O prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), está pronto a deixar para trás os conflitos da campanha eleitoral e reatar relações com o governador reeleito Roberto Requião (PMDB). ?Da minha parte estou disposto a retomar a conversa a qualquer momento. Para mim, os episódios da campanha estão superados?, declarou ontem o prefeito, que ofereceu um almoço a jornalistas na Secretaria do Meio Ambiente.
Beto e Requião estão rompidos desde que o prefeito decidiu apoiar o senador Osmar Dias (PDT) na campanha do segundo turno da disputa para o governo do Estado e começou uma polêmica sobre os investimentos do governo do Estado na capital. O prefeito de Curitiba disse que a decisão de restabelecer o diálogo depende do governador. ?Não tenho dificuldade nenhuma. Ele é que tem. Tanto que fez aquela provocação de nomear um interlocutor. Sabia que não iria aceitar?, afirmou o prefeito, referindo-se à indicação do presidente do PMDB de Curitiba, Doático Santos, para a função de assessor especial para assuntos de Curitiba.
Para Beto, sua posição na campanha foi semelhante à que Requião adotou nas eleições de 2004, quando PT e PMDB fizeram uma aliança e o governador apoiou o candidato do PT à Prefeitura, o atual deputado estadual Ângelo Vanhoni. ?Um dia, durante a inauguração de uma obra, ele disse que apoiou o PT para retribuir o apoio que havia recebido na eleição para o governo. Eu aceitei o apoio dele ao Vanhoni. Achei que ele ia aceitar o meu apoio para o senador Osmar Dias?, disse Beto. O senador pedetista trabalhou em favor de Beto na campanha de 2004.
Beto disse que, em nenhum momento negou as obras de Requião na cidade. Mas acusou Requião de ?hipervalorizar? o trabalho do governo em Curitiba. ?Sempre fui correto nesta parceiria. Em nenhum momento omiti o que ele fez. Mas hipervalorizar o que estão fazendo, não posso admitir. Dizer que baixou a passagem não pode. A participação dele foi zero?, afirmou o prefeito.
Pendências
O prefeito de Curitiba aguarda pela transferência de recursos já previstos antes da crise com o governador. Há um mês, quando liberou recursos a fundo perdido para a construção de unidades de saúde, Requião disse que não iria repassar verbas para obras, cuja existência o prefeito não reconheceu durante a campanha eleitoral.
Segundo Beto, estão pendentes cerca de R$ 31 milhões. As transferências de recursos do Estado estavam programadas para obras de pavimentação de ruas, orçadas em R$ 17 milhões, e para a construção do anel viário, cujo custo é de R$ 19 milhões. ?Essa ele tem que fazer porque colocou no jornal de campanha que a obra era dele?, provocou o tucano.
Se não forem usados, os recursos devem ser devolvidos ao Banco Mundial pelo governo do Estado, afirmou o prefeito de Curitiba. Ele disse que a cidade é das poucas que têm capacidade de endividamento e certidão do Tribunal de Contas , condições essenciais para receber esses financiamentos.
Viagem
Beto confirmou que não irá comparecer à posse de Requião no dia 1.º de janeiro, mas afirmou que sua ausência não tem significado político. ?Faz tempo que eu já tinha programado uma viagem com a família. Nem se o Osmar tivesse sido eleito, ou o Alckmin, eu iria estar aqui para ir à posse?, afirmou o prefeito, que irá se licenciar do cargo entre 26 de dezembro e 8 de janeiro. Ele irá ao Caribe com a família.
Prefeito ainda não se definiu sobre reeleição
A candidatura à reeleição no próximo ano ainda não é um projeto definitivo do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Beto disse ontem que está revisando sua posição sobre a reeleição. ?Não tem nada certo. É cedo ainda, mas estou ficando a favor do fim da reeleição?, disse.
Beto afirmou que está refletindo sobre a conveniência da reeleição depois de algumas experiências que considerou fracassadas. ?Não tem dado muito certo. Antes, eu aprovava a reeleição porque achava que dava o direito aos eleitores de julgar uma administração. Mas depois comecei a ver que a reeleição gera vícios, como o uso da máquina?, comentou. O desgaste de dois mandatos consecutivos também é um dos pontos citados por Beto para explicar sua resistência à reeleição. ?O povo cansa. Oito anos do mesmo governante traz um grande desgaste?, ponderou.
Sobre suas relações com o vice-prefeito Luciano Ducci (PSDB), Beto afirmou que a posição divergente dos dois na campanha não atrapalhou a convivência. Ducci apoiou a reeleição do governador Roberto Requião (PMDB) no primeiro turno. ?Ele é leal. É meu vice e tenho um bom relacionamento?, afirmou o prefeito. Após a eleição, o senador Osmar Dias (PDT) criticou a posição de Ducci e Beto o defendeu.
Membro da executiva nacional do PSDB, o prefeito comentou ainda que o partido está passando por uma fase de reavaliação, após a derrota da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. ?O partido está avaliando os erros que aparecem mais na derrota. Precisamos ver o que aconteceu e se aproximar mais da sociedade?, comentou.