Milhares de manifestantes foram neste domingo, 26, às ruas de cidades brasileiras em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e em defesa de temas como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. As mobilizações mais significativas foram registradas em São Paulo e no Rio. A pauta dos atos foi marcada também por ataques ao Congresso, personificados no presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao Supremo Tribunal Federal (STF). O atos foram classificados por Bolsonaro como espontâneos e como um “recado àqueles que teimam, com velhas práticas, não deixar que este povo se liberte”.

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A reportagem contabilizou registros de manifestações em pelo menos 154 cidades nos 26 Estados, além do Distrito Federal (foram convocados atos em cerca de 300 municípios do País).

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Na interpretação do Palácio do Planalto, o saldo foi positivo. Interlocutores do presidente avaliaram que, embora não tenham sido grandiosos, os eventos nas ruas não podem ser desconsiderados e mostraram que parte da população apoia a maneira como Bolsonaro tem conduzido sua relação com o Congresso.

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Representantes do Parlamento, porém, reagiram às cenas nas quais Maia e o Centrão – grupo que tem em seu núcleo duro DEM, PP, PL (ex-PR), PRB e Solidariedade e reúne aproximadamente 200 deputados – aparecem como alvo. Parlamentares avaliaram que a hostilidade nas ruas acirra e isola ainda mais o governo no Congresso. Um dos principais nomes do Centrão, o líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA), divulgou nota na qual condena o “radicalismo e a beligerância” e diz que “ninguém governa sozinho”.

Durante a semana passada, Bolsonaro repudiou bandeiras mais radicais como o fechamento do Congresso e do Supremo. No domingo pela manhã, quando já haviam se iniciado as primeiras manifestações, ele saiu em defesa dos atos ao discursar durante um culto religioso na Igreja Batista Atitude, no Rio (mais informações na pág. A8).

Ao mesmo tempo, o Twitter do presidente divulgou três vídeos das manifestações: Em Juiz de Fora (MG), onde se ouve “o choro é livre, o Lula não”; em São Luís (MA), onde o locutor pede a CPI da Lava Toga; e no Rio, onde um grupo canta “a bandeira jamais será vermelha”.

Paulista

Nas principais capitais e no DF, faixas, cartazes e bonecos exibiam uma pauta bem combinada para as manifestações. Na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, se destacavam as mensagens em defesa da reforma da Previdência, da Medida Provisória 870 (reforma administrativa), do pacote anticrime de Moro e da CPI da Lava Toga, para investigar ministros do STF.

A Polícia Militar não deu uma estimativa oficial do público. Os participantes se reuniram ao redor de nove carros de som espalhados por oito quadras da Paulista, entre a Avenida Brigadeiro Luís Antônio e a Rua Augusta. O maior foco de concentração de público foi entre o Masp e o prédio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

O carro do movimento Nas Ruas foi o ponto de encontro dos políticos presentes, a maioria do PSL, partido do presidente, e também o principal foco de aglomeração de manifestantes. O grupo e o Revoltados Online ocuparam o espaço que, nas manifestações de 2014, foi do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua. As duas organizações optaram desta vez por não apoiar o movimento em defesa do governo de Jair Bolsonaro.

O Nas Ruas levou um boneco inflável gigante do presidente e tocou o jingle de campanha de Bolsonaro. Os parlamentares presentes minimizaram as palavras de ordem mais radicais que pregavam o fechamento do Congresso Nacional e a intervenção no Supremo.

A ouvir vaias para Maia, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) contemporizou no microfone e disse que ele será o responsável pela aprovação das reformas. “Nosso papel na Câmara é diferente do papel de vocês nas ruas. Vocês vão entender isso. Dói não poder falar o que a gente pensa”, disse a deputada em seu discurso.

No Rio, o público ocupou 800 metros da Avenida Atlântica, na orla de Copacabana. A PM também não estimou o número de presentes no ato, que também foi marcado por críticas ao Congresso. Maia foi, individualmente, o deputado mais atacado. Até um boneco gigante do parlamentar, anunciado como “o Judas do 17”, referência ao número do PSL, sigla de Bolsonaro, foi inflado e exposto na orla, ao lado de um pixuleco, como ficou conhecido o boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trajado como presidiário.

‘Autonomia’

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, as manifestações não têm o poder de coagir o Congresso, que “deve continuar com a autonomia e o enfrentamento que tem hoje” em relação ao Executivo. Não vejo o governo saindo mais forte das manifestações de hoje (domingo). O que foi feito foi demarcar que o governo não está sozinho, mas também mostrou que não está protegido pelas massas”, avaliou Melo. /

Brasília

A manifestação em Brasília contou com um boneco inflável gigante do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, representado como o Super-Homem, levado à frente do Congresso. A Polícia Militar estimou que 20 mil pessoas estiveram no ato, que durou três horas.

Moro usou as redes sociais para elogiar as manifestações pró-governo. “Festa da democracia”, escreveu em sua conta no Twitter. “Povo na rua é democracia. Com povo e Congresso, avançaremos. Gratidão. #Brasil.”

De cima de um dos trios elétricos, um grupo de pessoas se fantasiou de lagostas, em alusão ao edital do Supremo Tribunal Federal que prevê a compra de refeições com o crustáceo e vinhos com premiação internacional. Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, o edital provocou desconforto entre ministros e indignação entre servidores da Corte.

No gramado em frente ao Congresso, onde os manifestantes se concentraram, outro grande boneco – o “Privileco” – foi inflado. Do trio, uma das manifestantes tentou sintetizar a criação. “Representa todos aqueles parlamentares e aqueles que atrapalham as reformas pontuais que estão em trâmite na Câmara.” A insatisfação também teve como alvo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o Centrão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.