Os votos de Cerro Navia, um dos bairros mais pobres da mais pobre região de Santiago, a zona oeste, são a síntese do terreno que a socialista Michelle Bachelet precisa recuperar para vencer hoje a eleição chilena no primeiro turno. Desde que ela deixou o poder, esse reduto histórico da esquerda pendeu para a direita. O apoio ao bloco socialista na região de 150 mil habitantes caiu de 62%, quando ela foi eleita, para 56% e 44% nas duas últimas votações.
Cerro Navia é uma amostra de que o “michellismo” é mais forte do que o esquerdismo no Chile, avaliam especialistas, e ilustra tanto o carisma de Bachelet quanto sua incapacidade de transferir votos.
A ex-presidente, que governou país entre 2006 e 2010 e terminou o mandato com 79% de aprovação, não conseguiu fazer o sucessor. Eduardo Frei foi derrotado, em 2009, pelo empresário Sebastián Piñera, que termina com 32% de popularidade. “A centro-esquerda vai recuperar boa parte de sua zona de influência. Primeiro, porque se trata de Bachelet e não de outro candidato da esquerda. Segundo, porque ela montou uma coalizão mais ampla, onde estão os comunistas (daí o nome Nova Maioria, em substituição à histórica Concertação)”, afirma o doutor pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e analista político Eugenio Tironi. “A direita ajudou nesse processo, porque se fragmentou (Evelyn Matthei foi a quarta opção).”
A necessidade do segundo turno dependerá da participação, uma incógnita. É a primeira vez que uma eleição presidencial e parlamentar chilena terá voto opcional. Na única experiência, em 2012, em eleições municipais, o número de votantes caiu de 7 milhões para 5,5 milhões. A direita perdeu espaço então, mas não em Cerro Navia, que elegeu um conservador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.