A ausência do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) no primeiro debate presidencial das eleições 2018 reforça a inelegibilidade do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, avaliam analistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo na manhã desta sexta-feira, 10. Preso em Curitiba desde 7 de abril pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o petista não obteve autorização judicial para participar do programa.
O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, comenta que a ausência partido no debate faz o eleitorado entender algo que ainda não estava claro: a inelegibilidade do ex-presidente Lula. “Simbolicamente, foi importante para as pessoas entenderem que, juridicamente, a manobra do PT de colocar o Lula em evidência não surte efeito legal”, afirma. “É uma estratégia eleitoral, política”, diz.
Segundo Prando, isso faz com que eleitores que tinham o ex-presidente como opção passem a repensar as alternativas. “O PT optou por reafirmar o discurso de vítima, de perseguição, para mantê-lo em evidência. Isso teve bônus, como constar o nome nas pesquisas de intenção de votos, mas sua ausência no debate foi um ônus”, avalia.
Para Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, a estratégia do partido é um “duplo erro”. “A ausência reforça a ideia de que o Lula não vai ser candidato e, ao mesmo tempo, não indica quem será”, diz. Para ele, os eleitores começam a perceber que a ausência do ex-presidente das eleições é um fato consumado e passam a retirá-lo do rol de possibilidades.
“O PT pode até não perder com isso, porque tem seu eleitorado cativo, mas certamente não ganha, já que a questão Lula passou ao largo do debate, foi considerada uma página virada pelos candidatos. Acho uma estratégia errada não ocupar espaços eleitorais que estão abertos”, afirma Melo.
Janela
Para Rafael Cortez, analista político e sócio da Tendências Consultoria, a estratégia do PT de fazer a defesa jurídica do ex-presidente da República limita a exposição do partido no período inicial da campanha e abre oportunidade para que outros presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT) ocupem espaços.
“A defesa da candidatura até o limite formal (15 de agosto), a despeito dos evidentes obstáculos jurídicos à sua legalidade, tem como custo deixar uma janela para que outros candidatos mobilizem os eleitores”, diz Cortez.
Para ele, no entanto, a estratégia é correta diante do peso eleitoral de Lula. “Defendê-lo é reforçar o nome que pode fazer a transferência de votos para o ‘plano B’, ainda que o partido perca um pouco de sua exposição neste momento”.
Para o cientista político Humberto Dantas, da Fundação Getúlio Vargas, a ausência do PT representou a ausência de uma temática que seria explorada, como os escândalos do “Petrolão”, que desembocaram na Lava Jato. “No meu entender, inauguraria apenas mais uma frente de acusações.”
Sem ganhadores
Para Humberto, o debate não teve ganhadores. “Quem ganhou foi a apatia. Ganhou a vontade do eleitor de se abster, votar em branco ou votar nulo. Como esse grupo já lidera, sobretudo quando o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não aparece nas simulações das pesquisas eleitorais, tem tudo para se expandir nessas eleições”, destacou Dantas.
Transmissão paralela
O PT realizou uma transmissão ao vivo pelas redes sociais para compensar a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate televisivo entre candidatos à Presidência nas eleições 2018.
Na ocasião, o vice na chapa de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, dedicou boa parte da sua fala para direcionar ataques ao PSDB do candidato Geraldo Alckmin e ao MDB do presidente Michel Temer e do candidato Henrique Meirelles.