Criada pelo então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos em 2003, no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a Secretaria de Reforma do Judiciário (SRJ) deve ser extinta na esteira do ajuste fiscal.

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Segundo o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a decisão ainda não foi tomada. No entanto, os funcionários da SRJ já foram informados há cerca de duas semanas de que a extinção havia sido encaminhada para o Ministério do Planejamento, responsável por gerenciar os cortes de gastos.

Segundo Cardozo, caso a extinção seja confirmada, as funções da SRJ serão incorporadas pela Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), que pode mudar de nome. “Vamos extinguir cargos de acordo com a determinação da presidente. Estamos estudando a melhor forma de racionalizar a administração e nenhuma função deixará de ser realizada”, disse o ministro.

Por determinação da presidente Dilma Rousseff, todos ministérios terão de cortar 10% dos cargos comissionados até o final do ano para se adequarem ao ajuste fiscal do governo.

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Disputa

Funcionários do Ministério da Justiça enxergam na escolha da SRJ mais um lance na queda de braço entre Cardozo e Lula. A secretaria era considerada a “menina dos olhos” e a principal marca do ex-presidente na área da Justiça. No ano passado, durante homenagem a Thomaz Bastos, o ex-presidente incluiu a criação da SRJ entre suas grandes realizações. “Márcio compreendia também que a tarefa de reformar o Judiciário é permanente. Essa tarefa se estendeu aos seus sucessores no Ministério da Justiça sobre a base constituída dez anos atrás, graças à Emenda 45 e à permanência da Secretaria da Reforma do Judiciário”, disse Lula, ao lado de Cardozo.

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Cerca de dez dias atrás o ministro e o ex-presidente se reuniram em São Paulo para selar um armistício. Lula estava incomodado com as ações da Polícia Federal contra seu filho caçula, Luís Cláudio, investigado na Operação Zelotes e acusava Cardozo em conversas reservadas de não ter controle sobre a corporação. O ministro argumentou que durante o próprio governo Lula a PF fez busca e apreensão na casa de um dos irmãos do ex-presidente, Vavá, suspeito de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis no Mato Grosso do Sul.

Por outro lado, pessoas próximas a Cardozo argumentam que a SRJ foi escolhida por ser a menor estrutura do Ministério e por ter, com o passar do tempo, se transformado em uma espécie de “secretaria de assuntos do Judiciário”, se desviando de suas funções originais.

Ao longo dos últimos 12 anos a SRJ foi responsável pela criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho Nacional do Ministério Publico (CNMP) e pela aprovação da emenda constitucional 45, cujo objetivo era “abrir a caixa preta” do Judiciário. Na época a medida sofreu forte resistência por parte dos magistrados, que viam na medida uma interferência indevida do Executivo sobre o Judiciário. O então presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Correa, classificou a ideia como uma “excrescência” e um “despautério”.

A SRJ foi responsável ainda por uma série de medidas que ajudaram a reduzir o número de ações nos tribunais e agilizar o andamento dos processos, como a adoção de meios eletrônicos, o incentivo à mediação prévia de conflitos e a regulação extrajudicial do divórcio. Os defensores da SRJ citam também como exemplo mais recente da importância do órgão a aprovação das leis que regulamentam mediações e arbitragem e o novo Código de Processo Civil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.