O comerciante Jânio Reis entregou hoje à Justiça de Ribeirão Preto, cidade do interior paulista, a sua justificativa sobre a crítica que fez a políticos em geral na coluna de leitores do jornal A Cidade, em setembro de 2009. A carta à publicação, com texto irônico, partiu de uma reportagem publicada em agosto sobre as vestimentas dos vereadores nas sessões, mas Reis não citou nomes nem a Câmara local. Porém, a Mesa Diretora da Câmara o interpelou judicialmente a se explicar.
“Não citei ninguém, mas eles vestiram a carapuça”, afirma Reis. Um colunista do jornal também será interpelado pela Câmara. O presidente da Casa, Cícero Gomes da Silva (PMDB), disse que os textos atingem a honra da classe política e que os 20 vereadores concordaram com a interpelação.
A atitude da Câmara de Ribeirão Preto surpreendeu a organização não-governamental (ONG) Transparência Brasil, que combate a corrupção. “Políticos do interior gostam de intimidar uma manifestação espontânea, cercear a liberdade de expressão, mas me surpreendeu o fato do alvo ser um cidadão comum”, diz o coordenador de projetos da entidade, Fabiano Angélico.
“Achei uma atitude covarde, pois mostra uma assimetria de forças; então, a Câmara que interpelasse o jornal”, afirma. Angélico informa que a manifestação de uma opinião não pode ser encarada como uma denúncia.
Em sua carta à sessão destinada ao leitor, Reis disse que os políticos deveriam usar roupas em forma de xadrez ou dos Irmãos Metralhas (personagens de desenho animado), entre outras ironias, mostrando sua indignação com a classe. Silva alega que ele chamou os políticos de corruptos, mas não citou nomes, por isso o interpelou judicialmente.
“Qual político não presta? Que ele indique”, diz Silva, revelando já ter encaminhado interpelação contra o colunista Júlio José Chiavenato, que publicou, em dezembro, um artigo, no mesmo jornal, citando que as Câmaras “são inúteis e nocivas”.
Colunista
“A Câmara de Ribeirão Preto tem uma série de projetos inconstitucionais, contas não aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado, funcionários fantasmas e inoperância dos vereadores que não trabalham em prol da comunidade”, diz Chiavenato. Ele afirma que ouviu falar que seria interpelado judicialmente, mas que nada recebeu até hoje. Ele não é funcionário contratado pelo jornal.
Sobre a atitude da Câmara, Chiavenato contra-ataca: “É prepotência de pessoas que fizeram da política uma profissão e que não admitem críticas.”