São Paulo, 16/01/2016 – Líderes de centrais sindicais que atuam em diferentes campos políticos tentam se unir neste início de 2016. Eles marcaram a tradicional manifestação em São Paulo por ocasião da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que decidirá sobre a taxa básica de juros da economia.
O ato será em frente à sede do BC, na Avenida Paulista, na terça-feira, 19, às 10 horas. O desafio é unir grupos que estiveram separados nos últimos tempos. A ideia dos organizadores é que o ato seja um pontapé para começar 2016 com uma maior união das centrais e evitar derrotas trabalhistas como as que ocorreram em 2015 no Congresso Nacional.
Segundo apurou o Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, no entanto, dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) resistem à aproximação com figuras que consideram conservadoras – em especial o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força.
Paulinho, presidente nacional do Solidariedade, reassumiu nesta semana a presidência da Força Sindical, num movimento repentino que surpreendeu os dirigentes da entidade, como informou o Broadcast Político nesta quarta-feira, 13. Ele um dos principais aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e tem sido uma das vozes mais ativas pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso. A CUT está no campo oposto, de defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff.
A volta de Paulinho da Força como dirigente se dá nesse período de recesso do Legislativo, que voltará às atividades em fevereiro e trará novas sessões do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara que podem prejudicar Cunha. O deputado do SD de São Paulo também vê o aliado peemedebista sob risco de afastamento do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Com todo esse impasse, líderes que organizam o evento da próxima semana ainda apostam na possibilidade de superar o passado e unir as entidades pelas pautas trabalhistas. “No ano passado sofremos muitas derrotas com essa questão de uma central apoiar o Cunha, outra apoiar a Dilma, isso está atrapalhando as pautas dos trabalhadores. Este ano é a oportunidade de a gente unificar em uma linha mais firme as nossas demandas e conquistar, novamente, um caminho mais equilibrado”, disse o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, ao Broadcast Político.
“Todo mundo está unido contra crise, contra o desemprego, pela volta do crescimento econômico. Todos sabemos que a tendência dos juros é subir e que isso é um desastre para a economia”, afirmou o vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres. “Já começamos essa reunificação com o ‘Compromisso pelo Desenvolvimento’, em dezembro”, completou.
Torres refere-se ao documento assinado pelas centrais junto a outras associações no ano passado. A declaração foi um manifesto unificado contra a política econômica do então ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Tanto a Força como a UGT e parte da CUT pretendem participar do protesto marcado para esta semana, além de outras entidades sindicais, como a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e as Centrais dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGBT).
Muitos dirigentes da CUT, contudo, estão de férias. Outros, consultados pela reportagem, mostraram clara contrariedade na aproximação com a Força, ainda mais no momento em que Paulinho volta à presidência e “tenta se apresentar como defensor dos trabalhadores”, como relatou um dirigente da CUT sob condição de anonimato.
Em 2015, o deputado do SD foi chamado de “traidor” por sindicalistas ligados à CUT. Paulinho da Força esteve ao lado de Cunha na aprovação do projeto de regularização da terceirização, projeto considerado pela CUT e pela maioria das centrais como um retrocesso dos direitos dos trabalhadores. “Não podemos estar na rua ao lado desse defensor do impeachment e falso dirigente sindical”, comentou a fonte da CUT.
O secretário-geral da entidade, Sérgio Nobre, que articulou a participação da CUT no evento, no entanto, diz que é possível buscar a aproximação e superar o desentendimento com o deputado. “O que nos dá unidade é uma agenda que seja consensual e temos pontos em comum na defesa da mudança da condução da política econômica. Queremos ações que promovam a geração de emprego, a queda dos juros. O documento que entregamos à presidenta em dezembro foi importante nesse sentido”, disse Nobre ao Broadcast Político.
Apesar do discurso otimista de reaproximação das centrais, ele ressalva que 2016 é ano eleitoral nas cidades e que ainda há o processo do impeachment no cenário nacional. Na disputa municipal, é difícil que as centrais não tomem lado. Patah, da UGT, por exemplo, é até pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PSD, do ministro das Cidades, Gilberto Kassab.
Nobre destaca que será importante as centrais saberem separar a defesa da pauta trabalhista das questões eleitorais que dividem as entidades. “O Paulinho é visto por nós como um dirigente partidário. A gente espera que ele continue a gestão do Miguel (Torres), sem partidarizar a Força. Ainda é cedo pra dizer, mas acho que isso pode acontecer. Tenho muita esperança na unidade das centrais. Temos maturidade suficiente pra separar o ano eleitoral da pauta trabalhista”. Torres presidia a Força desde o fim de 2013, quando Paulinho se licenciou. O mandato do deputado vai até agosto de 2017.
Ao reassumir a Força na terça-feira, 12, Paulinho ouviu diversas manifestações internamente, pedindo que a entidade não seja partidarizada. O presidente nacional da Força se comprometeu em separar a atuação como parlamentar e como dirigente sindical.
Para a manifestação da terça, as centrais prometem centrar o discurso nas críticas à alta dos juros, um ponto pacificado entre os sindicalistas. Eles levarão os tradicionais carros de som e bandeiras, além de um dragão inflável de três cabeças. “É um boneco grande, que tem feito sucesso, ele tem 13 metros de altura. As cabeças representam os juros, o desemprego e a inflação”, afirmou Torres, da Força.