A diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta, vendeu pessoalmente para o ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (PMDB) e sua mulher Adriana Ancelmo, presos pela Operação Calicute, 20 joias que somaram R$ 6 milhões entre 2012 e 2015. O casal, no entanto, comprou outros 20 itens da loja, num total de 40 peças. O valor total não foi informado.
A executiva teve a delação premiada homologada na manhã desta sexta, 17, pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Ela foi ouvida em audiência no período da tarde, apesar do protesto dos advogados da defesa do casal. Inicialmente, ela seria testemunha.
A peça mais cara vendida a Adriana foi um brinco de brilhantes solitários de R$ 1,8 milhão. O conjunto foi comprado como uma troca de outra peça de R$ 1,2 milhão, com a complementação dos R$ 600 mil. A diretora citou ainda a compra de um anel de rubi de R$ 600 mil e um brinco de R$ 25 mil.
A diretora disse ainda que Cabral chegou a ser atendido uma vez no Palácio Guanabara, quando ainda era governador. Os agendamentos eram feitos pelo assessor Pedro Ramos. Em outras oportunidades, Maria Luiza foi ao apartamento do casal, ao escritório de Adriana Ancelmo ou em um escritório de Cabral, no Leblon. A ex-primeira-dama também frequentava a loja de Ipanema, na zona sul do Rio.
Maria Luiza afirmou que Adriana pagava em cheque ou dinheiro. Os cheques eram trocados antes de serem descontadas pelo pagamento em espécie. O parcelamento ocorria em até dez vezes.
A ex-primeira dama comprava algumas peças com nota fiscal, enquanto Cabral não, disse. “Para ele, não foram emitidas notas, ele deixava claro que gostaria de deixar sem identificação, queria uma coisa mais ‘discreta'”, afirmou.
Maria Luiza, que trabalha desde 82 na joalheria, vendeu nove itens para Cabral e 11 para Adriana. Apenas quatro peças compradas pela primeira-dama tiveram nota emitida.
A executiva declarou que as joias eram entregues com certificados aos dois clientes e, depois da Operação Calicute ser deflagrada, a H.Stern gerou segundas vias delas.
“Foram tiradas do sistema agora”, disse. Ela afirmou que, apesar de não terem sido emitidas as notas à época, há documentos de todas as vendas, que seriam registros em computador.
Segundo a diretora, Cabral pediu que o pagamento de uma joia fosse feito no exterior, na Alemanha. “Ele pediu para pagar uma compra no exterior, mas eu disse que não sabia se seria possível. Perguntei na matriz e tive a resposta (positiva). Voltei na casa dele com o número da conta para fazer o pagamento, foi feito na Alemanha”, disse.
Maria Luiza vendeu apenas joias femininas a Cabral. Ele disse acreditar que eram para Adriana, porque eram compradas em datas comemorativas e, posteriormente, viu ex-primeira dama do Estado usando-as.
Defesa
A H. Stern foi procurada pela reportagem, mas avisou que não vai ser pronunciar. A defesa de Cabral pediu que o MPF faça uma investigação do débito fiscal da joalheria.
A defesa da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo criticou o fato de a diretora comercial da joalheria ter sido ouvida nesta sexta-feira como delatora num dos processos que investigam a corrupção no governo do Estado do Rio sob a gestão Sergio Cabral (PMDB). Maria Luiza deporia ao juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas, na condição de testemunha de acusação, mas assinou um acordo de colaboração, formalizado ontem à noite, e, depois, homologado por Bretas.
“Nós vamos até as últimas instâncias contra isso. Uma pessoa que era testemunha vem na condição de delatora. Isso fere o Código de Processo Penal e a Constituição. A defesa rebate as acusações feitas. Testemunha é imparcial, delator acusa. No depoimento que ela prestou à Polícia Federal, ela não falou nada disso. Aqui, chegou com vários números”, disse o advogado Alexandre Lopes à GloboNews.
Adriana, casada com o ex-governador Sergio Cabral, réu em seis processos da Lava Jato, por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro, pertencimento a organização criminosa e evasão de divisas, é acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O advogado reafirmou que a ex-primeira-dama nega ter cometido os crimes.
Sobre as informações declaradas por Maria Luiza Trotta, o advogado disse que a diretora “titubeou” e “se equivocou”, e que sua cliente só comprou joias mediante recebimento de nota fiscal. “Quem garante que as joias foram mesmo vendidas a eles?”