Depois de a presidente Dilma Rousseff pedir “paciência” à população brasileira por conta do aumento dos preços de alimentos e da tarifa de energia, agora foi a vez de a Controladoria-Geral da União (CGU) solicitar a “compreensão” dos servidores em virtude do atraso no pagamento de diárias. Um e-mail de circulação interna disparado pelo secretário-executivo da CGU, Carlos Higino, expõe o cenário de restrição orçamentária e de crise que assola as contas do governo.
“Informo que além de restrições de natureza orçamentária, a CGU, assim como toda a Administração Pública Federal, está passando também por limitações que afetam o fluxo financeiro, o que pode gerar atrasos no pagamento das despesas da Controladoria, inclusive de algumas já liquidadas”, informa o e-mail de Higino, ao qual o Estado teve acesso.
No texto, enviado para chefes das regionais da CGU, o secretário-executivo pede a “compreensão dos servidores” e informa “que não temos como garantir o pagamento imediato das diárias”. “Solicito que cada dirigente avalie criteriosamente todos os deslocamentos a serem realizados, autorizando exclusivamente as viagens de caráter inadiável e deixando os servidores cientes da possibilidade do não pagamento das diárias de forma imediata”, reconhece Higino.
O secretário-executivo também admite que, além das diárias dos servidores, as restrições orçamentárias podem afetar a quitação de despesas junto a fornecedores e o repasses de recursos para as regionais. No ano passado, o então ministro da CGU Jorge Hage já havia criticado a “penúria orçamentária” da pasta.
O atraso no pagamento de diárias de servidores não é exclusividade da CGU. Auxiliares palacianos relataram à reportagem, sob a condição de anonimato, que o governo tem atrasado em quatro meses, em média, o pagamento das diárias em viagens internacionais da presidente Dilma Rousseff.
Como resultado, são obrigados a comprar dólares do próprio bolso, para serem reembolsados apenas depois – e ainda serem afetados pela flutuação da cotação da moeda. Um servidor relatou ao Estado que colegas com maiores dificuldades financeiras têm levado miojo em viagens internacionais da presidente para conseguir fazer todas as refeições.
De acordo com a assessoria da CGU, “em regra, não há atraso nos pagamento de diárias dos servidores”. Segundo o órgão, já foram desembolsados R$ 860,5 mil em diárias neste ano.
“Não há possibilidade de paralisação de atividades do órgão, uma vez que a maioria das maioria das atribuições da CGU não depende de diárias para a realização das atividades”, comunicou a assessoria.
Procurada, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) recomendou que fosse consultado o Ministério do Planejamento que, por sua vez, não havia respondido até a noite desta quinta.