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Candidatura de Dória incendiou PSDB

No início de fevereiro, aliados do então governador Geraldo Alckmin (PSDB) acreditavam que o tucano estava em vias de dar um “xeque mate” no prefeito João Doria (PSDB). A próxima reunião da executiva do partido, presidido por Alckmin, definiria a data das prévias estaduais.

Doria queria que a disputa interna para definir o candidato ao Palácio dos Bandeirantes fosse no dia 4 de março. Dessa forma, poderia concorrer sem deixar o cargo. Já o entorno de Alckmin pregava que a definição ocorresse em abril, depois do prazo de desincompatibilização.

Naquele momento, o nome preferido do governador para disputar sua sucessão era o do vice, Márcio França (PSB). Diante do impasse, um dos mais próximos auxiliares de Doria à época informou à Executiva Nacional tucana que a tentativa de enquadrá-lo seria inócua: o ex-prefeito iria para as prévias mesmo sem a “rede de proteção” da Prefeitura.

Alckmin optou por evitar um confronto aberto com seu “afilhado” político e acabou marcando a disputa interna paulista para o dia 18 de março. No bastidores do governo, a avaliação era de que “o jogo ainda não estava jogado”. Bastaria um gesto concreto de Alckmin para que o PSDB apoiasse França e montasse um palanque único da base no Estado.

Foi um erro de avaliação. Com o apoio decisivo do vice, Bruno Covas (PSDB), que tem grande influência na máquina partidária do PSDB paulista, Doria conseguiu unir deputados e lideranças tucanas em torno de uma bandeira: combater a opção “França”.

“Foi uma campanha que nasceu de fora para dentro. Houve manifestação de todos os deputados que não concordavam que Márcio França fosse o candidato apoiado pelo PSDB”, disse Doria ao jornal O Estado de S. Paulo.

“Quando percebemos que íamos perder o governo para o PSB, fizemos um movimento rápido. Doria tinha uma retaguarda, que era o Bruno Covas”, conta o deputado federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), um dos primeiros a se alinhar ao projeto do prefeito.

Fiel ao estilo de “jogar parado”, Alckmin não agiu para conter o movimento. A bala de prata no projeto de uma candidatura única foi a decisão do PSB nacional de vetar o apoio à candidatura presidencial do governador. Doria ganhou a narrativa que precisava para incendiar o partido.

No dia 18 de março, o prefeito venceu em primeiro turno as prévias do PSDB estadual com 10.225 votos – 80,45% dos quase 13 mil votos válidos. O resultado deu uma dimensão do controle que Doria tinha sobre a máquina do partido, que via nele uma “tábua de salvação”.

‘Bolsodoria’

Às vésperas do início do horário eleitoral na TV, o mundo político apostava que a desconstrução do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) seria uma questão de tempo. Havia farta munição para ser usada contra o candidato, que teria apenas um comercial de 30 segundos a cada 4 dias para se defender.

Escolhidos para comandar a comunicação de Doria, os marqueteiros Nelson Biondi e André Gomes já discordavam dessa análise muito antes do atentado contra Bolsonaro. “É o voto da indignação. Bolsonaro não vai desidratar. Ele é fruto de outra coisa que está acontecendo. É o que melhor se posicionou nas redes sociais. Os eleitores dele dificilmente migrarão”, disse Biondi ao Estado de S. Paulo no dia 27 de agosto.

O voto “Bolsodoria” já era uma realidade no mapa estratégico da campanha, que escondeu Geraldo Alckmin e o PSDB nos comerciais. Em conversas reservadas, os mais próximos interlocutores de Doria dizem que essa “precaução” foi determinante para evitar que o ex-prefeito fosse tragado pelo “tsunami” Bolsonaro.

“Quando se afastou da velha guarda do PSDB, Doria abriu um novo caminho no partido. O PSDB carrega um ônus. Tem um desgaste de 24 anos”, disse o deputado Guilherme Mussi, presidente do PP paulista e aliado do ex-prefeito. Segundo ele, a “migração” automática para Bolsonaro no 2.° turno foi “natural”. “Não foi oportunismo. As bases cobraram isso”, afirmou Mussi.

Mea-culpa

Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, Doria apareceu na primeira colocação, com 20%. Mas ele também liderava no quesito rejeição: 35% dos paulistas diziam que não votariam no ex-prefeito de jeito nenhum. Para comparação, em 30 de julho de 2014 Alckmin tinha 50% das intenções de voto na pesquisa Ibope para o governo do Estado.

As pesquisas internas apontavam que a raiz da rejeição estava na saída precoce da Prefeitura. O “antídoto” foi gravar logo no primeiro programa um mea-culpa que seria repetido por toda a campanha. “Reconheço que alguns de vocês estão chateados comigo. Eu respeito”, disse Doria.

No planejamento estratégico da campanha, o primeiro passo foi dar um discurso para quem vota no Doria não “passar vergonha” na conversa do bar. Biondi aplicou a teoria do copo meio cheio: se a rejeição é menor que 50%, então tem mais gente disposta a votar no tucano.

Como ocorreu na campanha à Prefeitura em 2016, Doria montou uma estrutura profissional e amarrou os candidatos a deputado da coligação ao seu projeto, ao padronizar os materiais e oferecer a eles um “combo”, com direito a assessoria jurídica, santinhos e gravação de vídeo para o horário eleitoral.

Enquanto Alckmin agonizava nas pesquisas nacionais na reta final da disputa do primeiro turno e via os aliados traindo sua candidatura abertamente nos Estados, Doria manteve uma distância regulamentar do “padrinho”.

Apesar de participar de algumas agendas conjuntas, o ex-prefeito optou por manter estruturas separadas. No dia da votação do primeiro turno, a campanha de Doria já estava preparada para anunciar o “apoio” a Bolsonaro, que, imaginavam, seria disputado com o então candidato do MDB, Paulo Skaf, no segundo turno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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