O presidente Jair Bolsonaro decidiu promover a troca de maior impacto no núcleo duro do governo e deslocar o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para outra função. O substituto de Onyx será o general Walter Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército, que comandou a intervenção na segurança do Rio, em 2018. Considerado o “capitão do time” na montagem da equipe, Onyx teve suas tarefas esvaziadas por Bolsonaro e vai ser transferido para o Ministério da Cidadania, pasta que cuida do Bolsa Família e hoje é comandada por Osmar Terra. Com a mudança, todos os ministros com assento no Palácio do Planalto terão origem militar, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.

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Ao completar 13 meses de governo e dizendo estar “sobrecarregado”, Bolsonaro tem se cercado cada vez mais de integrantes das Forças Armadas e até se reaproximou do vice, general Hamilton Mourão. Na dança das cadeiras, Terra poderá retornar à Câmara, já que é deputado licenciado como Onyx, do DEM, ou até assumir uma embaixada. As trocas não foram oficializadas ainda porque, além de ter ficado irritado com o “vazamento” da informação, Bolsonaro procura acomodar Terra para não desagradar ao MDB. Terra é o único ministro do MDB e o presidente avalia a possibilidade de oferecer a ele uma representação diplomática na Argentina ou na Espanha.

O Estado revelou, nos últimos dias, que o Ministério da Cidadania contratou uma empresa suspeita de ter sido usada como laranja para desviar R$ 50 milhões dos cofres públicos, apesar dos alertas de fraude. Ontem, Bolsonaro cobrou explicações de Terra.

A transferência de Onyx para a Cidadania já vinha sendo estudada pelo presidente, que mostrava descontentamento com o ministro, mas ele só bateu o martelo nesta quarta-feira. A nova mexida no primeiro escalão foi praticamente sacramentada seis dias depois de Bolsonaro entregar o Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável pelo Minha Casa Minha Vida, para Rogério Marinho, até então secretário especial da Previdência, e desalojar Gustavo Canuto.

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O convite a Braga Netto para a Casa Civil foi feito há dias e reiterado nesta quarta. A informação “vazou”, porém, antes mesmo das conversas reservadas que Bolsonaro teve com Onyx e com Terra, separadamente. O ministro da Cidadania chegou a almoçar com Bolsonaro, atletas e artistas. Depois disso, cumpriu agenda com a primeira-dama, Michelle, na Embaixada de Israel, em Brasília.

No fim da tarde, Onyx apareceu sorridente ao lado de Bolsonaro, em cerimônia no Planalto, mas manteve o silêncio. À noite, ao chegar ao Alvorada, Bolsonaro não parou para falar com os jornalistas, mas cumprimentou eleitores. Questionado sobre as mudanças na Casa Civil, foi lacônico: “está tudo bem no governo”.

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Desgaste

Nos bastidores, interlocutores do presidente atribuem o agravamento do desgaste de Onyx ao embate entre ele e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que, desde meados do ano passado, assumiu a articulação com o Congresso. Onyx nunca se conformou em ter perdido essa função para um militar. Tudo piorou no mês passado, quando o ministro estava de férias nos Estados Unidos e o então secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini, usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar à Suíça e à Índia. Santini foi demitido por Bolsonaro. Além disso, por ordem do presidente, Onyx teve de entregar o comando do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia.

Bolsonaro já dava sinais de que queria um “perfil militar” para conduzir a coordenação do governo. Antes de Braga Netto ser oficializado na Casa Civil, no entanto, ele precisará se licenciar das Forças Armadas.

No Congresso, a escolha foi vista com ceticismo. Deputados e senadores não escondem a desconfiança com mais um militar no governo. Com fama de “durão”, Braga Netto é visto como um general sem ambições políticas e acostumado a assumir missões difíceis.

Nos dez meses em que atuou como interventor militar na segurança do Rio, em 2018, ainda no governo de Michel Temer, ele reorganizou as forças policiais do Estado, quando estava no Comando Militar do Leste. Braga Netto é amigo de Ramos e do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

Perfil discreto

O general de Exército Walter Souza Braga Netto, de 62 anos, é avesso à exposição. Atual chefe do Estado-Maior do Exército, nasceu em Belo Horizonte e cumpre o “perfil mineiro”: prefere o trabalho ao verbo. Ao assumir o comando da intervenção no Rio, que lhe concedeu poderes de governador do Estado na área da Segurança Pública, determinou a subordinados familiares discrição nas redes sociais.

Foi observador militar da ONU no Timor Leste e adido na Polônia e nos EUA, de onde trouxe a tradição de trocar e colecionar medalhas. Entrou no Exército em 1974. Em 1994, como major de Cavalaria, apresentou na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) monografia com propostas sobre como aproveitar melhor o pessoal na carreira militar, com foco nos oficiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.