Foto: Bernardo Helio/Agência Câmara

Em votação dramática no Conselho de Ética, Brant foi considerado culpado pelas denúncias.

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Por oito votos a sete, o Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem o relatório do deputado Nelson Trad (PMDB-MS) que propõe a cassação do mandato do deputado Roberto Brant (PFL-MG). A votação ficara em sete a sete, obrigando o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), a dar o voto de minerva pela cassação. E por 9 votos a cinco, o mesmo conselho aprovou o parecer do deputado Pedro Canedo (PP-GO), que recomenda a cassação do deputado Professor Luizinho (PT-SP), acusado de se beneficiar do chamado "valerioduto?.

A dramática votação do relatório que pede a cassação de Brant foi durante a manhã. Votaram com o relator os deputados Ann Pontes (PMDB-PA), Josias Quintal (PSB-RJ), Chico Alencar (PSOL-RJ), Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Pedro Canedo (PP-GO), Júlio Delgado (PSB-MG) e Ricardo Izar. Votaram pela absolvição os deputados Ângela Guadagnin (PT-SP), Jairo Carneiro (PFL-BA), Moroni Torgan (PFL-CE), Edmar Moreira (PL-MG), Bosco Costa (PSDB-SE), Benedito de Lira (PP-AL) e Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA), que entrou no lugar de Gustavo Fruet (PSDB-PR).

O relatório será votado pelo plenário da Câmara dos deputados num prazo de cinco sessões legislativas. O relatório de Nelson Trad sobre Brant, que foi ministro da Previdência no governo FHC, recomendou a cassação do pefelista porque o deputado não declarou na Justiça eleitoral os R$ 102,8 mil que admitiu ter recebido da SMP&B, empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza.

Em depoimento no Conselho de Ética, o deputado do PFL negou conhecer Valério e afirmou que a quantia recebida foi uma doação feita pelo presidente da empresa siderúrgica Usiminas, Rinaldo Campos Soares. A SMP&B, que prestava serviços para a siderúrgica, teria sido apenas intermediária da operação.

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A sessão foi tumultuada na quarta-feira pela acusação do relator do processo de que o PP estaria pressionando os deputados de sua bancada para absolver Brant. Com o atraso, a votação acabou adiada para ontem. Trad relatou uma conversa telefônica que teve com o deputado Pedro Canedo (PP-GO), um dos integrantes do Conselho de Ética, que lhe teria dito, quase chorando, que estava sofrendo pressão forte da direção do partido para não votar pela cassação do pefelista ou que não fosse à sessão de quarta-feira. A direção do PP estaria pressionando os parlamentares do partido a votarem contra a absolvição numa tentativa de conseguir os votos do PFL nas votações dos relatórios contra quatro deputados do PP que respondem a processo no conselho. O PFL compareceu em peso à sessão do conselho.

Em discurso emocionado antes da aprovação do relatório que propôs a cassação de seu mandato, o deputado Roberto Brant (PFL-MG) citou Nietzsche, Schopenhauer e Dante, negou que tenha tentado mudar o voto dos conselheiros e fez um ataque frontal ao Conselho de Ética, afirmando que os parlamentares que respondem a processo já chegam cassados ao órgão. O pefelista disse que não vai recorrer à Justiça contra a decisão e afirmou estar confiante de que no plenário o resultado será diferente.

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"Todos já têm a predisposição para condenar, é só adequar o discurso ao voto de condenação. O maior inimigo das verdades são as convicções fortes demais. Para reconhecer a verdade é preciso um certo despojamento", disse o pefelista, citando Nietzsche.

Brant elogiou os parlamentares que falaram a seu favor, pediu o voto dos "homens livres e independentes" e disse que não recorreu a acordos partidários. O pefelista disse que estava ali para "lavar sua honra", que não há quem possa levantar nada contra ele e explicou por que decidiu não recorrer à Justiça contra a decisão do conselho.