Com dificuldades em avançar na disputa presidencial, a condução do marketing de campanha de Aécio Neves (PSDB), pelo marqueteiro Paulo Vasconcelos, passou a ser alvo de críticas de setores do próprio partido. Um dos poucos a falar abertamente sobre os contratempos enfrentados até então, o presidente estadual do PSDB mineiro, deputado federal Marcus Pestana, admitiu a ocorrência de erros no reduto eleitoral de Aécio.

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“A campanha estadual não defendeu o legado do Aécio. E nós tivemos uma passividade. A nossa campanha não foi na linha correta de se ancorar no legado, o que permitiu o surgimento de mentiras e inverdades. O Fernando Pimentel (candidato do PT ao governo de Minas) está prometendo o que já existe, o que já fizemos e a campanha não está tendo uma ação firme de ataque e defesa. Foi um erro aqui da nossa campanha que está sendo corrigido”, disse Pestana.

A avaliação é de que a equipe de comunicação da campanha nacional erra ao apresentar propostas de forma genérica, esquecendo-se de regionalizá-las. Uma das consequências seria um distanciamento dos eleitores com o discurso de Aécio.

As reclamações já começam a chegar ao candidato. De acordo com um integrante da cúpula do PSDB, nos últimos dias alguns governadores do partido passaram a ligar diretamente para Vasconcelos para sugerir alterações na propaganda nacional. Aécio também tem sido procurado pessoalmente com pedidos de mudanças.

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Há demandas, em especial dos diretórios regionais, para que Aécio grave vídeos específicos para o eleitorado de cada Estado. Seria uma forma de aproximá-lo da realidade de cada local. Reclama-se também da falta de integração do discurso entre as campanhas estadual e nacional.

A busca por uma reação do PSDB em Minas também tem como finalidade evitar uma dupla derrota de Aécio no Estado. As últimas pesquisas colocam o tucano em empate técnico com a presidente Dilma Rousseff (PT) nas intenções de votos na região. Além disso, o seu candidato ao governo local, Pimenta da Veiga (PSDB), está em segundo lugar na corrida eleitoral com 23%, atrás de Fernando Pimentel, que tem hoje 37% das intenções de votos.

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‘Polarização’

Na análise de Marcus Pestana, a campanha no âmbito nacional deve deixar de fazer a apresentação de Aécio e iniciar uma nova etapa de “polarização”. Para o dirigente, é necessário que se tenha uma “pegada” igual à usada pelos marqueteiros de outros países.

“Essa fórmula do marketing brasileiro está esgotada. Tenho amigo publicitário que é argentino que disse que, na Argentina, é pancadaria para todo lado e ganha quem ficar de pé. Nos Estados Unidos também, lá não há uma agenda propositiva, proposta de governo, é para falar mal do adversário, ou seja, polarização. A desconstrução não tem a ver com baixaria, com mentira, mas tem a ver com politização, oferecer o melhor argumento”, ressaltou.

A polarização pretendida deve ser feita com Dilma e Marina Silva (PSB), que hoje aparecem na liderança da corrida presidencial, empatadas com 34% das intenções de votos.

“Não estamos mais na fase do ‘bem-vindos’ ou do ‘venha discutir o Brasil'”, disse em referência ao mote apresentado nos programas de rádio e TV da campanha presidencial do PSDB. “Vamos polarizar e oferecer argumentos. Você tem uma candidata que é a continuidade do que está dando errado, que está levando o País para o abismo, que é a Dilma. Por outro lado, mais de 70% acham que têm que mudar. Aí há duas opções: Marina e Aécio. Marina é o sonho que pode virar pesadelo.”

Debandada

Outra preocupação nos Estados, segundo relatos de alguns dirigentes do PSDB, é a de manter a militância “aguerrida” diante do quadro adverso. Segundo um candidato a governador, um primeiro impacto sentido no dia a dia com os últimos resultados das pesquisas foi o “sumiço” da menção de Aécio nos discursos dos candidatos locais do partido. Isso tem sido agravado, segundo a mesma fonte, com a falta de material de publicidade.

Coordenador da campanha no Acre, Marcelli Tomé,, diz que as pesquisas deixaram a militância no Estado “assustada”. “Dentro do comitê, o pessoal ficou triste, meio assustado”, ressaltou ele, que, apesar disso, afirma acreditar em uma virada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.