Foto: Arquivo/O Estado

Preso desde o ano passado, Roberto Bertholdo afirma que não houve interferência em licitação.

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O advogado Roberto Bertholdo classificou como ilegais e distorcidas as gravações de conversas telefônicas divulgadas na edição de ontem do jornal Folha de São Paulo. Preso desde novembro de 2005, acusado de determinar escuta ilegal, lavagem de dinheiro e tráfico de influência, Bertholdo aproveitou o horário de visitas, ontem, para, a partir do telefone celular de sua filha, se defender das novas acusações.

O jornal paulista divulgou, ontem, conteúdos de um monitoramento telefônico feito pela Polícia Federal, em que foram gravadas conversas entre Roberto Bertholdo e o ex-líder do PMDB na Câmara, José Borba, nas quais eles articulavam como interferir no processo de licitação da Transpetro, subsidiária da Petrobrás, para a aquisição de navios. As gravações mostram também que mesmo afastados, Borba e Bertholdo continuavam a agir, liderando algumas das ações da base governista do PMDB.

Segundo a reportagem da Folha de São Paulo, que teve acesso às gravações, Borba e Bertholdo discutiam uma maneira de conseguir R$ 16 milhões num processo de licitação da Transpetro, empresa presidida pelo ex-senador cearense Sérgio Machado, que foi indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dentro da cota da ala governista do partido.

A Transpetro havia aberto licitação, em 25 de novembro de 2004, para a construção de 42 navios para transporte de petróleo e Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP). No entanto, a escolha dos vencedores da licitação foi adiada em razão do alto preço apresentado pelos estaleiros e, até agora, os contratos ainda não foram firmados.

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De acordo com as gravações, em 20 de outubro de 2005, uma secretária de Machado, na Transpetro, ligou para Bertholdo e marcou a reunião para o dia 25, na sede da empresa, no Rio. A secretária pediu para que Bertholdo adiantasse o assunto. O advogado responde que Borba já havia informado Machado sobre o que seria tratado.

Logo após a reunião do dia 25, Bertholdo e Machado viajaram no mesmo vôo para Brasília. No mesmo dia, o advogado entrou em contato com Borba para relatar como foi a reunião e afirmou que o negócio agradou a todos. Por problemas técnicos, a Polícia Federal não conseguiu instalar escuta no gabinete de Machado, local da reunião.

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Em outro trecho da gravação, Bertholdo explica a outro interlocutor como poderia obter benefícios na licitação ao falar de um estaleiro de Santa Catarina, o Itajaí, que deveria ficar com a construção de dois navios.

Bertholdo disse que as acusações são mentirosas e que a Polícia Federal sabe disso. Para ele, basta que as gravações sejam divulgadas na íntegra para se comprovar que o negócio sugerido por ele era para beneficiar a Transpetro. Bertholdo declarou, também, que essa gravação comprova que sua viagem para o Paraguai, marcada para o dia 4 de novembro, dia em que foi preso por suspeita de que iria fugir, seria a trabalho e duraria apenas um dia.

O advogado aproveitou a oportunidade para cobrar garantias de segurança da Polícia Federal. "Essa é a última entrevista que dou. A partir de amanhã não falo mais com ninguém. E até que a Polícia Federal me ofereça garantias de vida, não falo mais nem com o juiz, nem com o procurador", disse. Ele afirmou ter recebido uma carta ameaçando-o de morte, que julga ter partido de Tony Garcia.

Bertholdo declarou também que vai questionar o juiz para que seja determinada a abertura de processo contra Tony Garcia, tanto pelas ameaças quanto pelo ato de quebra de segredo de justiça, com as entrevistas "calamitômicas", que concedeu à revista Veja.