LONGA SESSÃO

Câmara dos Deputados aprova salário de R$ 545

 

Com ameaças de cortes nas nomeações para o segundo escalão e até de demissão de um ministro aliado, a presidente Dilma Rousseff conseguiu fazer sua base parlamentar aprovar o salário mínimo de R$ 545 e passar por seu batismo de fogo no Congresso. Maioria expressiva dos aliados obedeceu à ordem do Executivo e rejeitou, por 361 votos a 120, a proposta que elevava o valor para R$ 560. O projeto ainda terá de ser aprovado pelo Senado para virar lei. A liberação de emendas no mês de fevereiro também foi outra arma usada pelo Executivo.

Os partidos de oposição insistiram com dois valores acima do defendido pelo governo. Em primeiro lugar, na votação de um mínimo de R$ 600, proposto pelo PSDB, o governo ganhou com folga Apenas 106 parlamentares votaram a favor. Contrários à emenda votaram 376 e 7 se abstiveram. Na segunda votação, quando apoiaram os R$ 560, os oposicionistas conseguiram mais 14 votos. Mas, ainda assim, a oposição sofreu uma severa derrota.

O enquadramento dos deputados dos partidos aliados ficou claro logo pela manhã. Numa reunião no Palácio do Planalto com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, os líderes contaram os votos e o número de dissidentes e concluíram que venceriam. Mas teriam de fazer novas pressões para reduzir as baixas.

Ao PDT, o único partido aliado que anunciou a defesa do mínimo de R$ 560, a presidente Dilma avisou que se o partido fechasse questão em torno desse valor o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, seria demitido.

Restou ao partido deixar a bancada livre para que cada um votasse do jeito que quisesse.

Como as ameaças de resistência ao mínimo de R$ 545 vinham principalmente da base, os dirigentes partidários foram duros no trabalho de convencimento.

Futuro

O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), conversou com cada um dos deputados. Avisou que se insistissem em votar contra o governo o enfraqueceriam. Ele argumentou que uma dissidência alta no PMDB inviabilizaria seu projeto de assumir a presidência da Câmara no biênio 2013 a 2015.

Prevenido, o PMDB sacrificou dois suplentes de deputados do Rio de Janeiro, substituindo-os pelos titulares Leonardo Picciani e Pedro Paulo, atualmente secretários do governo de Sérgio Cabral (PMDB) e do prefeito Eduardo Paes (PMDB).

A partir daí, parlamentares da base governista revezaram-se na tribuna da Câmara para dar o apoio público ao salário mínimo defendido por Dilma.

A oposição, ao contrário, procurou mostrar a cara e defender um mínimo maior, de forma a contentar os sindicalistas que estavam nas galerias.

Vaias

Ocorreu, assim, um fenômeno raro na política brasileira. Parlamentares de tradição na esquerda, como Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, ex-presidente da CUT, e Luci Choinacki (PT-SC) foram vaiados; deputados acostumados a vaias de representantes dos trabalhadores, como Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Pauderney Avelino (DEM-AM), foram aplaudidos pelos sindicalistas que estavam nas galerias.

Vicentinho previu que se vingará no futuro: “Tenho certeza de que as vaias vão se transformar em aplausos ano que vem”.

A argumentação dos dois lados seguiu uma linha muito parecida. Os defensores dos R$ 545 insistiram que o governo do PT, a começar pelo de Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu dar ganho real superior a 60% ao salário mínimo. A oposição – PSDB, DEM e PPS – repetiu e repetiu que negar mais R$ 15 aos trabalhadores – ou R$ 0,50 por dia – era uma falta de sensibilidade. O PV, que mantém uma posição independente, insistiu no mínimo de R$ 560.

Lua de mel

A vitória ontem de Dilma representa o fim da lua de mel do Palácio do Planalto com as centrais sindicais. Durante os oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, as centrais foram tratadas a pão de ló. Elas passaram a receber parte do imposto sindical, enchendo seus cofres com cerca de R$ 100 milhões por ano.

Ex-sindicalista, Lula também fazia questão de negociar pessoalmente com o movimento. Estilo bem distante do de Dilma, que delegou a seus ministros o diálogo com as centrais sindicais.

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