O presidente Jair Bolsonaro ignorou a França ao participar da cerimônia de integração do submarino Humaitá, o segundo construído após parceria entre os dois países em 2008, ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele destacou a importância do projeto para proteger a “soberania nacional” e disse que o Brasil vai vencer o que considera inimigos externos.
“Quando o Brasil sofria um ataque sobre a dúvida da nossa soberania da Amazônia, tive a grata satisfação de, em nome do Brasil na ONU, falar para todo o mundo que a Amazônia é nossa e é patrimônio do Brasil”, afirmou o presidente.
Bolsonaro também destacou, ao lembrar um dos lemas da campanha de 2018, que “seu partido é o Brasil”. Ele vive uma crise com o PSL, ao qual se filiou antes do pleito do ano passado.
Outra indireta do presidente foi destinada ao governador do Rio e possível adversário na tentativa de se reeleger em 2022, Wilson Witzel, que estava na cerimônia. Olhando para o mandatário fluminense, disse: “Trabalho para que no futuro quem, por forma ética, moral e sem covardia, queira assumir a Presidência da República tenha uma situação bem melhor do que a que encontrei no presente ano.”
O presidente e o governador se afastaram no último mês, depois que Witzel manifestou em mais de uma ocasião que quer disputar a eleição presidencial. Bolsonaro também olhou para o governador quando citou “inimigos internos”.
Bolsonaro esteve no Rio para participar da integração das partes do submarino Humaitá, que entra agora na fase final de montagem antes de ser lançado ao mar para testes. A embarcação é a segunda da série de quatro submarinos convencionais previstos em acordo feito entre o Brasil e a França em 2008.
O projeto tem financiamento francês. O país europeu virou, nos últimos meses, o pivô da crise diplomática gerada pela política externa brasileira. Além de acusar o presidente francês, Emmanuel Macron, de querer “internacionalizar” a Amazônia, Bolsonaro fez declarações ofensivas à primeira dama Brigitte Macron.
A cerimônia ocorreu em Itaguaí, região metropolitana do Rio, no Complexo Naval. Também participaram, além de Witzel, diversos ministro de Estado, entre eles o da Economia, Paulo Guedes, o da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e o de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Pivô da crise entre Witzel e o PSL de Bolsonaro no Rio, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que preside o partido no Estado, estava na plateia de convidados. O governador e Bolsonaro estavam lado a lado na cerimônia. Mas, quando vagou uma cadeira durante o discurso de Azevedo e Silva, o presidente pulou para ela. Ao falar no púlpito, Witzel saudou Flávio e lembrou que eles “caminharam juntos” durante a eleição do ano passado.
Após a junção das partes, o Humaitá passará mais um ano em fase de construção e aprimoramento de seu interior. Só no segundo semestre do ano que vem será lançado ao mar para a fase de testes. É nesse estágio que está o Riachuelo, o primeiro submarino previsto no Prosub. O pioneiro foi lançado ao mar no fim do ano passado, em cerimônia com o então presidente Michel Temer e o próprio Bolsonaro, que estava prestes a tomar posse na Presidência.
A Marinha prevê o lançamento ao mar de um submarino convencional por ano. Após o Humaitá será a vez do Tonelero e, depois dele, do Angostura. Eles devem ser lançados em 2021 e 2022, respectivamente.
A justificativa para a construção de submarinos, num País que não passa por nenhuma guerra, é proteger a área conhecida como Amazônia Azul, onde está inserido, por exemplo, o polígono do pré-sal.
“Nós temos uma extensa área marítima que chamamos de Amazônia Azul, com 5,7 milhões de quilômetros quadrados. É muito importante termos condições de garantir nossa soberania e defender nossas riquezas”, disse o almirante Celso Mizutani Koga, engenheiro responsável pela obras.
Depois dos quatro convencionais, virá a construção do submarino à propulsão nuclear. Ele levará o nome de Álvaro Alberto, almirante brasileiro pioneiro na pesquisa do setor. O almirante Koga classificou esse futuro submersível como “a cereja do bolo” do Prosub.