O governo brasileiro reconheceu como refugiado político o juiz boliviano Luis Tapia Pachi, que alega ser vítima de perseguição política pelo governo do presidente da Bolívia, Evo Morales. Por unanimidade, ainda em dezembro do ano passado, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, reconheceu que Tapia deveria ser acolhido no País como refugiado político. Por se tratar de um processo sigiloso, a decisão não foi divulgada à época.

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O juiz boliviano fugiu para o Brasil em julho de 2010. Ele era responsável pela investigação de um suposto complô da oposição para matar o presidente Evo Morales, em abril de 2009. Durante as investigações, a polícia boliviana invadiu um quarto de hotel, em Santa Cruz de La Sierra, e matou os três suspeitos. Enquanto o governo afirma ter se tratado de uma operação bem sucedida para evitar um atentado contra o presidente, os opositores dizem que as mortes se trataram de excesso da polícia.

Tapia afirmou que passou a ser perseguido por não aceitar a mudança de jurisdição do caso de Santa Cruz de La Sierra para a capital do país, La Paz. Além disso, disse ter sofrido ameaça de morte e sustentou que poderia ser preso por ordem do Ministério Público boliviano.

Para Tapia, a versão de um complô contra Evo e uma sequência de atentados contra autoridades do Judiciário e do clero deram ao Executivo um pretexto para agir com mais rigor contra a oposição. “Acredito que houve exagero na ação dos soldados”, disse no ano passado ao chegar ao Brasil.

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“Quando estava num estágio avançado do processo, tudo apontava para um desastroso equívoco do governo Evo. Mas a Suprema Corte transferiu o caso para La Paz, colocando-o sob a responsabilidade do juiz Marcelo Soza. Ora, eu já tinha ouvido pelo menos 30 testemunhas que depuseram contra o governo e não aceitei a transferência de jurisdição. Fui intimado para dar explicações ao Ministério Público, mas não fui por uma questão de hierarquia. Sou um juiz e não tenho de responder a promotores”, acrescentou. Pela legislação brasileira, reconhecido o status de refugiado, Tapia não pode mais ser extraditado caso houvesse um pedido para isso feito pelo governo boliviano.