A falta de detalhes nos planos de governo apresentados pelos candidatos à Presidência da República frustrou especialistas e deixou sem resposta alguns dos principais desafios do próximo governo. Da Previdência à agenda de inovação para o setor produtivo, há pouca clareza de como Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT) realizarão algumas promessas em uma eventual gestão.
Após a oportunidade de debater soluções na campanha ter se perdido, representantes de entidades setoriais – que entregaram agendas de prioridades a partidos ao longo do ano – dizem que será necessário resgatar discussões com o governo eleito. Eles apontam para a falta de sintonia entre o que foi dito pelos candidatos, as propostas de especialistas, e medidas já em estudo pelo atual governo.
“Não dá para ter clareza do que eles estão propondo”, diz o diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), Bernard Appy, sobre as propostas para a área tributária nos dois programas. “Vai ter de ser feita depois da eleição, essa discussão.”
Nenhum dos candidatos tratou da reforma na cobrança do PIS/Cofins, sinalizada pela equipe econômica do presidente Michel Temer desde o começo do ano. Os planos também não tratam da redução do imposto de renda para empresas. Para Appy, as duas questões são as mais urgentes para a área.
Nas últimas três semanas, os dois presidenciáveis também mudaram de rumo em relação a seus programas originais. Em seu novo plano de governo, protocolado há dez dias, Haddad incluiu um compromisso com reformas estruturais no controle das contas públicas. “Ainda que genérica, (a promessa) sinaliza que estaria disposta a discutir questões como Previdência, eventualmente despesa com funcionalismo, que são as grandes despesas”, afirma Appy.
Bolsonaro, por sua vez, sinalizou que pode rever a proposta de reunir as áreas de Meio Ambiente e Agricultura em um só ministério, registrada no documento que entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Superficial
Mesmo na área de segurança pública, um dos temas que mais mobilizou o eleitorado na campanha, a avaliação é de que o debate foi superficial. Para o diretor do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, faltaram propostas sobre financiamento e políticas de prevenção contra crimes violentos.
“A arma de fogo ganhou uma ‘hiperatenção’, foi inflacionada ao extremo como solução”, diz Marques, para quem esse não é o principal problema de segurança do País – e sim a estrutura precária das polícias e a coordenação da política de segurança. “Ninguém falou em facção criminosa no debate, foi como se elas não existissem.”
Temas como a agenda de tecnologia e inovação ficaram apagados, apesar da ênfase que entidades deram ao tema. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) elaborou um documento que propõe o incentivo à inovação através da abertura comercial e da importação de tecnologia, entre outras sugestões. Para o instituto, o Brasil já está atrasado em relação a outros países emergentes por causa da recessão – e os riscos à competitividade do País só aumentam.
“(Inovação) é uma das colunas vertebrais das estratégias de desenvolvimento econômico de longo prazo. Essa é uma discussão que praticamente não existiu”, afirma o economista do Iedi Rafael Cagnin. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.