Eduardo Henrique Accioly Campos acalentava o sonho de quebrar a polarização entre o PT de Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio Neves sem criticar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora sua candidatura ao Palácio do Planalto estivesse estagnada nas pesquisas, o ex-governador de Pernambuco apostava no início da propaganda eleitoral na TV, na terça-feira, 19, para alcançar a marca de 15% das intenções de voto e se mostrar competitivo na disputa.

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Campos tinha pressa. “Mas não me peçam para falar mal do Lula, que não vou”, dizia, em resposta à pressão de correligionários para atacar o petista. “Gosto do Lula e nunca neguei isso em canto nenhum.”

Na manhã de quarta-feira, 13, Lula gravava para o programa de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, quando soube do acidente aéreo que matou Campos. Não conteve a tristeza e chorou. Por uma trágica coincidência, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, chamado de Dudu pelos mais próximos, teve a trajetória interrompida no mesmo dia da morte do avô, Miguel Arraes, seu mentor político, que morreu em 13 de agosto de 2005.

Economista, herdeiro político de Arraes, presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco por dois mandatos (de 2007 a 2014), Campos renunciou em abril para se dedicar à campanha nacional, após selar a surpreendente aliança com a ex-ministra Marina Silva.

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Sem berro

Dilma e Lula bem que tentaram demovê-lo da ideia de romper com o governo petista, mas não obtiveram sucesso. “Eu não quero briga, mas tenho natureza”, afirmava Campos. Em conversas reservadas, dizia resistir firme e calado à ofensiva do PT para minar o plano presidencial. “O bom cabrito não berra”, brincava.

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Uma série de petistas procurou Campos para falar sobre seu futuro político, como o então governador de Sergipe, Marcelo Déda, morto em dezembro, vítima de câncer. Lula também tentou. Tamanha proximidade entre o ex-presidente e o neto de Arraes chegava a provocar ciúmes no PT.

Em janeiro de 2013, Dilma chamou o então governador para uma conversa na Base Naval de Aratu, em Salvador, onde passava férias. Pediu apoio à sua candidatura à reeleição e sugeriu que ele poderia ser o vice na chapa. O pernambucano nada falou. A tática de ficar em silêncio quando não queria dizer “não” fora herdada de Arraes.

Dilma percebeu que a proposta não ia vingar. Oito meses depois daquele diálogo, Campos entregou os cargos que o PSB mantinha no governo.

Nem o argumento de que o PT poderia apoiá-lo numa candidatura ao Planalto em 2018 convencia o governador a mudar de ideia. Campos tinha pressa. Não queria ser vice e tampouco acreditava nas promessas do PT. “Eu lá sou homem de ser vice? Sou um fura gol”, respondia a amigos, numa referência ao handebol, esporte que praticou na juventude, quando era questionado sobre o assunto.

O líder PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), foi um dos que ouviram as queixas do ex-governador em relação ao PT. “Falávamos que ninguém estaria vivo politicamente em 2018 se não participasse da disputa de 2014”, disse Albuquerque.

Nos últimos tempos, Campos vinha sofrendo pressão dos presidentes estaduais do PSB, como o paulista Márcio França, o mineiro Júlio Delgado e o catarinense Paulo Bornhausen, para que começasse a atacar Lula e para que não acatasse tudo o que Marina falava sobre o agronegócio. O candidato ao Planalto não aceitou.

Apesar de divergências com Marina, Campos defendia sua vice. Foi assim na sabatina da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), no dia 6, quando chamou a atenção dos empresários do agronegócio para o respeito ao meio ambiente, e na entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite de terça-feira, 12, ao lembrar que ficara ao lado da ex-ministra na votação do Código Florestal.

Pragmático

Aos 49 anos, pai de cinco filhos e casado com a economista Renata Campos – sobrinha do escritor Ariano Suassuna, morto há 16 dias -, Campos era visto pelos adversários como um homem duro e pragmático.

Em 2011, fez campanha para eleger a mãe, Ana Arraes, ministra no Tribunal de Contas da União (TCU), mas não considerava a prática como “nepotismo”. Ao Jornal Nacional, disse que só havia torcido por ela e respondeu apenas “não” ao ser questionado se não via nada de errado na indicação da mãe.

Foi Ana quem fez o café, na casa do Recife, quando Lula visitou Arraes na volta do exílio, em 1979. Campos tinha 13 anos quando viu o líder sindical pela primeira vez. A mãe contou que os olhos do filho brilhavam. “Minha avó paterna, Maria Benigna, disse assim: ‘Minha filha, prepare-se! Você vai ter a mesma sina que eu: ser mãe de político’.”

Campos chamava o avô materno de “Doutor Arraes”. Além de deputado estadual e federal, ele foi secretário de Arraes no governo de Pernambuco. No comando da Secretaria da Fazenda, em 1996, teve o nome envolvido no escândalo dos precatórios. Dois anos depois, foi reeleito deputado e virou líder do PSB na Câmara. Foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal em 2003 e, no ano seguinte, Lula o chamou para o Ministério da Ciência e Tecnologia.

Em 2005, veio o escândalo do mensalão. “Doutor Arraes, os meninos do PT estão querendo aprovar a CPI dos Correios”, avisou Campos ao avô-conselheiro. Arraes, então deputado, previu um desfecho trágico para o Planalto. “Doutor Eduardo, esses meninos do PT têm a mão muito lisa para segurar touro bravo”, respondeu. “Fique esperto!”

Campos tinha pressa. Ainda no ministério, atuava na articulação do governo Lula, mas já sonhava em construir, no futuro, uma terceira via na política. Um sonho que resumia assim: “Damos a seta para a direita, mas ultrapassamos pela esquerda.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.