Chávez prega o socialismo e firma acordos de US$ 440 milhões

O presidente da Venezuela Hugo Chávez ameaçou ontem o presidente dos Estados Unidos, George Bush, caso tenha a intenção de invadir seu País preventivamente, como pretende fazer com o Irã. Ele classificou, mais uma vez, o líder americano de "genocida" e também condenou a intenção americana de fazer um acordo econômico envolvendo as três Américas. Para Chávez, a solução para o continente está no sistema socialista. "O mundo só se salvará com o socialismo", disse o líder venezuelano.

Em sua visita ao Paraná, Chávez fez diversos ataques ao capitalismo e ao imperialismo americano, além de reforçar a necessidade da integração de toda a América Latina e a implantação da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), no lugar da Área Livre de Comércio das Américas (Alca). Chávez assinou acordos de cooperação com o governo do Paraná e encerrou o 2?º encontro de integração entre o Estado e a Venezuela, que reuniu desde quarta-feira empresários de vários setores.

Chávez disse que a América Latina não pode ser colônia norte-americana. Segundo ele, todos os países precisam ser uma única pátria latino-americana. Os Estados Unidos e o presidente George W. Bush foram várias vezes citados por Chávez, que responsabilizou o colega americano pela destruição do planeta e o desequilíbrio ecológico. Ao falar sobre o furacão Katrina, que devastou parte dos do Sul dos EUA no ano passado, ele comentou, arrancando risadas da platéia: "Estou cada vez mais convencido que Deus ajuda Chávez e seus amigos".

O presidente da Venezuela fez duros ataques à Alca. Alegou que este é um projeto colonialista. "Precisamos de um tratado de comércio, e não esse de livre comércio, que oprime em vez de libertar", disse. Para ele, a implantação da Alba é a alternativa para a Alca. "Que a Alca descanse em paz", decretou. Ele também disse que o Mercosul precisa de reformulações, para que evolua de um acordo de cooperação comercial para um projeto de solidariedade e interesse social. Ele lamentou que Argentina e Uruguai estejam em conflito por causa da instalação de uma fábrica de celulose perto da fronteira entre os dois países, caso que ameaça o Mercosul. "Tenho fé que as lideranças e a opinião pública vão superar esta diferença. Não queremos conflitos", disse.

Para o presidente venezuelano, o mundo vai acabar se o capitalismo continuar existindo. Durante solenidade com membros da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Teatro Guaíra, Chávez destacou as virtudes do socialismo, sendo apoiado pela platéia. "O socialismo é o único meio para salvar o planeta. Socialismo ou morte!", disse em seu discurso.

Chávez enfatizou que é necessário acabar com o imperialismo americano, "antes que ele acabe com os outros". Reforçou que o momento atual é de confronto de idéias, e não de confronto bélico. Foi enfático ao dizer que os EUA vão se arrepender se fizerem uma guerra preventiva contra a Venezuela, como pretendem fazer com o Irã. "Agora estão ameaçando o Irã. Esta é uma outra loucura dos Estados Unidos", disse.

Chávez disse que a integração da América Latina é necessária e que "estamos em um momento crucial de retomar as nossas bandeiras. A América Latina perdeu a sua essência e devemos começar a recuperar isso". Então, são necessários passos concretos como a construção de um gasoduto que ligaria Venezuela, Argentina e Brasil. "Este é o caminho para a integração comercial, de nos comprometer a continuar articulando forças entre governos e setor privado. É preciso expressar a necessidade de uma estratégia de integração, um projeto que envolveria a América do Sul, o Caribe, a América Central e parte da América do Norte", avaliou.

Para Chávez, o gasoduto tem grande importância, pois o gás proveniente da Venezuela e da Bolívia vai garantir reservas suficientes para um desenvolvimento sustentável. "O imperialismo americano não tem interesse no gasoduto, que vai reunir grandes reservas de gás", disse. Chávez saiu do Palácio Iguaçu no final da tarde de ontem em direção a Brasília. Na capital federal, ele se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem discutiria o projeto técnico para a construção do gasoduto.

 Acordos e negócios totalizam US$ 440 milhões

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou em Curitiba às 9h40, com quase duas horas de atraso. Foi recebido com honras militares na pista do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Após a recepção, ele seguiu para o Palácio Iguaçu, onde assinou 15 acordos com o governador Roberto Requião sobre cooperações em diferentes segmentos, como agricultura, saneamento básico, meio ambiente, educação, habitação, ciência e tecnologia. Ficaram acertadas a assistência técnica e transferência de tecnologia paranaenses ao governo venezuelano e estados daquele país. Os acordos e os negócios fechados por Chávez e sua comitiva somam US$ 440 milhões de investimentos, dos quais US$ 320 milhões previstos nas cooperações. Os US$ 120 milhões restantes foram provenientes de negociações entre empresários paranaenses e venezuelanos. Chávez e Requião também encerraram a segunda rodada de negociações entre empresários paranaenses e venezuelanos. A primeira rodada aconteceu em Caracas, no final do ano passado.

Em seu discurso durante a solenidade, Requião destacou que o encontro consolidou os laços de dois países irmãos, além do volume de negócios fechados. "Todos os negócios tinham como objetivo melhorar a vida da população. Vemos a Venezuela como uma nação, e não como um mercado", comentou.

Para Chávez, as relações entre Brasil e Venezuela chegaram a um patamar nunca alcançado. Uma das evidências do aprofundamento do relacionamento entre os dois países é a quantidade de acordos firmados com o Paraná, segundo o presidente venezuelano. "Paraná e Venezuela estão assumindo a responsabilidade de aprofundar e ampliar a relação dos dois países, em um grande projeto de integração", afirmou.

Os dois participaram também de um evento com integrantes da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Teatro Guaíra. Eles assinaram o Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural na ocasião. Neste evento o governador Roberto Requião foi vaiado por parte do público, quando discursou sobre nepotismo e o projeto de lei derrotado na Assembléia Legislativa. Requião devolveu as vaias com críticas e expressões ásperas. (Joyce Carvalho)

Requião destaca política externa de Lula

O governador Roberto Requião afirmou que a política externa de Hugo Chávez reforça política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta política tem por objetivo a integração entre os países latino-americanos. Requião lembrou os profundos vínculos que unem os dois países e destacou: "O Paraná está fazendo, na prática, a política externa do presidente Lula".

Requião elogiou a mudança na política externa dos dois países afirmando que é uma tendência moderna e se contrapõe à bipolarização do mundo. O governador defendeu o relacionamento dos países sem o filtro dos interesses das grandes corporações e dos impérios. O governador salientou que tanto Chávez como Lula se opõem à imposição da Alca e outros tratados entre países que têm por interesse exclusivo o lucro. "É preciso também levar em conta o território, a história, o espaço físico consolidado ao longo dos anos e o processo cultural nessas parcerias e acordos".

Ao se referir ao presidente da Venezuela como companheiro, o governador explicou que o termo vem do latim "compane", que significa "com pão". Segundo Requião, "somos companheiros porque estamos sentados à mesma mesa, dividindo o pão doce e farto nos bons momentos e o pão parco e amargo nos momentos difíceis". O governador apontou a "forma moderna" como o Paraná está promovendo esta integração com a Venezuela. "Estamos realizando o ideal bolivariano", disse.

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