O prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), acredita que na reunião de amanhã o Diretório Estadual do PSDB vai optar por uma linha oposicionista ao governo de Roberto Requião (PMDB), que deverá ser imposta a todos os membros do partido. Beto comentou que caso a decisão do PSDB estadual seja a de oposição ao Palácio Iguaçu, os filiados que não estiverem de acordo terão toda a liberdade para buscar outro caminho.
?Se essa tendência se confirmar, não poderemos ter filiados ao partido em cargos de secretário de governo. E os deputados estaduais deverão passar integralmente para a oposição. Mas, para fazer um contraponto responsável, não para exercerem uma oposição sistemática?, declarou.
A decisão sobre que rumo terá o PSDB do Paraná será tomada num encontro que contará com a presença de membros da executiva estadual e das principais lideranças do partido, entre elas, deputados federais, deputados estaduais e o senador Alvaro Dias. Beto explicou que a crise com o governo do Estado chegou a tal ponto que será difícil o partido não fechar questão decidindo pela oposição. ?Depois desse episódio dos ataques, fica difícil a reconciliação?, disse, numa referência à denúncia de Requião de que cerca de R$ 10 milhões do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) teriam sido pagos ao empreiteiro Darci Fantin, na época, proprietário da construtora DM, com a finalidade de serem usados para o pagamento de dívidas de campanha, quando o prefeito foi candidato ao governo estadual.
Beto disse que achou estranha a posição de Alvaro que defendeu a liberdade de atuação dos tucanos na Assembléia Legislativa. ?Ele sempre criticou o governo, não entendi a declaração. É uma posição pessoal do Alvaro?, avaliou. O senador afirmou na quarta-feira passada, dia 28, à reportagem de O Estado que não seria inteligente obrigar os deputados a romperem com o governo, lembrando que os deputados ganharam uma convenção para fazer uma aliança com o PMDB.
O encontro tucano ocorre num momento em que as relações políticas entre o prefeito da capital e o governador parecem ter chegado ao limite. E, em meio a essa crise, Beto está às voltas com um cronograma de obras no valor de aproximadamente R$ 20 milhões, a serem entregues neste mês, em que Curitiba comemora 314 anos. Estão incluídas a construção de três creches, dois Centros de Atenção Psicossocial, três escolas, quatro centros de urgências médicas e três Centros de Referência de Assistência Social, entre outras obras e atividades comemorativas.
A respeito do financiamento para realizar obras como a do anel viário, que foi alvo de polêmica entre o município e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, Beto afirmou que a Prefeitura vai ter dificuldades de executar o empreendimento sem os recursos do Fundo Estadual de Desenvolvimento Urbano. ?Nós temos condições de assumir empréstimos, não interessa de onde venha, nós vamos pagar?, declarou o prefeito, ao lembrar que Curitiba está com a dívida controlada, em cerca de 13 % de sua receita corrente líquida, e possui certidão negativa do Tribunal de Contas do Paraná, o que habilita o município a contrair empréstimos. O prefeito fez questão de destacar que Curitiba se beneficia de boa saúde financeira e que é uma das poucas cidades em dia no pagamento dos precatórios.
Alianças
O prefeito não acredita que o caminho da oposição possa fragmentar o PSDB. Para ele, se o partido adotar uma posição coerente, a possibilidade de coesão aumenta. ?As decisões do PSDB têm de ser previsíveis, chega de incoerência. Precisamos firmar posição e estabelecer um divisor de águas no partido?, disse.
A respeito de uma aliança com o PDT, cujo presidente é o senador Osmar Dias, Beto considera que há a possibilidade efetiva dela ocorrer. ?Temos uma grande afinidade política e ideológica, estivemos em perfeita harmonia na campanha eleitoral. Podemos estar juntos num projeto para o Paraná, para 2008, 2010 e para adiante?, declarou. Osmar concedeu entrevista na semana passada e declarou que o PDT tem interesse numa aliança com o PSDB, mas que isso dependeria da posição que vá será tirada na reunião de amanhã.
Deputados estaduais tucanos ?ensaiam? resistência contra decisão partidária
Elizabete Castro
Foto: João de Noronha e Anderson Tozato |
O secretário Nelson Garcia pode deixar o partido. Já o senador Alvaro Dias não considera oportuna a imposição aos filiados. |
O PSDB filia amanhã, o deputado estadual Geraldo Cartário, seguindo uma estratégia de reforçar sua linha de oposição ao governo do Estado na Assembléia Legislativa. A escolha que será apresentada na reunião de segunda-feira – ou o partido, ou o apoio ao governador Roberto Requião (PMDB)- é uma forma de pressionar pela saída dos quatro deputados tucanos alinhados ao Palácio Iguaçu – Luiz Nishimori, Francisco Buhrer, Luis Accorsi e Luis Fernandes Litro – e do secretário do Trabalho e Ação Social, Nelson Garcia.
Garcia já havia mandado avisar ao presidente do partido, deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB), que iria formalizar seu desligamento do PSDB. Mas até ontem, o secretário não havia feito o comunicado ao diretório estadual. Já os deputados estaduais afinados ao governo decidiram que não vão se dobrar à orientação da direção estadual que, amanhã, pretende fechar questão para obrigar a bancada a adotar a linha de oposição ao governo.
O deputado Francisco Buhrer disse que o grupo decidiu que vai resistir à qualquer imposição da cúpula sobre a maneira como deve votar em plenário. ?Nós temos que ser respeitados nas nossas posições. Nós fomos eleitos para representar os eleitores e não podemos ir contra os seus interesses. Nós temos que votar a favor do Estado?, afirmou.
Ele informou que há uma posição fechada dos deputados em não obedecer ao fechamento de questão da executiva. ?Se tivéssemos uma eleição agora e um candidato próprio, aí sim seria coerente exigir que nos posicionássemos em defesa do partido e do seu candidato, mas não é o caso e nós temos que ser respeitados no nosso direito de representar nossos eleitores e atender nossos municípios?, justificou Buhrer.
O deputado tucano disse que o prefeito de Curitiba, Beto Richa, deveria entender a posição da bancada. ?Imagine se todos os partidos fecharem questão como o PSDB, como é que vai ficar a situação do prefeito em Curitiba. Ele só vai ter o apoio do PSDB? Hoje, até o PT vota com ele em algumas questões?, comentou.
Accorsi foi o único do bloco governista tucano que não participou do encontro que eles tiveram com o prefeito de Curitiba, Beto Richa, na semana passada, quando pediram que não houvesse uma posição fechada sobre a relação com o governo do Estado. Ao que consta, será também o único dos atuais tucanos governistas a seguir a decisão do partido.
Depuração
Entre a cúpula estadual do PSDB há consenso sobre o fechamento de questão. Uma das poucas vozes discordantes é a do senador Alvaro Dias, que não considera oportuno impor um modelo de atuação para os deputados estaduais, neste momento em que o partido está se reestruturando para as eleições do próximo ano.
Mas o pensamento da maioria da executiva estadual é que o partido precisa enfrentar suas contradições internas e arcar com as conseqüências. Uma delas é a redução da sua bancada na Assembléia Legislativa. A discussão já está adiantada e a direção estadual vem sondando novos deputados para substituir, em plenário, aqueles que já considera perdidos.