Naquela que é a primeira baixa na cúpula do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi demitido do cargo nesta segunda-feira (18). A exoneração de Bebianno, no 49.º dia da nova administração, ocorre na esteira do escândalo de candidaturas de laranjas do PSL, depois de uma semana de troca de acusações envolvendo o ex-ministro, o presidente e seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro.

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O anúncio foi feito pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. “O motivo da demissão é de foro íntimo do presidente”, disse Barros, ao ser indagado sobre a razão da saída de Bebianno do governo. O porta-voz confirmou que o general da reserva Floriano Peixoto é o novo ministro da Secretaria-Geral – é o oitavo militar designado para um cargo na Esplanada dos Ministérios.

Bebianno presidiu o PSL, partido do presidente, durante o período eleitoral, e foi o principal coordenador da campanha de Bolsonaro à Presidência. A situação do aliado, que já era incerta desde o início da semana passada, se complicou na sexta-feira (15) à tarde, quando Bolsonaro tomou conhecimento de áudios de conversas com o ex-ministro vazadas para a imprensa.

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Ainda de manhã, após uma reunião com os ministros Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, Augusto Heleno da Segurança Institucional, e Santos Cruz, da Secretaria de Governo, e com a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), Bolsonaro se inclinava a manter o ministro no cargo.

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Bebianno reuniu-se então com os colegas e foi aconselhado a baixar o tom das críticas que vinha fazendo ao filho do presidente. Na saída da reunião, dava sua permanência como incerta, mas aliados chegaram a declarar que o ministro permaneceria no cargo. Mas, nesse meio-tempo, áudios de conversas entre Bebianno e Bolsonaro começaram a aparecer na imprensa.

O presidente convocou uma reunião com os ministros no Palácio do Planalto. Bolsonaro viu nos vazamentos “quebra de confiança”. Outro fato também teria azedado a relação entre o presidente e o ministro: Bolsonaro soube que Bebianno tinha marcado uma reunião com vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet. Bolsonaro, que vê na Globo uma “inimiga”, não gostou. Bebianno desmarcou o encontro, mas o estrago já estava feito.

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O ex-ministro, que tentava ser recebido pelo presidente desde sua alta do hospital Albert Einstein, na quarta-feira (13), finalmente reuniu-se com Bolsonaro depois da reunião ministerial. A conversa foi dura e houve troca de acusações. O presidente chegou a oferecer um cargo na diretoria da Hidrelétrica de Itaipu a Bebianno, mas ele não aceitou.

Na madrugada de sábado (16), Bebianno publicou uma mensagem em rede social dando a entender que Bolsonaro estava sendo desleal. No mesmo dia, já reconhecia que a tendência era mesmo ser exonerado.

Processo de fritura

O papel de Carlos Bolsonaro no desenrolar da crise preocupou ministros e aliados do governo, que se mobilizaram durante a semana para dar sobrevida a Bebianno. O imbróglio começou no dia 10, quando o jornal Folha de S. Paulo noticiou um suposto esquema de candidaturas de laranjas pelo PSL.

Segundo a reportagem, Bebianno, que presidia o partido durante o período eleitoral, teria tentado falar com Bolsonaro, que estava hospitalizado, mas não foi atendido. Na terça-feira (12), ao jornal O Globo, Bebianno minimizou o mal estar, afirmando que só naquele dia havia falado três vezes com o presidente pelo WhatsApp.

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Na quarta-feira (13), Carlos Bolsonaro acusou pelo Twitter o então de ministro de ter mentido sobre as conversas com o pai, divulgando um áudio do presidente recusando-se a falar com Bebianno. A situação ficou ainda mais grave quando o perfil oficial do presidente na rede social retransmitiu a postagem de Carlos.

Já de volta a Brasília, depois de ter alta do hospital, Bolsonaro deu uma entrevista à Record ainda na noite de quarta-feira, afirmando que era “mentira” ter conversado sobre o assunto por telefone com Bebianno enquanto ainda estava hospitalizado. O presidente também afirmou que, se o ministro estivesse envolvido no esquema, teria de “voltar às suas origens”, ou seja, ser demitido.

Na quinta-feira (14), parlamentares de relevo do PSL, como a deputada Joice Hasselmann (SP) e o senador Major Olímpio (SP) saíram em defesa de Bebianno, em um esforço de separar governo e partido. Nos bastidores, aliados e militares demonstravam preocupação com o papel de Carlos Bolsonaro na fritura do então ministro.

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Até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), saiu em defesa de Bebianno e criticou o papel da família na crise. “Se ele [Bolsonaro] está com algum problema, ele tem que comandar a solução, e não pode, do meu ponto de vista, misturar família com isso, porque acaba gerando insegurança, uma sinalização política de insegurança para todos”, afirmou em entrevista à GloboNews na quinta-feira.

Entenda o caso

Segundo revelações da Folha, Bebianno seria um dos centros de um esquema de candidaturas de laranjas pelo PSL nas eleições de 2018. Em Pernambuco, reduto eleitoral do presidente do partido, Luciano Bivar, uma candidata laranja teria recebido R$ 400 mil de dinheiro público.

Bivar e o presidente do diretório da legenda em Pernambuco, Antônio de Rueda, culparam Bebianno pela liberação dos recursos. Já o ex-ministro nega irregularidades e afirma que não conhece a candidata sob suspeita.

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Na quinta-feira, Bebianno divulgou uma nota afirmando que não teve ingerência na distribuição do dinheiro público do Fundo Partidário para candidatos da sigla e dizendo ainda que a responsabilidade é dos diretórios estaduais do PSL e que se dedicou única e exclusivamente à campanha de Jair Bolsonaro a presidente da República.

Marcelo Alvaro Antônio, ministro do Turismo, também foi citado pela Folha porque teria patrocinado um esquema de candidaturas de fachada em Minas Gerais. No sábado (16), Bebianno disse estar “perplexo” com a diferença entre o tratamento que estava recebendo e o destinado pelo presidente ao ministro do Turismo.

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