O ex-ministro da Educação e ex-reitor da Universidade de Brasília Cristovam Buarque (PT) foi um dos palestrantes de ontem do 2.º Seminário de Qualificação promovido pelo diretório regional do PPS para prefeitos e vice-prefeitos eleitos.
Esta é a segunda vez que Buarque vem ao Paraná participar do evento e deixa claro que não veio para abordar as divergências politicas entre as duas agremiações.
"É evidente que o nosso governo deixou de encantar a população. Mas o objetivo da minha palestra é justamente sugerir linhas com as quais o governo tentaria retomar o encantamento, com uma lista de medidas que o prefeito pode adotar em seu município para restabelecer essa sintonia." As propostas do ex-ministro se fundamentam basicamente na educação e na assistência às crianças.
Com relação à idéia defendida por vários líderes do PPS, de afastamento do governo federal e a adoção de uma postura independente, Buarque defendeu que o partido permaneça na base de apoio do governo federal. "O seu afastamento representaria um baque", avaliou, admitindo que também cabe ao governo buscar se reaproximar das agremiações de esquerda.
"O governo Lula se isola ao concentrar esforços na aprovação de emendas e em negociações, deixando em segundo plano as políticas e orientações. Essa prática serve para partidos conservadores, não para os de esquerda que têm o projeto de mudar o Brasil."
Descontentamento
Mesmo defendendo a manutenção da aliança PT-PPS, Buarque disse entender o descontentamento do aliado em relação aos rumos do governo Lula: "Esse descontentamento existe dentro do PT também, embora um petista não possa abandonar o governo porque está organicamente ligado. Como aliado, o PPS tem o direito de se afastar se o governo não leva em conta suas considerações. Também não podemos esquecer que este é um governo de coalizão, que precisa ouvir a todos, inclusive os partidos conservadores".
Ele se recusou a analisar as críticas dirigidas ao modelo econômico, lembrando que provocou uma reação violenta dos próprios correligionários no passado, quando defendeu a permanência do ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, no cargo por 100 dias: "Eu acreditava que era necessário preparar o terreno para as mudanças e sugeria um arranjo temporário, não permanente. Agora está na hora de trabalhar a transição", admitiu.
Cristovam Buarque jantou sexta-feira com os presidentes nacional e regional do PPS, deputado federal Roberto Freire e Rubens Bueno. Foi convidado por eles a ingressar em seus quadros. Por ora, entretanto, o ex-ministro não pensa em deixar o PT: "Não se muda de partido através de convites. Muda-se se houver um projeto de partido, que não seja o seu, mais sintonizado com os seus sentimentos políticos. E não existe nenhum nessas condições neste momento", finalizou.
PPS busca alternativas ao modelo neoliberal
O deputado federal Roberto Freire e Rubens Bueno disseram ao senador Cristovam Buarque que estão buscando nomes nacionais capazes de formular um projeto alternativo ao pensamento vigente, de viés neoliberal e monetarista, que segundo eles teria sido implementado pelo PSDB e seus aliados no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e acentuado pelo PT na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes de Cristovam Buarque, a vereadora Clênia Maranhão, líder do PPS na Câmara de Porto Alegre, fez uma palestra aos filiados sobre o papel e a experiência do vereador no legislativo. Cerca de 150 filiados participaram do encontro Qualidade PPS de Gestão, aberto por Freire e Rubens anteontem pela manhã.
Educação
Além de fazer comentários sobre o governo Lula, o senador disse aos pepessistas que o País tem universidades públicas e escolas técnicas de padrão internacional, mas se ressente de uma educação básica, que se alinha entre as piores do mundo. As universidades e escolas técnicas são federais e recebem recursos da União, enquanto o ensino básico é financiado com verbas locais (estaduais e municipais). Para ele, o que assegura a identidade de um país é a garantia de educação com a mesma qualidade para suas crianças. "No Brasil, esta qualidade depende da cidade onde elas nascem e vivem, do orçamento municipal e da vontade do prefeito", explicou o senador.
Cristovam ressaltou que federalizar a educação básica não significa centralizar na União a gestão de 180 mil escolas, nem incorporar ao funcionalismo federal os 2,5 milhões de professores estaduais e municipais. "Mas a educação básica precisa ser preocupação nacional, e contar com três importantes definições nacionais: responsabilidade educacional de cada governante, condições mínimas para cada escola e recursos federais", disse.
Senador está afinado com ex-presidente
Brasília (AG) – A eleição acirrou as relações entre o PT e o PSDB, mas há pelo menos um tucano e um petista afinadíssimos. O ex-presidente Fernando Henrique e o senador Cristovam Buarque (DF) se entendem, e muito. Semana passada, eles tiveram a oportunidade de constatar que têm identidade intelectual e pensam de forma semelhante sobre o futuro do País.
Longe da patrulha partidária, Fernando Henrique e Cristovam se encontraram em Providence, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente passa uma temporada para dar aulas na Universidade de Brown. Rejeitado pelo PT desde que deixou o Ministério da Educação, em janeiro, quando foi demitido por telefone pelo presidente Lula, o senador tomou a iniciativa de procurar Fernando Henrique e marcar o encontro.
Cristovam Buarque saiu de Berkeley, na Califórnia, onde fez uma palestra sábado retrasado (dia 6) sobre os desafios da economia brasileira. Atravessou os Estados Unidos para chegar a Nova York. Dormiu lá e, na manhã fria de domingo, antes do nascer do sol, pegou um trem. Três horas depois, às 10h, estava com Fernando Henrique na estação de Providence, em Rhode Island.
Foram quase 12 horas de conversa que começaram no pequeno apartamento onde Fernando Henrique mora durante as temporadas letivas.
Partido "namora" classe média
O PT quer retornar aos braços da classe média. De preferência, tendo ao fundo a paisagem de uma grande cidade. Entre as primeiras avaliações do recado das urnas nestas eleições municipais, um dos pontos levantados como causa para o resultado alcançado pelos candidatos petistas – no mínimo inferior ao que se esperava – é o mau desempenho do partido num setor social que foi decisivo para eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Às vésperas do segundo turno da última eleição presidencial, pesquisa do Instituto Datafolha mostrava que Lula tinha seu melhor desempenho justamente entre os eleitores cuja renda ficava na faixa intermediária, entre 5 e 10 salários mínimos. Levantamento feito um dia antes da votação mostrava que o petista também alcançava seu pico de intenção de voto nas grandes cidades (com mais de 150 mil eleitores) – outro foco de preocupação para os petistas após as eleições de 2004.
Para o professor Waldir José Quadros, do Instituto de Economia (IE) da Universidade de Campinas (Unicamp), a classe média sofre o impacto de uma crise econômica e o desempenho do governo federal petista na área ressuscitou a opção tucana, que estava em baixa.
Penalização
"Ela (a classe média) já havia sido penalizada no segundo governo do "ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB". Mesmo a contragosto, votou no Lula porque a situação estava se tornando insuportável e optou pela mudança", avalia o professor, que prepara um livro baseado em seus estudos sobre a classe média. "Ocorre que já em seu início o governo Lula frustrou essas expectativas provocando inicialmente desânimo e, em seguida, raiva. Daí a retornarem ao seio do tucanato foi um passo", acrescenta.
Quadros dá uma amostra do que tem acontecido com esta camada social, pegando como exemplo a Grande São Paulo. Segundo dados de sua pesquisa, o número de membros da alta classe média (assim consideradas, no estudo, as famílias com renda superior a R$ 5 mil ou renda per capita acima de R$ 1.563) sofreu retração de 10% em 2002. Em 2003 houve nova queda, de 10%. Quando o foco é a renda familiar, "em 2003 ocorre uma queda nesta camada de absurdos 13% contra uma elevação de 5% em 2002", diz o professor.
Está longe de ser consenso, contudo, que o eleitor tenha julgado nas urnas dos pleitos municipais o desempenho do governo Lula. A cúpula do PT rejeita a análise, embora reconheça que o partido tem enfrentado problemas de diálogo com alguns setores da sociedade.
"Temos de dialogar mais com os segmentos médios organizados da população, adequar o discurso, corrigir posturas e atos", disse José Genoino, presidente nacional do PT, em entrevista publicada no site oficial do partido sobre os rumos pós-eleições 2004. "O PT tem uma base social e política de peso nas grandes cidades", afirmou, avaliando positivamente o desempenho petista mesmo nestes centros.
De qualquer maneira, o governo estuda medidas que podem ter boa repercussão na classe média. Só não definiu ainda quais.