A Controladoria-Geral da União (CGU) ainda investiga o envolvimento de outros 14 funcionários da Petrobras com atos de corrupção promovidos pela empresa holandesa SBM Offshore. Responsável por alugar plataformas, a empresa confirmou ter pago propinas no valor de US$ 139 milhões para obtenção de contratos e informações privilegiadas da estatal. Além das investigações, a CGU já confirmou o envolvimento de seis “funcionários, ex-funcionários e ex-diretores” da Petrobras, segundo o ministro Jorge Hage. De acordo com o ministro, a maioria dos agentes públicos envolvidos neste caso de corrupção já foi notificado e terá um prazo para apresentar sua defesa.

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Além dos funcionários, a SBM também será notificada, a partir da próxima semana, e terá dez dias para se defender. A previsão, segundo Hage, é que apenas “nos primeiros meses” de 2015 os envolvidos no esquema sejam punidos. Hage também afirmou que a Controladoria já conversa com a empresa holandesa sobre um possível acordo que evite um processo judicial. Para o ministro, a “exigência básica” para um entendimento é o “ressarcimento imediato” da Petrobras, além da indicação de quem participou do esquema.

Ele classificou os valores acordados entre a SBM e o ministério público holandês como “irrisórios”. A empresa holandesa concordou em pagar US$$ 240 milhões em multas e ressarcimentos aos prejuízos causados pelos atos ilícitos praticados no Brasil, Angola e Guiné Equatorial. “Para nós essa quantia é ínfima. Talvez para eles seja suficiente, mas quantas Holandas cabem no Brasil? Temos que falar em outro patamar, até por que os valores dos contratos são muitos altos, mais de R$ 20 bilhões”, afirmou. Hage também afirmou “sem a menor dúvida” o governo vai buscar quantias maiores. “Temos interesse no acordo para viabilizar o ressarcimento da Petrobras de forma mais rápida que qualquer via judicial.”

O acordo também poderá determinar se a empresa holandesa voltará a participar de licitações da Petrobras. A partir da notificação, a empresa terá dez dias para apresentar defesa, e após o encerramento dos procedimentos ainda poderá apresentar considerações finais ao processo. Se for condenada, ela poderá ser suspensa temporariamente ou indefinidamente dos contratos da estatal.

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Investigações

Hage não quis revelar quais os nomes dos ex-diretores com envolvimento confirmado no caso de corrupção e recebimento de propina. Segundo ele, não há, até o momento, indício de envolvimento de integrantes da atual diretoria.

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Entretanto, o ministro revelou que a controladoria ainda tem aberta sindicância para apurar envolvimento de outros 14 funcionários, sem detalhar o nível de atuação na estatal. A sindicância é uma fase preliminar de apuração, em que não há punição ou apresentação de defesa. Só após a confirmação do envolvimento é que os funcionários serão notificados. “Poderão vir outros”, afirmou.

Para chegar às conclusões, a controladoria quebrou o sigilo fiscal dos funcionários investigados, cruzando informações sobre o balanço patrimonial e a renda de cada um dos envolvidos. Segundo o ministro, não houve colaboração do ministério público holandês durante as investigações.

“Lamentavelmente, não conseguimos grande coisa com o ministério público holandês. O entendimento deles é que só há acordo de cooperação em caos de processo judicial, e não administrativo. Conversamos com procuradores, mas no plano não oficial, apesar de termos solicitado duas vezes”, pontuou Hage, que participou há pouco de palestra sobre governança e corrupção, promovida pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

O ministro ainda defendeu a colaboração da atual diretoria nas investigações e disse que não há razão para “desqualificar” o trabalho de apuração interna da estatal sobre o tema. A Petrobras realizou auditoria em fevereiro sobre as denúncias de corrupção da SBM, mas após um mês de investigação não encontrou “fatos ou documentos que evidenciassem” pagamento de propina a seus funcionários.

Segundo Hage, o trabalho de auditoria da Petrobras foi o “ponto de partida” das investigações, pois a companhia não tem poder de quebra de sigilo ou investigação. Além disso, a estatal teria fornecido documentos e “indícios interessantes” sobre o caso de corrupção. “Até aqui a Petrobras é vítima, e não réu, tanto dos seus agentes internos quanto dos agentes corruptores. É a empresa que está sendo lesada”, completou. Hage ainda afirmou que a CGU não tem outras investigações abertas sobre a estatal.