Em evento com esportistas fechado à imprensa, mas transmitido por seus filhos em redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (29) que pretende recriar os Ministérios da Cultura, o do Esporte e o da Pesca, que hoje têm status de secretarias de seu governo.
O presidente condicionou a recriação das pastas à vitória de seus aliados na disputa pelos comandos da Câmara e do Senado, em eleições marcadas para segunda-feira (1º).
Hoje o governo Bolsonaro tem 23 ministérios, 8 a mais do que os 15 prometidos durante a campanha eleitoral –sob a gestão de Michel Temer (MDB), seu antecessor, eram 29 ministérios.
Nesta sexta-feira, o presidente também voltou a demonstrar interesse em disputar a reeleição e só deixar a Presidência em 1º de janeiro de 2027, após um eventual segundo mandato no cargo.
“Pouca gente resiste ou resistiu dois meses de ataques que nós temos resistido há dois anos. E isso eu tenho um sentimento, só um, que é entregar o Brasil em 2023 ou 2027, não sei, melhor do que eu recebi”, afirmou.
O evento não constava da agenda oficial do presidente e aconteceu em sala fechada apenas com convidados –a maioria sem máscara, ignorando regras anticoronavírus.
“Eu queria que hoje eu tivesse sido eleito presidente porque algumas coisas a mais eu faria, outras eu não faria. Como, por exemplo, eu tenho três secretários que, se eu soubesse do potencial de vocês e tivesse mais conhecimento com profundidade da importância, seria um ministério”, discursou Bolsonaro.
O presidente citou os atuais secretários Jorge Seif (Pesca), Mário Frias (Cultura) e Marcelo Magalhães (Esporte).
Mais adiante, ele retomou o assunto e afirmou que a recriação dos ministérios pode ser viabilizada com a eleição de seus candidatos às presidências da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
“Se tiver um clima no Parlamento, pelo que tudo indica as duas pessoas que nós temos simpatia devem se eleger, não vamos ter mais uma pauta travada, a gente pode levar muita coisa avante, quem sabe até ressurgir os ministérios, esses ministérios””, declarou.
O presidente reconheceu que pode ser alvo de críticas ao ampliar o número de pastas dos atuais 23 ministérios. “Alguém pode falar: ‘Ah, quer criar ministério de novo’. O tamanho do Brasil, pessoal, só o Brasil é maior que toda a Europa Ocidental”, afirmou.
A eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado é tida como a senha para mais mudanças na Esplanada.
As alterações em discussão envolvem até mesmo a chamada cozinha do Planalto, pastas que despacham na sede administrativa do governo. Uma delas é a transferência da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
Bolsonaro avalia que a ministra teve um desempenho positivo nas negociações com a China e a Índia para a liberação de insumos e vacinas para o Brasil e considera necessária a reaproximação do governo com a bancada ruralista.
Apesar de ser um dos pilares de sustentação da atual gestão, a frente parlamentar se distanciou do Planalto durante a crise sanitária. Parte dela chegou a anunciar apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela Câmara, o que irritou o presidente.
A ideia de Bolsonaro é indicar um dos nomes da bancada, que seja filiado a uma sigla do centrão, para substituir Tereza Cristina na Agricultura.
Além da Secretaria de Governo, o presidente considera remanejar o ministro Onyx Lorenzoni da Cidadania para a Secretaria-Geral da Presidência, abrindo mais espaço para o centrão.
Caso Onyx assuma essa pasta, que despacha no Palácio do Planalto, a ideia é retirar dela a SAJ (Subchefia para Assuntos Jurídicos) e vinculá-la à Casa Civil ou diretamente à Presidência.
Bolsonaro ainda avalia se entregará o Ministério da Cidadania –cobiçado devido à atribuição de coordenar programas sociais– para o Republicanos ou para o PSC, partidos que têm forte relação com igrejas evangélicas.
Para acomodar as duas siglas, o Planalto considera novamente desmembrar da Economia e recriar a pasta de Indústria e Comércio.
Caso ele leve adiante a proposta, mesmo a contragosto do ministro Paulo Guedes, a ideia é que ela seja entregue ao presidente nacional do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP).
Bolsonaro também tem avaliado como contemplar o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que não conseguiu disputar a reeleição ao cargo. Uma das hipóteses em avaliação é a pasta do Desenvolvimento Regional.
Apesar da pressão pelas saídas de Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), o presidente tem sinalizado que não fará mudanças por ora.
Bolsonaro, contudo, não descarta trocá-los a qualquer momento caso o desgaste de ambos se agrave.
Para a Saúde, é defendido desde o ano passado o nome do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro da pasta durante o governo de Michel Temer (MDB). O nome dele chegou a ser citado inclusive em reunião promovida na Casa Civil.
Para o Itamaraty, três nomes são avaliados, sendo dois de embaixadores: André Corrêa do Lago, hoje na Índia, e Nestor Forster, nos EUA. O primeiro é neto do diplomata Oswaldo Aranha e ajudou a destravar o transporte das vacinas da Índia.
O segundo conta com o apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Com a indicação de um novo embaixador, além de nomear alguém de sua confiança para o cargo de ministro, o presidente sinalizaria ao governo do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, uma mudança de postura.
Uma terceira opção em análise é o nome do atual secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha.
Além de falar cinco idiomas, o militar já foi enviado pelo presidente para missões diplomáticas no Líbano e na Argentina.
A indicação de Rocha para o Itamaraty também abriria a possibilidade de Bolsonaro acomodar Ramos na Secretaria de Assuntos Estratégicos caso decida deslocar Tereza para a Secretaria de Governo.