A iminência de os reflexos da crise econômica global, sobretudo a que atinge os países europeus, atingir o mercado de trabalho brasileiro já está gerando tensão nas relações entre sindicatos de trabalhadores e o governo da presidente Dilma Rousseff. Mesmo sendo considerada afilhada política de um ex-presidente oriundo do meio sindical e ter herdado a administração de Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes das principais centrais sindicais do País reclamam que as relações entre os representantes dos trabalhadores e o governo federal podem entrar em colapso, em razão da falta de um canal eficiente de comunicação do governo com os trabalhadores.
O reflexo desse descontentamento ficou evidente no cancelamento de duas agendas oficiais nos últimos dias. Na sexta feira (18), a presidente cancelou sua presença na cerimônia de inauguração da unidade José Alencar Gomes da Silva do Campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) devido à presença de professores grevistas que planejavam um protesto. Na segunda-feira (21), Dilma cancelou outra visita, desta vez a Porto Alegre, onde iria inaugurar duas estações de metrô que receberam verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por conta de uma paralisação de metroviários.
Segundo o presidente do Núcleo Sindical do PSDB, maior partido de oposição ao governo federal, Antônio de Sousa Ramalho, a dificuldade em conversar com a presidente Dilma é muito grande. “Quando ela recebe algumas pessoa das centrais (sindicais), ela corta a língua de todo mundo porque só um ou outro pode falar e assim fica muito difícil expor a reivindicação da classe trabalhadora. Deste jeito, é melhor nem ter reunião”, destaca o sindicalista, que também é vice-presidente da Força Sindical. Segundo ele, a pauta empresarial no governo Dilma é muito bem valorizada, já a pauta sindical é bastante tímida.
Os dirigentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, e da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, licenciado da central para disputar as eleições municipais de São Paulo, reclamam que na gestão Dilma foram realizadas apenas três reuniões com as centrais sindicais e que, durante esses encontros, apenas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) teve voz ativa. Procurada, a CUT não quis se pronunciar.
Protestos
Na avaliação de Patah, os protestos, como os que interferiram na agenda presidencial, foram ocasionados principalmente pela falta de interlocução com Dilma. “Se tivesse mais proximidade, tudo poderia ter sido evitado. Por mais duras que sejam essas questões, a boa relação com as centrais poderia evitar tudo isso”, avalia. Patah afirma ainda que no governo do ex-presidente Lula havia reuniões frequentes, até mensais, entre governo e lideranças sindicais. “Isso valorizava nossas demandas”, destaca.
O sindicalista adverte que a piora no cenário econômico pode aumentar as tensões entre governo e sindicatos. “Quando o crescimento econômico está razoável e tem emprego, as coisas são minimizadas. Mas com a crise há possibilidade de as relações esfriarem ainda mais”, diz. Patah lembra que durante a crise econômica de 2008, devido à proximidade de Lula com as centrais sindicais, houve parceria entre governo e sindicatos. “Ele contou com o movimento sindical e a nossa contrapartida foi a manutenção dos empregos nos pacotes econômicos”, diz.
Paulinho e Ramalho também concordam com esta análise. Paulinho reclama da falta de reuniões com o governo. “As reuniões existentes foram apenas para marcar outras reuniões. Nada foi decidido. Isso tem gerado muito desconforto”, afirma.
Segundo o presidente licenciado da Força Sindical, não há ninguém no governo federal apto para negociar com as centrais sindicais. “Precisa ter alguém com quem conversar no governo Dilma”, diz. “Quando o governo indica alguém, essa pessoa não tem poder para resolver os problemas da classe trabalhadora. É por isso que as relações vão se complicando.”