Brasil quer intermediar diálogo entre Teerã e Washington

O Brasil quer valer-se de seus bons ofícios diplomáticos para intermediar um possível diálogo direto entre o Irã e os Estados Unidos. A boa vontade do governo Luiz Inácio Lula da Silva em receber o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, depois da suspensão de sua visita em maio passado, responde a uma convicção do Palácio do Planalto de que Teerã pode e deve aproveitar a oferta da Casa Branca de retomar uma cooperação rompida há três décadas.

Para a vinda ao Brasil de Ahmadinejad, no próximo dia 23, o Itamaraty recomendou à chancelaria iraniana que não sejam feitas declarações sobre questões sem consenso entre ambos os países. O recado foi claro: em Brasília, o presidente do Irã deve se controlar e não repetir seus ataques a Israel nem sua opinião de que o holocausto não existiu. De preferência, deve evitar críticas aos EUA.

O governo brasileiro está ciente de que o Irã tem mais a ganhar que o Brasil com essa visita polêmica. Para Ahmadinejad, significará a aproximação com um país que mantém uma política externa independente e conquistou respeito na comunidade internacional ao longo dos últimos 15 anos. Além disso, abrirá contato direto e azeitado com um governo que terá, em 2010 e 2011, assento no Conselho de Segurança da ONU – órgão que poderá vir a votar um novo lote de sanções contra o Irã, por causa dos objetivos pouco claros de seu programa nuclear.

Obama

Para Lula, a visita dará oportunidade de atrair o líder iraniano para um diálogo com Barack Obama, hoje impossibilitado especialmente pela reação da opinião pública dos dois países. Se essa aproximação prosperar em curto prazo, Lula terá como colher os frutos de sua intermediação antes de concluir o mandato. Do ponto de vista do Itamaraty, o sucesso dessa empreitada credenciará o Brasil para tornar-se um dos atores relevantes em um novo modelo de governança global. Seria traduzido como a vitória da diplomacia da persuasão do governo Lula.

Na quarta-feira, sentado ao lado do presidente de Israel, Shimon Peres, Lula defendeu a visita ao Brasil de Ahmadinejad e argumentou que a paz não pode ser construída em um “clube de amigos”. A declaração refletiu a perspectiva do governo Lula de que o Irã é hoje uma das peças centrais na solução dos conflitos do Oriente Médio. Sem Teerã, acredita o Itamaraty, nenhum acordo terá substância. A visita de Ahmadinejad será marcada pela assinatura de acordos modestos – um programa na área cultural, a isenção de vistos diplomáticos, a cooperação técnica e um primeiro passo para futura colaboração da Embrapa.

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