Brasil e Irã buscam crédito diplomático, diz analista

Em meio a críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu hoje, em Brasília, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que realiza visita de um dia ao País. O encontro dos líderes servirá para ambos levantarem créditos no campo diplomático, de acordo com explicação do professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Reginaldo Nasser. Segundo ele, o Brasil pretende avançar como mediador de conflitos internacionais, ao discutir com Ahmadinejad o programa nuclear iraniano e o processo de paz no Oriente Médio. Se a iniciativa for bem-sucedida, o País ganhará mais respaldo na busca por um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Estados Unidos, Israel e seus aliados tradicionais na Europa não se manifestaram a favor do encontro entre Lula e Ahmadinejad. Apesar disso, acredito que (o presidente dos EUA, Barack) Obama vê com bons olhos o encontro, pois sabe que é mais fácil o Irã se moderar do que o Brasil se radicalizar”, afirma Nasser.

De acordo com ele, para o Irã, aproximar-se do Brasil neste momento ajuda a romper o isolamento diplomático ao qual vem sendo submetido pela comunidade internacional, que acusa o país muçulmano de buscar a produção de armas nucleares e infringir constantemente os direitos humanos por meio de perseguição a opositores. “É interessante para o Irã se conectar a uma nação que tenha credibilidade internacional, como o Brasil. Esse mesmo efeito não é possível com o aliado do Irã na América Latina, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez,” explica Nasser.

De acordo com o professor, as críticas ao regime teocrático do Irã não representam uma barreira para o Brasil manter suas relações diplomáticas. Para Nasser, o Irã é o país mais importante no Oriente Médio, com grande influência sobre seus vizinhos. O país apoia grupos na região como o Hamas, em Gaza, o Hezbollah no Líbano e os xiitas no Iraque. “Qualquer solução duradoura para esses países depende do Irã,” afirma Nasser.

Erro na política externa

Segundo a avaliação do professor da PUC-SP, o governo Lula cometeu um erro ao reconhecer imediatamente a legitimidade das eleições presidenciais no Irã, em junho, que garantiram a manutenção de Ahmadinejad no cargo. O processo eleitoral foi acusado de fraudes e despertou a maior onda de protestos populares no país desde a Revolução Islâmica, em 1979. As manifestações foram reprimidas à força pelo governo. Os opositores foram presos e submetidos a julgamento.

No último dia 17, a televisão estatal iraniana informou que cinco pessoas foram sentenciadas à morte por envolvimento com os protestos. Pelo menos outras três já haviam recebido a pena de morte. Ontem, o ex-vice-presidente do Irã, Mohammed Ali Abtahi, só foi libertado após pagar fiança de US$ 700 mil, conforme divulgou seu advogado. Ele também estava preso por participar das manifestações.

“O presidente Lula deveria ter sido melhor informado por seus assessores antes de defender a reeleição. Os opositores reclamaram de perseguições, mortes e agressões,” diz Nasser. Segundo ele, o gesto de Lula também contrariou a tradição da diplomacia brasileira de não interferir em assuntos internos de outras nações.

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