A campanha contra o nepotismo no Paraná começou ontem na Boca Maldita, no Centro de Curitiba, com a distribuição de panfletos, a fim de esclarecer a população a respeito da prática e dos problemas que dela derivam. O deputado estadual Tadeu Veneri (PT), organizador da campanha que deve permanecer no calçadão da Rua XV de Novembro nas próximas duas semanas, considera que a receptividade da população está sendo boa. "Algumas pessoas não sabem o que significa o nepotismo, mas quando são informadas que envolve a prática de contratação de parentes sem concurso público, ninguém fica a favor", afirma Veneri.
Segundo o deputado, a campanha deverá acontecer também no interior do Estado e conta com o apoio da Seccional Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, da Associação dos Magistrados do Paraná, da Associação Comercial do Paraná (ACP), entre de outras entidades da sociedade civil. Ao todo serão distribuídos 500 mil panfletos. "A campanha traz informações para a população e assim pode entender o que vai acontecer quando os deputados forem votar o projeto de emenda constitucional do Estado, que proíbe a contratação de parentes nos três poderes e no Ministério Público", afirma Veneri, autor da PEC que tramita na Assembléia Legislativa.
Entre os acontecimentos que ocorreram no primeiro dia da campanha, Veneri destaca uma conversa que teve com uma senhora, que comparou o nepotismo à "senzala" e à "casa-grande". "Para ela, na ‘casagrande’ estariam os ocupantes de cargos públicos e seus parentes, enquanto que a ‘senzala’ seria o espaço destinado ao resto da população. Realmente, a contratação de parentes é parte do processo colonial." Segundo ele, falar em modernidade soa estranho enquanto a prática de nepotismo ainda persiste.
Aqueles que passaram pela Boca Maldita ontem se mostram contrários à contratação de parentes para cargos comissionados sem concurso público. Para o comerciante Luis Razza, o nepotismo é privilégio e tem que acabar.
"Todos têm direitos iguais a ter empregos decentes.? O assistente administrativo José Roberto Paladino, que trabalha nos Correios, entende que a prática do nepotismo atrapalha o setor público, porque os parentes não são indicados por serem competentes. Segundo ele, os vícios dos antigos acabam por ser incorporados pelos parentes mais novos, tanto no Judiciário quanto no Executivo ou no Legislativo.
No esclarecimento sobre a prática do nepotismo, os meios de comunicação também têm cumprido com sua função informacional. A promotora de eventos Aline Lima afirma que foi pela televisão e pelos jornais que ficou informada a respeito da contratação de parentes por ocupantes de cargos públicos. Ela citou o caso recente de Maringá, em que o Ministério Público (MP)está movendo ação civil pública contra nove dos 15 vereadores da Câmara Legislativa por causa da prática do nepotismo, acusando-os de improbidade administrativa. "O nepotismo é um absurdo. Se os familiares são competentes, que façam concurso público", afirma Aline.
A promotora de eventos Tessália Castro também foi informada sobre o problema da contratação de parentes por jornais e noticiários de televisão. Na opinião de Tessália, é essencial que haja uma reforma política no Estado.
