Mesmo em meio a uma batalha contra o mosquito da dengue e do zika vírus, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, manteve um atendimento especial a prefeitos do Piauí, seu Estado de origem, desde que chegou à pasta em outubro. Com pautas sob o título “ações de saúde”, Castro recebeu individualmente 40 prefeitos. Desse total, 26 comandam cidades piauienses. Até um vereador e um deputado estadual tiveram uma audiência exclusiva com o ministro.
Segundo aliados, Castro planeja aproveitar a visibilidade do cargo de ministro da Saúde para retomar o projeto de se tornar governador do Piauí ou buscar uma composição para concorrer ao Senado.
Licenciado da Câmara, ele já foi eleito deputado federal por cinco oportunidades e é o presidente do diretório do PMDB no Estado. Apesar da vontade de permanecer no cargo e a disposição em ouvir pedidos de parlamentares, Castro tem irritado a presidente Dilma Rousseff e outros ministros por causa de suas declarações desastradas.
A última delas ocorreu na sexta-feira retrasada ao apresentar o Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à Microcefalia para gestores e profissionais da saúde em Teresina, capital do Piauí. “Esse mosquito (que transmite a dengue) está convivendo com a gente há pelo menos uns 30 anos e, infelizmente, nós estamos perdendo a batalha para ele”, disse Castro.
Dois dias após a frase, o ministro foi convocado para uma audiência com o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Na conversa, foi pedido a Castro que evitasse dar entrevistas.
O ministro assumiu a pasta da Saúde em outubro, a partir de uma indicação do deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB da Câmara que tem atuado em defesa do governo no Congresso, especialmente quanto à ameaça de impeachment da presidente.
Na terça-feira, o partido saiu em defesa de Castro diante do desgaste que ele vem sofrendo nos últimos dias. O vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB nacionalmente, afirmou que o ministro “merece” continuar à frente da pasta. Temer evitou comentar as declarações recentes do titular da Saúde.
Sinceridade – Presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, o deputado estadual Themístocles Filho (PMDB) foi um dos políticos do Estado que tiveram audiência individual com Castro. “Fui tratar de melhorias para o hospital universitário e para as regionais de saúde”, disse. “Mas o ministro sabe tudo de cor e salteado.”
Themístocles Filho defende a “sinceridade” das declarações de Castro. “Com o jeito sincero dele, ele alertou todo o governo. Rapaz, aqui no Piauí é de um jeito. Brasília é de outro jeito. Ele está se adaptando”, disse ao Estadão. “No Piauí, alguém fala de um jeito e o povo não reclama. Aí, no nível nacional, se o cidadão falar a verdade demais, a pessoa reclama”, afirmou o deputado estadual, que é o presidente do PMDB em Teresina.
Apesar de discordar de uma candidatura de Castro à prefeitura da capital piauiense, ele admite que o atual ministro da Saúde ganhará projeção na pasta para concorrer ao governo ou ao Senado. “Não tenha dúvida nenhuma. É claro que o ministério lhe dá visibilidade. Mas a eleição está muito longe”, disse Themístocles Filho.
Vereador do município piauiense de Água Branca pelo PMDB, Ivon Lendl teve o privilégio de ser recebido em audiência individual com Castro. Ele contou que pediu ao ministro a liberação de recursos para a compra de equipamentos para o Hospital Municipal Senador Dirceu Mendes Arcoverde. Lendl admitiu que já pediu votos para Marcelo Castro na cidade.
Argumento – A assessoria de imprensa do ministro da Saúde nega que Castro tenha priorizado o atendimento a prefeitos do Piauí e usa como argumento o total de audiências em vez de comparar com a quantidade de outros com prefeitos.
“As agendas com representantes do Estado representam 3,8% do total da audiências”, diz a assessoria. Em relação à pauta das audiências, o Ministérios afirma que “os assuntos tratados são os mais diversos tendo em vista a própria diversidade da saúde”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.