DESVIO MILIONÁRIO

Chefão da corrupção, Paolicchi morreu. Mas seu legado continua!

O ex-secretário da Fazenda de Maringá Luiz Antônio Paolicchi, que foi encontrado morto no porta-malas de seu próprio carro, um Fiat Idea HDQ-6182, na noite de quinta-feira (27) numa estrada do distrito de Floriano, foi um dos nomes mais emblemáticos da história política da cidade nos últimos 25 anos.

Não que tenha sido um exemplo de virtude: ele foi exatamente o contrário, o homem chave de um esquema de corrupção que drenou os cofres da cidade em mais de R$ 500 milhões.

Paolicchi foi um sujeito simpático, inteligente e poderoso. Ao morrer, vestia camisa azul de mangas compridas (marca Lacoste), calças jeans clara e sapato marrom sem meia. Usava relógio, tinha cartões de crédito e estava com R$ 155,00 na carteira.

Dois tiros na cabeça, um no ombro e outro na barriga. Tinha 54 anos. Era o fim de um homem que ascendeu na política de Maringá com a inesperada vitória do azarão na campanha de 1988, Ricardo Barros, que derrotou os favoritos João Preis e Ademar Schiavoni.

Terminado o mandato de Barros, o ex-prefeito deixou o gabinete saindo pela janela do Paço Municipal, fugindo da fúria popular. Mas o seu secretário da Fazenda continuou intocado na administração de Said Ferreira, que fora eleito pela segunda vez.

Ao fim deste mandato, Paolicchi continuou em seu posto, com o novo prefeito Jairo Gianoto, cada vez mais poderoso – a ponto de ser chamado de “reizinho” pelos colegas – e cada vez desviando mais recursos. Ao mesmo tempo, com tamanha dedicação, tornava-se um homem rico. E passou a ostentar.

Então, por força de ações do Ministério Público, o reinado de Paolicchi começou a ruir. E se ele foi dizimado por uma série de denúncias, escândalos e investigações, levou junto à ruína o então prefeito Jairo Gianoto, que caminhava tranquilo para a reeleição.

Começava então o calvário do ex-secretário, que o levou a cumprir pena na Penitenciária Estadual de Maringá e a perder o comando de empresas como a Água Safira.

Antes de morrer, Paolicchi já era um sujeito acabado: destruído politicamente há quase uma década, cumpriu pena na prisão, estava arruinado financeiramente, passava por problemas financeiros e dizia-se doente. Alguns alegavam que estava com o vírus HIV, outros que tinha leucemia.

Com a sua morte, também, certamente, foram para o túmulo muitos nomes que ele poderia revelar. E, talvez, segredos que poderiam botar na cadeia figurões que posam de impolutos na política paranaense.

Talvez, até por isso, o mistério que fica – e que tanto pode perdurar para sempre, quanto ser resolvido parcialmente em poucos dias, semanas ou meses – é saber quem matou Paolicchi.

Não quem deu os tiros, mas quem mandou dar os tiros. Motivos para matá-lo muitos tinham. Paolicchi era um arquivo vivo, e queima de arquivo é prática comum por pessoas que não estão dispostas a serem denunciadas.

A vida sexual de Paolicchi também pode dar um bom recheio. Em Maringá corre o rumor de que o ex-secretário devia soma vultosa a um comerciante, que teria encomendado o crime.

De qualquer forma, ele foi a ponta de um iceberg sujo da política maringaense nos últimos 25 anos. E teve uma morte à altura do jogo praticado por uma parcela significativa destas lideranças: morrer como um gangster cuja vida não interessa a mais ninguém é apenas uma variante àqueles que em vez de servir à causa pública se servem da causa pública.

A morte do ex-secretário, lamentavelmente, não enterra uma era de desmandos e políticas nocivas e suspeitas na cidade. Denúncias de desvios de recursos federais na construção de ciclovias e do Contorno Norte são eloquentes exemplos de que Paolicchi morreu, mas seu legado continua.

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