Pelo poder no Ministério Público do Estado de São Paulo, o procurador Luiz Marrey, ex-secretário de Justiça do governo José Serra (PSDB), partiu para o ataque ao procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa. Em carta a todos os promotores paulistas, no último dia 30, Marrey atribui a seu oponente “fraqueza de liderança” e “falta de iniciativas eficazes na defesa da instituição”.
Foi o primeiro movimento no tenso xadrez eleitoral que marca a disputa pelo topo do Ministério Público, ora ocupado por Elias Rosa, que almeja a recondução. O pleito está marcado para 5 de abril, mas o gesto do aliado de Serra precipitou a campanha pela cadeira número 1 da procuradoria.
Elias Rosa reagiu, também com uma correspondência a todos os seus pares. “Liderança e autoridade não se confundem com agressividade, autoritarismo e sujeições a ambições exclusivamente pessoais ou a projetos próprios de poder.” Ele avalia que Marrey é movido por uma “incontida ambição política e que, distante da realidade, descreve um imaginário e amesquinhado Ministério Público”.
Nomeado em 2012 pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), Elias Rosa propõe que o debate fique restrito a ideias e programas para valorizar o Ministério Público. Destaca que respeita “opiniões críticas”, mas repudia “prática política ultrapassada e incapaz de representar o fortalecimento da instituição e de seus membros”.
Marrey – que também ocupou o posto de secretário municipal de Negócios Jurídicos da Prefeitura no governo Serra/Gilberto Kassab (PSD) -, ganhou popularidade interna no início dos anos 90 ao conduzir oposição à polêmica “república dos promotores” – profissionais do Ministério Público que atuaram nas administrações Orestes Quércia (1987-1991) e Fleury Filho (19991-1994).
Mandato
Antes de integrar o núcleo de confiança de Serra e Kassab, ele exerceu em três oportunidades o cargo que agora pretende retomar. Escolhido duas vezes por Mário Covas (PSDB) e uma por Alckmin, Marrey dirigiu o Ministério Público durante 6 anos – o mandato de procurador-geral é de dois anos.
Depois desse período, Marrey declarou, e inúmeras vezes reiterou, que não tornaria a concorrer ao posto de mandatário máximo da promotoria. Nos bastidores do Ministério Público comenta-se que ele acabou cedendo a apelos de serristas e kassabistas que estariam receosos ante investigações deflagradas na gestão Elias Rosa – apurações que apontam para supostos crimes e improbidade no governo Kassab e rastreiam o cartel metroferroviário entre 1998 e 2008 (governos Covas, Serra e Alckmin). Marrey afirma que decidiu tentar a volta exclusivamente por insistência de colegas e afirma ser independente.
Na carta, ele sustenta que a administração de seu rival “padece por excesso de burocracia” e “por falta de liderança real e ativa, apesar do trabalho dedicado de seus integrantes, a instituição vem perdendo espaço e reconhecimento”.
Cobra uma “agenda institucional clara para a sociedade, baseada no combate à violência e à corrupção”. Marrey fala em “perda do protagonismo institucional, pela ausência na discussão pública dos principais temas de justiça e cidadania”.
Elias Rosa tem recebido manifestações de apoio que lhe conferem méritos pela construção de um Ministério Público fortalecido a partir da reação contra a PEC 37, que excluía da instituição o poder de investigação no âmbito criminal.
O procurador-geral crava que a era Marrey levou ao “imobilismo na carreira, à geração de passivos, à quebra da paridade remuneratória entre ativos, aposentados e pensionistas”. Elias Rosa alerta que o Ministério Público “já vivenciou graves confrontações internas, de divisão, de cizânia e de prática rotineira do sectarismo, que é típico de outros ambientes políticos”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.