Declarado pré-candidato ao governo do Paraná, o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), disse, em entrevista a O Estado que não teme ser chamado de traidor ou desagradar o eleitor curitibano se vier a renunciar ao mandato para o qual foi reeleito no ano passado para entrar na disputa do ano que vem.
Mesmo se tiver como adversário o senador Osmar Dias (PDT), seu aliado desde 2004. Beto disse que não está quebrando a aliança e que no acordo firmado no ano passado não havia a indicação de nenhum nome como candidato do grupo ao governo.
O Estado: O senhor vai disputar o governo?
Beto Richa: Eu estou decidido a colocar meu nome à disposição. Tenho vontade de participar desse projeto, mas o partido é que vai decidir no ano que vem. E eu aguardo a decisão tranquilamente.
OE: O senador Osmar Dias (PDT) vai ser seu adversário?
BR: Não sei, é cedo para dizer. Vou trabalhar para manter o grupo unido e nesse grupo inclui o PDT. Só se, em último caso, não der para concretizar o entendimento, então vamos para o embate. Mas numa campanha, no meu estilo e no dele, limpa, propositiva.
OE: Com a polarização da disputa presidencial entre o PSDB e o PT ficou impossível não ter candidato tucano no Paraná?
BR: Evidente que o crescimento do Serra e o favoritismo confirmado em todas as pesquisas ajudam. O Paraná é o segundo melhor estado para o Serra, só não é melhor que São Paulo. Então temos a obrigação de ter boa aliança para uma votação expressiva para o Serra. E, ao mesmo tempo, o favoritismo do Serra nos ajuda aqui também. É uma dobrada importante para ambos os lados.
OE: É por isso que fica difícil a composição com o PDT?
BR: Não fica difícil. Eu não falei isso. Se não for possível o entendimento, eu pelo menos tentei de todas as formas. Agora, eu atendi um apelo dos companheiros tucanos e de partidos aliados para colocar nosso nome à disposição. O pessoal entende que tem um espaço grande para uma candidatura nova.
OE: As conversas do PDT com o PT e a aproximação de Osmar com o presidente Lula é um sinal de rumos diferentes?
BR: Pode ser sim. Eles têm essa outra opção. Eles que vão fazer o julgamento e a escolha mais apropriada para eles.
OE: A posição que cada partido teria nas eleições de 2010 não foram definidas no ano passado, quando se construiu a aliança para sua reeleição?
BR: Nunca. Alguns falam isso, mas não condiz com a realidade. Eu sempre enalteci essa relação entre mim e o senador Osmar Dias, que me apoiou, eu o apoiei e nunca houve qualquer tipo de cobrança ou pré-condição para esse apoio. Nunca foi discutido isso. Inclusive eu o ajudei muito. Ele foi o mais votado em Curitiba. Isso custou alguns prejuízos para nós, passado o pleito, em dificuldade de relacionamento com o governo do Estado. E não foi só na capital. O PSDB entrou de cabeça na campanha dele em todo o Estado. A maioria dos prefeitos do PSDB o apoiou, eu, pessoalmente entrei na disputa. Todos nós estamos com a consciência tranqüila em relação ao apoio que demos ao PDT, e não nos arrependemos.
OE: Para disputar a eleição, o senhor terá que renunciar ao mandato de prefeito, em abril do ano que vem. Como vai assumir esse risco?
BR: O partido vai decidir baseado em pesquisas. E óbvio que também vou estar analisando esse quadro. Mas não meramente e friamente em relação aos números quantitativos. Mais importante que isso é o índice de rejeição, quem agrega mais, quantos partidos traz em torno do projeto. Analisar bem, qualitativamente, o perfil de candidato, de governador que o povo espera. Tudo isso vai pesar.
OE: Quando disputou a reeleição no ano passado, o senhor disse que concorria a, um mandato de quatro anos e que o cumpriria. Em que momento e por que o senhor mudou de opinião? Não teme decepcionar seu eleitor de Curitiba?
BR: Eu atendi o apelo para colocar meu nome à disposição porque os companheiros analisaram as pesquisas e viram a tendência muito forte de uma candidatura de renovação. Sem sequer ter cogitado a possibilidade de ser candidato ao governo, em todas as pesquisas do Estado, nosso nome apareceu em destaque. Ou em primeiro ou empatado em primeiro. E o mais importante de tudo: eu devo satisfação àqueles que me elegeram. Aqui em Curitiba, 70% dos eleitores, conforme a pesquisa, gostariam de me ver na disputa em 2010. Então, essa preocupação, de decepção ou frustração em relação a uma eventual renuncia, nós não temos no momento. Mas ainda vamos avaliar, vamos ver pesquisas, vamos ver como o curitibano entende essa situação. Eu estou muito tranquilo. Não estou atrás de emprego de governador.
OE: O senhor não teme o efeito Pimenta da Veiga (ex-prefeito de Belo Horizonte, que em 1990 renunciou para disputar o governo de Minas, perdeu e não conseguiu mais mandato no Executivo)?
BR: Foi em outro momento, ele estava em primeiro mandato, não existia reeleição à época. Nós já estamos no segundo, fomos bem reeleitos e as pesquisas mostram: eu faço o que a população quiser. Vale lembrar o exemplo do José Serra, que deixou a prefeitura de São Paulo, é um bom governador, e favorito para a presidência.
OE: Não teme ser chamado de traidor durante a campanha, sendo responsabilizado por quebra da aliança?
BR: Se alguém quebrou a aliança também não fomos nós. Porque quem lançou candidato primeiro não fomos nós. Já faz muito tempo que lançaram candidato. Eu, a todo momento, defendia a tese de manter o grupo unido, de que era cedo para se falar em nomes. Vamos manter o diálogo, o entendimento, construir um grande projeto para o Estado e, depois, no ano que vem, decidir o nome. Agora era inoportuno. Eu sempre disse isso. Enquanto isso, já estavam fazendo campanha.
OE: E internamente, como será a conversa com o senador Alvaro Dias (PSDB também pré-candidato ao governo)?
BR: A gente tem um bom relacionamento. É uma aspiração legitima ele querer ser candidato novamente. Não cabe a mim questionar. Acho que cada um faz o seu trabalho, mostra as suas propostas, diz o que pensa para o Estado e, em função do crescimento de uma ou outra candidatura, do desejo da população, o partido saberá no momento oportuno escolher entre nós.
OE: O senador disse que se for candidato e se eleger, não partirá para a reeleição. Não seria oportuno para o senhor esperar até 2014?
BR: Não faço qualquer projeto partidário e pessoal baseado numa possibilidade que outros possam abrir. Acho que cada um cuida do seu trabalho e depois o partido decide. Não posso me pautar baseado no que outros pensam. E quatro anos é muito tempo. Até lá não sei se o desejo permanece. Depois que senta na cadeira, as coisas mudam.
OE: Se o quadro de hoje nas pesquisas durar até o período eleitoral, sua candidatura e a de Osmar Dias estarão parelhas. Assim, o PMDB, com ou sem candidato, poderá ser o fiel da balança. Como conquistar o partido do governador Roberto Requião?
BR: Não estamos em busca de apoio nenhum ainda neste sentido. Temos conversado partidariamente. O PSDB tem conversado com algumas lideranças do PMDB, muito embora tenha a pré-candidatura colocada do vice-governador. E nós respeitamos. É uma aspiração legítima, ele estará no exercício do mandato. Mas as conversas têm que acontecer. Estamos numa democracia, num sistema pluripartidário, onde se busca sempre a aglutinação, a viabilidade de alianças. Então estamos conversando com o PMDB e com todos os partidos, menos o PT.