Anderson Tozato / GPP |
Bonaturra: conceitos filosóficos de Direito e história pessoal para os deputados. continua após a publicidade |
O depoimento de mais de quatro horas do procurador do Estado, Luiz Henrique Bonaturra, ontem à tarde na Assembléia Legislativa, foi considerado inconsistente tanto pela bancada de oposição como pelos aliados do governador Roberto Requião (PMDB). Bonaturra decepcionou os adversários do Palácio Iguaçu que tinham a expectativa de que o procurador apresentasse detalhes de denúncias de irregularidades em contratos e compras do governo, sobre as quais se manifestou durante um encontro da tendência petista Unidade na Luta, realizado em Curitiba, há duas semanas.
Autores do requerimento convocando Bonaturra para depor, os deputados de oposição tiveram que se satisfazer com explicações mais ou menos genéricas sobre operações e atos da administração pública estadual, que o procurador considera que devem ser investigados com base em indícios – também definidos como pouco precisos pelos deputados – de que são lesivos ao interesse público. Um dos questionamentos de Bonaturra diz respeito à falta de licitação para a operação do sistema de transporte coletivo intermunicipal no estado. Segundo o procurador, houve omissão por parte do governador ao não encaminhar representações ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público Federal e também uma ação direta de inconstitucionalidade contra a prorrogação dos contratos, sem licitação, realizada pelo ex-governador Jaime Lerner (PSB).
Bonaturra também criticou a falta de licitação para a compra de leite destinado ao programa de distribuição gratuita do produto a crianças carentes – o Leite das Crianças. Bonaturra citou ainda como exemplo de iniciativas prejudiciais à economia popular, alguns contratos renegociados no início da atual administração e a renegociação das dívidas do extinto Badep. Ele mencionou a repactuação do contrato de compra de energia elétrica entre a Cien, empresa argentina, e a Copel, a prorrogação dos contratos dos serviços de dragagem do Porto de Paranaguá como medidas que lesaram o interesse público. Conforme o procurador, as renegociações não trouxeram as compensações almejadas no que diz respeito à redução dos gastos com esses contratos.
Paciência
Deputados – de oposição e da situação – criticaram o fato de o procurador ter gasto a maior parte dos quarenta e cinco minutos iniciais da exposição, abordando conceitos filosóficos do Direito e relatando sua história pessoal, sem conseguir expor quais eram as suspeitas de irregularidades que geraram a convocação. "O senhor gastou quarenta e cinco minutos fazendo comparações que nada valeram. Estamos decepcionados porque nada vimos", ironizou o líder do governo, Dobrandino da Silva (PMDB).
Bonaturra ganhou mais tempo para responder às perguntas dos deputados, mas a principal interessada, a bancada de oposição, não conseguia avançar nos questionamentos. O líder da oposição, Valdir Rossoni (PSDB), desabafou: "Por favor, seja mais simples. Do jeito que o senhor está falando, não está esclarecendo à opinião pública. Não estou conseguindo acompanhar aonde o senhor quer chegar. Saio decepcionado porque sempre o achei brilhante e esperava um outro posicionamento da sua parte", afirmou Rossoni.
Estilo barroco irritou os deputados
Os deputados estaduais não perdoaram o linguajar rebuscado e o tom acadêmico usado pelo procurador do Estado, Luiz Henrique Bonaturra, ontem à tarde em sua exposição no plenário da Assembléia Legislativa. O presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB), irritou-se quando o procurador sugeriu que também era responsabilidade da Assembléia Legislativa questionar a falta de licitação para o sistema de transporte coletivo intermunicipal e que talvez, os deputados não tivessem achado o caso escandaloso o suficiente para interferir. " Não admite que o senhor venha aqui impor aos deputados o que eles devem ou não fazer", reagiu Brandão.
Mas foi do líder do PMDB na Assembléia Legislativa, Antônio Anibelli, que partiu o comentário mais agressivo em direção ao procurador. Anibelli disse que Bonaturra deveria providenciar para que sua mulher, a superintendente da Fundepar, Sandra Bonaturra, pedisse demissão do governo. "Se o senhor não respeita o governo, que a sua esposa, que trabalha no governo, peça demissão", afirmou Anibelli.
O peemedebista acusou Bonaturra de agir como "professor de Deus" e de estar tentando constranger os deputados com demonstrações intelectuais. "Chega de demagogia. O senhor pode ser um intelectual, mas não pode vir aqui ditar normas", afirmou. Bonaturra não reagiu às críticas. Disse somente que na sua função, a de procurador, não estava ali para agradar nem ao governo, nem à oposição e que estava apenas respondendo às perguntas que estavam sendo feitas. (EC)