O governo Jair Bolsonaro chega ao fim de seu primeiro ano mantendo a tendência de queda gradativa na avaliação positiva e de aumento da insatisfação da população, mantendo índices semelhantes ao do ex-presidente Fernando Collor de Mello no mesmo, período. No início de dezembro, a gestão era considerada ótima ou boa por 29% dos brasileiros, segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem, 20. Essa taxa vem oscilando negativamente a cada pesquisa: 35% (abril), 32% (junho), 31% (setembro) e dois pontos porcentuais a menos no resultado atual.

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Já a parcela que considera o governo ruim ou péssimo aumentou no mesmo período: 27% (abril), 32% (junho), 34% (setembro) e 38% (dezembro). Os que veem a gestão como regular são 31% – nesse caso há estabilidade em relação aos resultados anteriores.

Ao fim do primeiro ano de mandato de Bolsonaro, a taxa de satisfação com o governo é quase igual a de Collor no mesmo período, conforme nova ferramenta do Estado que monitora a popularidade do atual governo e a compara com presidentes anteriores. A série histórica de pesquisas Ibope, lançada hoje no portal estadão.com.br, mostra que a evolução – ou reversão – das avaliações de Collor e Bolsonaro depois de praticamente 365 dias no poder segue ritmo parecido.

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Os dois começaram o mandato com uma taxa de satisfação pouco inferior a 50%, mas esta logo diminuiu. As pesquisas evidenciaram quedas incisivas perto dos quatro meses de gestão: um recuo de 12 pontos porcentuais no caso de Collor e de 14 no caso de Bolsonaro. Depois dos desmoronamentos, não vieram recuperações sólidas, mas, sim, tropeços e soluços.

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Eleito em 1989, Collor anunciou uma série de reformas econômicas logo no dia seguinte à posse. Entre as intervenções do pacote que ficou conhecido como Plano Collor estava o confisco das cadernetas de poupança da população. As medidas iniciaram uma crise política que culminou no afastamento do presidente ao fim de 933 dias de governo. Bolsonaro não congelou o dinheiro dos brasileiros, mas viu sua aprovação derreter de maneira semelhante.

Na pesquisa divulgada ontem, além de medir a taxa de satisfação da população em relação ao governo, o Ibope perguntou aos entrevistados se aprovam ou desaprovam a maneira de governar de Bolsonaro. Nesse caso, sem possibilidade de resposta equidistante como a opção “regular”, 41% disseram aprovar o presidente, ante 53% que o desaprovam. No levantamento anterior as taxas eram, respectivamente, 44% e 50%.

O nível de confiança dos brasileiros em relação ao presidente também foi medido. A pesquisa mostra que 41% confiam em Bolsonaro, e 56% não confiam.

Mulheres

A insatisfação com os rumos da administração federal é bem maior no segmento feminino. O governo é considerado ruim ou péssimo por 42% das mulheres, taxa dez pontos porcentuais superior à dos homens (32%). Nada menos que seis em cada dez eleitoras não confiam no presidente. No sexo masculino, o eleitorado se divide pela metade entre os que confiam e os que não confiam.

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Também há diferenças significativas de opinião quando se divide o eleitorado por critérios geográficos. No Nordeste, apenas 21% consideram o governo ótimo ou bom. Essa taxa chega a 29%, 32% e 36% nas regiões Sudeste, Norte/Centro-Oeste e Sul, respectivamente. No Nordeste e no Norte/Centro-Oeste as opiniões positivas e negativas sobre o governo pouco variaram nos últimos dois trimestres. Já no Sul e no Sudeste há tendência de piora da avaliação.

Desde setembro não houve alterações relevantes sobre o desempenho do governo por área de atuação. Apenas no quesito segurança pública a taxa de aprovação é maior que a de desaprovação (50% a 47%). Nos itens saúde, impostos e taxas de juros a parcela da população insatisfeita com o governo é superior a 60%.

Para analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, os resultados frustraram expectativas de que no fim do ano Bolsonaro poderia recuperar parte de sua aprovação entre a população. Segundo o cientista político Carlos Melo, a melhora na economia, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, “não foi suficiente, por enquanto, para alterar a tendência de avaliação do governo”. “(A variação no Ibope) Está dentro da margem de erro, mas note que são números baixos.”

O Ibope ouviu 2.000 eleitores em 127 municípios, entre 5 e 8 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Crises

A atual avaliação positiva de Bolsonaro é comparável à de outros governos apenas em momentos mais avançados do mandato presidencial, geralmente durante crises políticas agudas. Dilma Rousseff, por exemplo, atingiu esse patamar durante os protestos de junho de 2013, com dois anos e meio de mandato. No mês seguinte às manifestações, as taxas somadas de “ótimo” e “bom” de seu governo caíram de 55% para 31%.

Luiz Inácio Lula da Silva viu sua avaliação positiva cair ao patamar de Bolsonaro duas vezes. A primeira foi em junho de 2004, com pouco mais de um ano e seis meses de governo e a segunda na metade de 2005, em meio à crise do mensalão. Com a reeleição no ano seguinte, a popularidade do petista começou a subir de forma quase contínua. No fim de 2009, Lula chegou a 80% de avaliações positivas, melhor desempenho de um presidente em todo o ciclo iniciado após o fim da ditadura militar.

Antecessor de Bolsonaro, o emedebista Michel Temer assumiu a Presidência em 12 de maio de 2016 (até agosto de forma interina), depois da abertura do processo de impeachment de Dilma. Ele terminou os primeiros 12 meses de mandato com a popularidade mais baixa: 13% da população considerava a gestão do País boa ou ótima.