O caseiro Rogério Pires, que trabalhava no sítio onde o coronel da reserva do Exército Paulo Malhães morava, na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, confessou ter participado do assalto que terminou com a morte do militar, na última quinta-feira. Rogério entregou os próprios irmãos Anderson e Rodrigo, que seriam os mentores do crime.
De acordo com os delegados responsáveis pelo caso, a intenção do trio era roubar armas e bens do oficial. A morte teria sido acidental. Malhães confessou ter participado de torturas de presos políticos durante a ditadura militar brasileira (1964-85). O crime vinha sendo planejado desde o início de março. Rogério conhecia bem a rotina da família porque trabalhou no sítio de Malhães por sete anos e regressou há um mês e meio.
Os irmãos tentaram alterar a cena do crime para esconder o envolvimento do caseiro. O caseiro acompanhou nesta terça-feira os policiais em diversos locais onde os irmãos – que trabalham como pedreiros – poderiam estar, mas ninguém foi encontrado. O caseiro chegou rindo à Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Inicialmente, Rogério disse ter sido feito refém pelos criminosos. Ele, no entanto, deu diferentes versões sobre o local em que teria sido mantido durante o assalto – ora afirmava que ficou isolado no quarto, ora contava que estava na sala. Outro indício que chamou a atenção dos policiais foi que um dos cachorros do sítio, extremamente feroz, não estranhou a presença dos assaltantes. “O plano era subtrair bens. Ainda apuramos se a morte foi acidental. A investigação está bem encaminhada para latrocínio”, afirmou o delegado-titular da DHBF, Pedro Henrique Medina.
À polícia, Rogério disse que gostava do coronel e não tinha a intenção de matar o militar, que o teria ajudado em outras oportunidades. “Ele demonstra arrependimento quando fala da morte do coronel”, disse o delegado responsável pelo caso, William Pena Júnior. De acordo com o delegado Medina, o quarto homem que participou do latrocínio e usava um capuz ainda não foi identificado. Rogério afirmou que não recebeu nada pela participação no crime – o dinheiro pela venda das armas só seria dividido depois que os bens fossem vendidos. Medina não descartou a hipótese de que alguém da família tenha colaborado com o crime. No entanto, Pena Júnior afirmou que “inicialmente não há envolvimento da família no caso”.
O delegado-substituto Marcos Castro afirmou que hipótese de homicídio por vingança ou queima de arquivo não foram descartadas, apesar de haver poucos indícios. “Não encontramos nenhum registro de ocorrência de ameaça ou qualquer tipo de violência da parte dele. Ninguém nega o que o coronel praticou no passado, mas não tenho nenhum dado concreto que me faça avançar nessa linha (homicídio por vingança)”.
A viúva Cristina Batista Malhães e familiares dos três irmãos estiveram hoje na DHBF para depoimento. Os mandados de prisão de Rodrigo e Anderson já foram expedidos e eles são considerados foragidos da Justiça. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, disse que a CNV não tem um posicionamento fechado sobre as circunstâncias da morte de Malhães e não se propõe a comentar as investigações. “Não temos uma opinião sobre o que ocorreu. Estamos na expectativa de que sejam apresentadas as conclusões da investigação. O que queremos é que não se afaste a hipótese de que ele tenha morrido em decorrência do depoimento à CNV (em março)”.
“Não temos motivos para desconfiar da polícia do Rio, que considera, a princípio, se tratar de um crime comum. Achamos o caso suspeitíssimo, mas não cabe fazer juízo de valor nesse momento. A morte de Juscelino Kubitschek também era e foi só um acidente”, ponderou o integrante da CNV José Paulo Cacalcanti.