O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) passou a ordenar pessoalmente a partir de 2016 o transporte de valores dentro do esquema de corrupção que desviou milhões de reais dos cofres públicos. A afirmação foi feita por Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Cabral, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, no Rio de Janeiro.

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Bezerra foi preso preventivamente no âmbito da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato, por suposta participação em esquema de corrupção durante a gestão do peemedebista. No depoimento desta quinta-feira, 4, ele reconheceu que fazia o transporte de valores da rede montada por Cabral desde 2010, na campanha pela reeleição. A partir de 2011, a movimentação de recursos já não tinham relação com a campanha, reconheceu.

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Segundo Bezerra, quem organizava o esquema de pagamentos era Carlos Miranda, preso junto com o ex-governador. Miranda e Cabral foram sócios em uma empresa, a SCF Comunicação e Participações e são amigos de infância. Ele foi também casado com uma prima de Cabral.

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No entanto, o próprio Cabral passou a instruir recebimentos e pagamentos a partir de 2016. Bezerra confirmou que levou dinheiro ao escritório de Adriana Ancelmo, mulher de Sergio Cabral, “umas cinco ou seis vezes”. O dinheiro era entregue em espécie, em quantias que alcançavam centenas de milhares de reais transportado dentro de uma mochila, segundo a investigação.

Segundo Michelle Tomaz Pinto, ex-secretária de Adriana, as visitas de Bezerra ocorriam geralmente às sextas-feiras. Ela disse ter presenciado “as entregas” durante os anos de 2014 e 2015. No depoimento desta quinta, Bezerra disse que fez as entregas diretamente a Michelle.

O acusado também afirmou que levou dinheiro a duas joalherias, H Stern e Antonio Bernardo, mas que não transportou as joias. Bezerra também fazia uma contabilidade paralela do esquema. Em seu apartamento, foram encontradas as anotações sobre arrecadação de propina e pagamento a membros da organização, além de familiares de Cabral.

“De acordo com anotações reproduzidas em imagens contidas em seus e-mails, chega-se à conclusão de ele administrava o caixa em dinheiro vivo angariado pela organização criminosa”, indica a força-tarefa.

Bezerra confirmou que fazia pagamentos regulares de mesadas a parentes de Cabral. Entre os citados estão a mãe do ex-governador, Magaly Cabral, os irmãos Maurício e Claudia, a sobrinha Maria, os filhos de Cabral e a ex-mulher Suzana Cabral. Segundo as anotações confirmadas pelo acusado, os pagamentos a Suzana Cabral eram de R$ 55 mil, mas houve registro de um repasse de até R$ 325 mil.

Na decisão que mandou prender o ex-governador do Rio, o juiz Marcelo Bretas afirmou que “é possível concluir, em avaliação ainda preliminar” que Carlos Bezerra é “um dos responsáveis pela distribuição do dinheiro ilícito, mantendo registros contábeis informais e também providenciando documentos fiscais de várias empresas para dar aparência de legitimidade aos recursos movimentados (lavagem de dinheiro)”.

Durante o governo de Cabral no Rio, Carlos Bezerra exerceu cargo em comissão de Assessor Especial da Diretoria Geral de Administração e Finanças, da Secretaria de Estado da Casa Civil.