Enquanto o presidente Lula navega em altos índices de popularidade e é considerado um dos administradores com maior êxito na história do País, o candidato do PSTU à presidência da República, Zé Maria, tem uma porção de críticas a fazer.
Sempre sob a perspectiva socialista. Para ele, Lula não é o cara da classe trabalhadora. Confira as ideias do candidato nesta entrevista concedida ontem a O Estado, em Curitiba.
Que avaliação o senhor faz dos oito anos de governo Lula?
Zé Maria – Não achamos que o que aí está sirva para a classe trabalhadora brasileira. A esperança que a população tinha e, até ainda tem, de mudança na prioridade do governo do Brasil, não houve.
O Estado –
Ele busca passar uma ideia de que tudo o que o governo dele faz é pensando nos trabalhadores. Mas a prioridade das políticas econômicas que ele embalou por esses oito anos continua a ser o interesse dos bancos das grandes empresas e do agronegócio.
Aumentou em 57% o salário mínimo (nunca antes na história desse país), mas não cumpriu a promessa de dobrar o salário mínimo em quatro anos. Agora o lucro das grandes empresas aumentou 400%, dos bancos, 500% em média.
Sinal que a prioridade não era o salário mínimo. O Bolsa Família, onde o Lula se apoia, como programa mais importante do governo, recebeu R$ 11 bilhões por ano.
Os banqueiros, com juros e ajustes da dívida interna e externa, receberam R$ 380 bilhões. Por que não se inverte? Porque a prioridade não é a parcela mais pobre da população. A opção que ele fez para chegar à presidência teve esse custo.
OE – O PT sustenta que essa foi a alternativa encontrada para se ter governabilidade.
ZM – Não. Isso é uma escolha que o Lula e o PT fizeram e que custou muito caro para a população brasileira. Vivemos num país muito rico e não há como você explicar as contradições e a dificuldade em que vive uma parcela enorme da população brasileira se você olha a quantidade de riquezas que o país possui.
Vivemos em um país em que todos os recursos naturais que o país tem fica com o dono da fábrica, do banco, das terras, por isso vivemos nessa situação: o país cada vez mais rico, mas gente sem saúde, sem trabalho, sem educação.
O Lula poderia ter feito outra opção. Não é verdade que a única forma para governar o Brasil é em aliança com o José Sarney, com o Fernando Collor ou com o Renan Calheiros.
Obviamente que não vai haver nenhuma mudança no Brasil se depender deles. O Lula, com a autoridade que tem sobre a classe trabalhadora brasileira e com a capilaridade que o PT tem nos movimentos sociais, poderiam ter feito uma outra opção. Por que não chamar o povo para a rua para promover as mudanças que a sociedade precisa?
OE – Por que a esquerda socialista enfrenta tanta dificuldade de conquistar espaço no país, mesmo num momento mais favorável que há oito anos?
ZM – Há uma limitação de conjuntura. O povo brasileiro é muito generoso. Há uma comparação que as pessoas sempre fazem de como é sua vida agora com como era antes.
E como o Brasil teve um crescimento econômico nesse período, permitiu ao governo Lula melhorar, de forma muito limitada, mas melhorar alguma coisa na vida da parcela mais pobre da população.
Ao fazer essa comparação, as pessoas acham que é melhor ficar como está para não piorar. Isso aliado à autoridade do Lula sobre a classe trabalhadora brasileira, à cooptação das entidades sindicais, que se transformaram estruturas de apoio ao ,governo.
Mas a comparação que queremos é entre o que o país pode dar e o que está dando. Porque ninguém passa fome no Brasil porque falta alimento, é porque se prioriza o lucro. Sofremos, também, o bloqueio da mídia.
Vamos ter uma parcela grande da população que vai votar em 3 de outubro achando que só tem a Dilma, o Serra e a Marina como candidatos. Nem tomaram conhecimento das outras seis candidaturas. As três candidaturas que são mostradas para todo o país defendem a manutenção do mesmo modelo econômico
OE – Mas em 2006, com Heloísa Helena (PSOL) vocês não tinham conseguido, de certa forma, romper essa barreira?
ZM – A conjuntura naquele momento era outra. O Lula tinha menos influência que agora, pois vinha do mensalão. E nós conseguimos uma coisa que não conseguimos agora, a união dos três partidos PSTU, PSOL e PCB numa candidatura só.
O que tentamos para este ano, mas não conseguimos porque o PCB precisava lançar uma candidatura própria e faltou acordo sobre o programa e o financiamento de campanha com o Psol, que no final do ano passado tentou uma aliança com a Marina, que defende o mesmo modelo econômico do Fernando Henrique. E naquele ano, tinha a pessoa da Heloísa Helena, uma personalidade acima dos outros quadros do PSTU e do PSOL, era um diferencial.
OE – E qual a proposta econômica do PSTU?
ZM – Fazer com que o que há de riqueza no País esteja a serviço de atender ás necessidade do povo. Pois somos grandes produtores de alimentos, de minério e petróleo.
Por isso achamos necessário estatizar ou reestatizar todas as empresas que atuam nessa área, como a Vale do Rio Doce. Para que a exploração seja de forma sustentável e para que o lucro fique com a sociedade brasileira.
Neste mesmo sentido, estatizar todas as grandes empresas, para garantir bons salários, condições de trabalho, aumento de empregos e manutenção das riquezas no País, já que todos os grandes grupos econômicos do país se apoiam no Estado para sustentar seus negócios.
Estatizar também os bancos e o sistema financeiro, para que os lucros da especulação financeira seja investidos em infra-estrutura. E, por último, libertar o Brasil do capital estrangeiro.
OE – No modelo político atual, se eleito o senhor teria condições de implantar o socialismo no País?
ZM – Se temos a possibilidade de fazer esse debate com a população e ela concordar conosco, criaríamos um ambiente de participação popular que nos daria força política para realizar essas mudanças.
Não temos nenhuma ilusão de que dialogando com Sarney, com Collor, com esse Congresso que está aí, teríamos apoio. Essas mudanças têm que partir da população brasileira, que a medida que tome consciência dessa necessidade, vai se dispor a lutar com o governo.
Trabalhamos para fazer esse diálogo e convencer uma parcela cada vez maior da população. Mas não temos dúvida que um governo, num país como o nosso, tem muita força, e se eu chego a ser eleito, é porque a população compreendeu nossas propostas e estará disposta a participar de um processo de mobilização social para fazer a transformação.
E o Lula e o PT teriam condições de ter feito isso já. Poderiam ter chamado a responsabilidade para si para lutar pelas transformações que o Brasil precisa e buscar o apoio da população.
Mas eles fizeram uma opção de acordo com o empresariado e os bancos, transformando o PT em mais um dos partidos tradicionais desse país, deixando de lado o sonho que embalou a luta da classe trabalhadora brasileira.
O PSTU se apresenta para isso, para resgatar esse sonho de que a classe trabalhadora pode sim ser governo nesse país e pode realizar as transformações que o Brasil precisa.
OE – E num eventual segundo turno entre Dilma e Serra, qual a posição do PSTU?
ZM – É voto nulo. Compreendemos a preocupação da sociedade brasileira com a volta da direita ao Poder, com o retorno do PSDB. Mas como a D,ilma representa o mesmo modelo econômico, se não tiver, no segundo turno, um candidato da esquerda socialista, votaremos nulo.