O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), escolheu ao menos duas linhas de atuação para tentar transformar o discurso crítico à política econômica do governo federal em trunfo para se viabilizar como uma alternativa na sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2014. A primeira visa desmontar a tese de que o perfil gerencial de Dilma facilitaria o crescimento do País e a segunda é apostar na expectativa de crescimento baixo da economia brasileira para se posicionar como candidato a presidente.

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“Quando economia anda bem, é difícil se colocar como uma alternativa eleitoral. Mas os números disponíveis estão muito ruins”, afirmou o presidente estadual do PSB paulista, deputado federal Márcio França. “Se a expectativa da economia está baixa agora é porque a economia vai continuar mal no próximo ano”, avaliou.

Aos poucos, Campos amplia as críticas ao perfil de boa gestora de Dilma. Esse viés gerencial foi utilizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para elegê-la sua sucessora, em 2010, sem que ela tivesse disputado uma única eleição antes. No último dia 26 de agosto, em reunião fechada em São Paulo, o governador falou que Dilma Rousseff não é a líder que aponta caminhos para o País.

No dia seguinte, em Santos, Campos baixou o tom, disse que não teve intenção de criticar Dilma, mas voltou a discordar da gestão da presidente em momentos de crise, como no cenário recente. “A gente sempre fica com a sensação de que poderia ter sido melhor, de que poderia ter outros gestos que não foram construídos”, afirmou o governador, antes de pedir um “movimento de forma estruturada e com diálogo” para o Brasil.

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“Ética e seriedade é inegável que a presidente tem, mas também é inegável que a presidente não gosta de diálogo, que tem errado muito em suas medidas e que, quando erra mais, fica mais nervosa, improvisa mais e tem de fazer as coisas cada vez com mais pressa. Isso o mundo empresarial detesta”, justificou um político aliado de Campos.

As primeiras críticas, ainda indiretas, às medidas apressadas de Dilma para recuperar crescimento foram identificadas por assessores em junho, quando o governador lançou o projeto Pernambuco 2035, um programa que pretende traçar as metas de longo prazo para o Estado. “Aqui, se rompe um ciclo em que muitas vezes, na vida pública, se entra: imaginar que a urgência e emergência do curto prazo não deixam tempo para se pensar no longo prazo”, disse Campos à época.

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Para o vice-presidente nacional do PSB e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, Campos cobra, nas palestras e encontros com empresários, ações do governo para restabelecer a confiança do empresariado. “No Brasil ainda não se despertou o ânimo animal de investimentos dos empresários, apesar das várias concessões já feitas”, disse Amaral.

Já Tania Bacelar – uma das economistas mais próximas a Campos e ex-secretária de Planejamento e da Fazenda de Pernambuco – lembra que o governador “é economista e se sente à vontade para falar sobre uma área que ele entende”. Tania é sócia da Ceplan, consultoria parceira na elaboração do Pernambuco 2035, e considera natural a posição crítica de Campos à política econômica. “Como a economia está com dificuldade em se recuperar, é um tema em que se sente seguro”.

Petrobras

Apesar de economista, Campos delegou ao advogado, ex-ministro da Fazenda e agora secretário de Saúde do Ceará, Ciro Gomes, seu partidário, a missão de elaborar um estudo analítico sobre a economia brasileira para municiá-lo nos próximos passos. Além disso, Campos teria em seu poder uma ampla avaliação da situação financeira da Petrobras, feita por funcionários da estatal próximos ao PSB.

Campos foi procurado pelo Broadcast, por meio de sua assessoria de imprensa desde a última sexta-feira (6), mas não se pronunciou.