O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ofendeu uma repórter nesta segunda-feira (26) durante ato de inauguração da duplicação de trecho da BR-101 na cidade de Conceição do Jacuípe (102 km de Salvador).
A repórter Driele Veiga, da TV Aratu, afiliada local do SBT, questionou o presidente sobre as críticas de que foi alvo após ter posado para uma foto em Manaus com o apresentador Sikêra Júnior, da RedeTV!, e uma placa onde estava escrito “CPF cancelado”, que faz referência a pessoas que foram mortas.
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“Não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota”, disse o presidente ao responder ao questionamento. A repórter estava ao vivo no programa jornalístico local Que Venha o Povo, da TV Aratu.
Em nota, o Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas da Bahia) repudiou a atitude do presidente ao agredir verbalmente uma profissional “somente por estar exercendo seu ofício que é entrevistar aquele investido em cargo público”.
“A maior autoridade do país não pode incentivar desrespeito aos direitos humanos e nem agir com grosseria com a imprensa, que é os olhos e a forma de comunicação entre os poderes e a sociedade”, afirmou em nota o presidente do Sinjorba, Moacy Neves.
A Associação Baiana de Imprensa também repudiou o episódio, classificando-o como uma “assediosa agressão verbal contra a jornalista”, e se solidarizou com a repórter.
Políticos da Bahia como o governador Rui Costa (PT), o presidente nacional do DEM, ACM Neto, o deputado federal Jorge Solla (PT) e o deputado estadual Hilton Coelho (PSOL) se solidarizaram com a jornalista.
A TV Aratu informou à reportagem que não iria se manifestar sobre o episódio. Em mensagem postada em suas redes sociais, a repórter lamentou a agressão.
“A mim o xingamento não ofendeu. Só mostrou que estava no caminho certo. Sou jornalista e estou aqui para perguntar, por mais que a indagação incomode. Se fosse para agradar o entrevistado eu não seria jornalista e sim publicitária”.
A interrupção de entrevistas e ofensas a jornalistas têm sido uma marca de Bolsonaro quando confrontado com temas incômodos, como suspeitas envolvendo seus familiares ou ministros.
Em agosto do ano passado, ele afirmou ter vontade de agredir um repórter do jornal O Globo após ser questionado sobre os depósitos feitos pelo ex-policial militar Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Após a insistência do repórter sobre os pagamentos à primeira-dama, Bolsonaro, sem olhar diretamente para o repórter, afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”.
Meses antes, em maio, ao ser questionado por repórteres sobre mudanças na Polícia Federal, Bolsonaro mandou os profissionais de imprensa calarem a boca e atacou a Folha de S.Paulo, chamando o jornal de “canalha”, “patife” e “mentiroso”.
Em dezembro de 2019, o presidente disse a um repórter que ele tinha uma “cara de homossexual terrível” e mandou jornalistas ficarem quietos.
Há um mês, Bolsonaro foi condenado a indenizar a jornalista Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de S.Paulo, em R$ 20 mil por danos morais.
A decisão de 16 de março é da juíza Inah de Lemos e Silva Machado, da 19ª Vara Civil de São Paulo. Ela determinou ainda que o presidente pague as custas processuais e honorários advocatícios no valor de 10% da condenação. Cabe recurso.
A magistrada considerou que Bolsonaro violou “a honra da autora, causando-lhe dano moral, devendo, portanto, ser responsabilizado”. Ainda segundo a juíza, “a utilização no sentido dúbio da palavra ‘furo’ em relação à autora repercutiu tanto na mídia como também nas redes sociais, expondo a autora”.
A repórter acionou a Justiça após sofrer um ataque, com cunho sexual, no dia 18 de fevereiro de 2020.
“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo [risos dele e dos demais]”, disse o presidente, em entrevista diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada, na ocasião. Após uma pausa durante os risos, Bolsonaro concluiu: “a qualquer preço contra mim”.
A palavra “furo” é um jargão jornalístico para se referir a uma informação exclusiva.