Mulher e sócia do marqueteiro João Santana, Mônica Moura afirmou aos investigadores da Operação Lava Jato que houve caixa 2 na campanha eleitoral de 2008 da petista Gleisi Hoffmann, quando ela disputou a prefeitura de Curitiba, e que a hoje senadora pelo Paraná tinha pleno conhecimento disso. Mônica Moura cita mais de R$ 4 milhões não declarados à Justiça Eleitoral e aponta Paulo Bernardo, marido da senadora e ex-ministro das gestões petistas, como o responsável pelas negociações.
Para tentar comprovar seu relato, Mônica Moura apresentou aos investigadores duas agendas pessoais com anotações como “café com Gleisi Hoffmann” e “reunião com Paulo Bernardo”. Naquele ano de 2008, Paulo Bernardo era ministro do Planejamento; Gleisi ainda não exercia mandato eletivo.
“A futura senadora tinha plena ciência de que seu marido exigiu que parte dos valores da campanha fosse paga por fora, pois, em momentos de atrasos de pagamento, Mônica Moura comentava com Gleisi Hoffmann e ela respondia que iria falar com Paulo”, registrou o Ministério Público Federal (MPF), com base nas delações.
João Santana também confirmou o caixa 2 na campanha da então candidata do PT aos membros do MPF, embora haja menos detalhes no relato do marqueteiro. O conteúdo das delações do casal ganhou publicidade nesta quinta-feira (11), por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.
Papel de Palocci
O casal de marqueteiros relatou ao MPF que, no ano de 2008, foi o então deputado federal Antonio Palocci, hoje preso na Lava Jato, quem pediu apoio no marketing da campanha de Gleisi à prefeitura da capital paranaense. Naquela ocasião, João Santana já havia se responsabilizado pela campanha eleitoral à prefeitura de São Paulo de Marta Suplicy (hoje senadora pelo PMDB) e não desejava assumir o marketing de mais uma candidatura. Teria sido convencido pela insistência de Palocci e também de Paulo Bernardo.
“João Santana relutou muito no início em aceitar a campanha porque, além de Gleisi não ter chances de vitória, ele já estava comprometido com outra campanha grande e difícil, a de Marta Suplicy. As dificuldades de Gleisi eram tão notórias que ela própria e Paulo Bernardo viam a campanha municipal mais como um degrau para candidatura, no futuro, ao Senado, que se concretizou”, anotou o MPF.
Quando finalmente João Santana aceitou cuidar do marketing de Gleisi, Mônica Moura “teve vários encontros” com Paulo Bernardo para negociar o valor e a forma de pagamento. “Como sempre ocorria, Paulo Bernardo exigiu que Mônica Moura recebesse parte do valor total da campanha por fora”, apontou o MPF. Segundo Mônica Moura, o custo do trabalho foi de R$ 6 milhões. Do total, R$ 1,375 milhão foi pago de forma oficial, com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O restante, via caixa 2.
Além disso, parte do pagamento não oficial teria demorado a sair e a dívida foi posteriormente assumida por Palocci, segundo o casal de marqueteiros. “Por diversas vezes João Santana acompanhou Mônica Moura na cobrança de atrasos a Paulo Bernardo e, em uma delas, Paulo Bernardo disse, com o assentimento de Gleisi, que também estava presente, que Palocci iria assumir uma dívida de 1,5 milhão”, registrou o MPF.