Indicado como pré-candidato ao governo do Estado no próximo ano pelo PT, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, está obstinado em costurar uma composição estadual que garanta o melhor palanque possível para a candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. E qualquer conversa sobre aliança começa com essa premissa básica, disse a O Estado do Paraná.
O Estado do Paraná: O senhor é candidato ao governo para valer ou é só enquanto o senador Osmar Dias (PDT) não se define sobre a aliança com o PT?
Paulo Bernardo: Nós temos uma prioridade que é a eleição presidencial. E estamos falando francamente. Na discussão para o governo do Estado, a maioria do PT gostaria de ter um candidato do partido. E nós estamos discutindo isso como uma das alternativas. Ou vamos ter candidato ou uma aliança. A possibilidade de fazer uma aliança com o PDT e apoiar o Osmar Dias passa pela possibilidade dele apoiar a Dilma para a Presidência da República. Fora isso, não tem conversa. E mais: tem gente no PT que faz a mesma pergunta sobre o senador Osmar Dias. Será que ele é candidato a governador para valer? E eu já falei para ele e para o Lupi (Carlos Lupi, ministro do Trabalho) que nós queremos coligação com o PDT. E que se o Osmar Dias, na última hora, for candidato a senador, eu quero ser candidato com o apoio do Osmar. O que nós não podemos fazer é, a priori, descartar a possibilidade de conversar com um partido que é nosso aliado nacional e com quem nós temos boa relação. Eu estendo este raciocínio também ao PMDB, ao PT, ao PR, que também são partidos que têm a mesma relação conosco. Já disse a você, antes numa outra entrevista, que o PT não teria problema de fazer a campanha do Requião para o Senado. Condicionado, evidentemente, ao apoio do PMDB à Dilma. Fora isso, não tem o que conversar. Se eles pensam de outro jeito, eles, o PDT, qualquer um, não vai ter conversa.
OEP: Em que pé está hoje a negociação com o senador? O senhor disse que tem muita gente no PT que desconfia desse projeto. Ele deu pista de que poderia desistir de ser candidato ao governo?
PB: Eu acho que ele é candidato. Mas tem gente no PT que acha que ele pode ser candidato ao Senado, numa coligação com o PSDB. Essa não é a minha posição. Nós temos conversado muito e ele tem reafirmado que é candidato. E eu acredito nele. Agora, à medida que o tempo passa, fica mais importante ele reafirmar isso. Ele fez boas reuniões para discutir programa de governo, em Foz e em Maringá. O PT, de 82 para cá, só em uma ocasião não teve candidato ao governo, que foi em 98, quando apoiamos o Requião. Eu estava em Cascavel na semana passada e disse o seguinte: sair candidato agora é moleza porque você vai ter carro, equipe de televisão, fotógrafo, assessor de imprensa, uma estrutura. Eu lembro que o Emanuel Appel era candidato a governador e ia fazer campanha de ônibus, de toco duro, para o interior. Uma vez, ele foi a Umuarama para uma manifestação. Foi apresentado como uma pessoa que se dizia candidato a governador pelo PT. Eram tempos heroicos. Hoje, é outra situação. Se a gente não conseguir fazer boa aliança, que seria a preferência, vamos ter candidato.
OEP: O fato de o senador não ter se animado para assumir a liderança do governo no Congresso Nacional muda alguma coisa na relação com o PT?
PB: O líder do governo no Congresso cuida de orçamento, do trabalho nas comissões e a votação do orçamento. Porque o Congresso quase só vota orçamento. De fato, não é trabalho que tenha características do trabalho que o Osmar tem feito, embora ele tivesse condições de desenvolver. Mas eu não diria que há relação entre uma coisa e outra. Algumas pessoas podem ter essa impressão. Mas eu não levaria para esse lado.
O,EP: O senhor acha possível juntar o governador Roberto Requião e o senador Osmar Dias num mesmo palanque em 2010?
PB: Por que não? Todos já foram do PMDB velho de guerra. Eu é que nunca fui. O Osmar já foi secretário do Requião, já foi parceiro do governador no Senado. Temos que conversar. O inusitado seria o Requião apoiar o Beto Richa. É verdade que ele teve um debate acirrado com o Osmar. Mas foi eleição, disputa. Se fosse assim, nenhum político falava mais com outro.
OEP: Então, uma aliança entre Requião e Beto Richa não seria assimilada pelo eleitor?
PB: Seria difícil de entender, não é? O que vemos é que não existe apenas uma divergência administrativa entre eles. Há uma dificuldade de relacionamento até pessoal. Então, eu não posso nem acreditar nessa aliança. De jeito nenhum.
OEP: Por que a conversa não flui bem entre o senhor e o governador Requião?
PB: Eu acho que é culpa minha. Eu sou um cara muito briguento, muito turrão. E o Requião é uma pessoa tão doce, é a ternura em pessoa…. (Risos). Falando sério, agora, eu acho que o Requião tem uma característica de temperamento que é falar o que quer e depois não reconsiderar. Eu não nego que sou briguento. Mas ele, por exemplo, criticou violentamente o nosso programa “Minha casa minha vida” e depois, aderiu a ele.. Não tem problema. Mas ele poderia ter feito críticas menos ácidas. Nós nem respondemos. Então, são essas coisas que levam a alguns desentendimentos entre nós. Mas eu acabo nem levando em consideração porque nós também temos grandes parcerias com o governo do Paraná. Temos uma série de programas que o governo do Paraná executa com recursos federais que vão muito bem aqui, como na área de agricultura familiar, meio ambiente e segurança.
OEP: Esses descompassos não atrapalham as negociações para a aliança no próximo ano?
PB: É evidente, que se for para fazer o diálogo mais estreito e afinar a viola com o governador, talvez, não seja eu a pessoa indicada. Mas nós temos pessoas muito próximas dele, como por exemplo, o Samek, que pode fazer isso. Nós, do PT, temos secretários no governo e eles devem conversar bastante sobre isso com o governador.
OEP: Se o PT faz uma aliança com o PMDB, uma das vagas para concorrer ao Senado seria do governador Roberto Requião. A segunda vaga seria do senador Flávio Arns ou da presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann?
PB: Isso vai ser decidido no nosso encontro estadual do partido. A Gleisi tem manifestado interesse em sair candidata. Isso é legítimo. Agora, quanto ao Flávio, não sei o que ele pensa. Mas acho que tudo isso será bem resolvido, sem problemas.
OEP: E qual seria a posição do vice-governador Orlando Pessuti numa composição entre PMDB e PT se não houver aliança com o PDT? O PT poderia apoiar Pessuti para o governo?
PB: Eu acho que nós não deveríamos descartar porque da mesma forma como nós achamos que o candidato pode ser do PT, ou do PDT, o PMDB tem o direito de achar que o candidato pode ser seu. Digamos que se todo mundo se dispõe a conversar, vamos ver quem é o melhor candidato. O Pessuti deve ser tratado com muito respeito. Ele é uma pessoa com experiência política, sabe fazer campanha, sabe se comportar em campanha e vai ser o governador. Isso não é pouca coisa.
OEP: O PT tem um plano B se os problemas de saúde da ministra Dilma não aconselharem sua candidatura a presidente da República?
PB: Não. A saúde dela vai permitir. A Dilma teve um diagnóstico muito precoce, está fazendo o tratamento na forma recomendada e é uma pessoa de boa saúde. E mais: ela está ficando cada dia mais forte também politicamente. Eu acho que ela vai ganhar a eleição.
OEP: O que o senhor acha da proposta de aprovar o terceiro mandato para o presidente Lula?
PB: Sou contra. Temos que ter estabilidade no sistema eleitoral e institucional. O governo não vai apostar nisso. Já tivemos a experi,ência com a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso e foi uma coisa ruim, com todas as denúncias de compra de votos. Teve época que o presidente Lula chegou até a pensar em propor ao Congresso o fim da reeleição e fixação de mandato de cinco anos. Mas depois desistiu porque achou que o Congresso é que tinha que resolver. Agora, pelo que eu tenho ouvido falar é que está crescendo a tese da prorrogação do mandato. É mais uma coisa que eu tenho certeza que o presidente, de jeito nenhum, vai patrocinar.