1994, no Sudão, e transferido para a França, onde foi condenado à prisão perpétua pelas mortes de dois policiais e um informante em Paris. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.