No primeiro dia em que o presidente Michel Temer cumpriu uma agenda pública em Brasília desde que assumiu efetivamente o Palácio do Planalto, o seu governo foi alvo de uma manifestação organizada por movimentos sociais, militantes e estudantes universitários. Enquanto Temer e outras autoridades do Executivo acompanhavam o desfile oficial numa área isolada, cerca de 2,7 mil pessoas cruzaram a Esplanada dos Ministérios para protestar contra o novo governo, segundo cálculo da Polícia Militar do Distrito Federal. Na conta dos organizadores, o público chegou a 5 mil manifestantes.

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“Esse é um golpe não só de tirar a Dilma, mas é um golpe no direito dos trabalhadores. Cada medida que eles mandam para o Congresso vai numa direção só: tirar os direitos sociais”, disse o ex-ministro Gilberto Carvalho, um dos principais porta-vozes do governo Dilma Rousseff, que compareceu à manifestação na Esplanada.

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“Eles (Temer e aliados) estão pagando um preço para o capital, que foi quem financiou o golpe maldito, que vai fazer a desgraça do País. Por isso que estamos na rua e não vamos sair da rua”, comentou Carvalho.

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O protesto contou com integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Movimento de Luta pela Terra (MLT), além de pessoas contrárias ao governo e militantes do PT, PCdoB e PSOL.

“Viemos dizer que a sociedade não concorda com essa ruptura democrática”, disse o agricultor Tatiano Tavares, que organizou uma vaquinha para trazer integrantes do MLT para a Esplanada.

Durante toda a manhã, enquanto o desfile ocorria em uma área isolada por um muro de lata e um cordão de alambrados, manifestantes gritaram palavras de ordem e erguerem faixas e cartazes com mensagens como “Vaza, Temer”, “A Petrobras é o pré-sal do povo brasileiro”, “Fora, corrupto”, “Temer golpista”, “Quem não deve, não temer”.

Isolamento

A mobilização dos manifestantes também se deu por meio das redes sociais, atraindo estudantes universitários, como a mestranda em Ciência Política Ariadne Santiago, que carregava um cartaz escrito “Fora Machistério de Temer”, numa crítica à ausência de mulheres no primeiro escalão do governo. “Isso é retrógrado, atrasado, um retrocesso para as mulheres que não se veem representadas”, criticou Ariadne.

Diferentemente do que ocorreu um ano atrás, quando manifestantes contrários ao governo Dilma batiam no muro de lata para protestar contra o governo, desta vez não houve acesso à estrutura provisória, que ficou isolada por policiais e alambrados.

Cordões de isolamento da polícia também impediram os manifestantes de avançarem pela Esplanada enquanto ocorria o desfile do outro lado do muro. O acesso só foi liberado após o fim do evento. As pessoas marcharam pacificamente rumo ao Congresso Nacional, até que houve uma confusão entre alguns manifestantes e um grupo que pedia intervenção militar. Depois de um bate-boca, um repórter e um cinegrafista foram agredidos por manifestantes e duas pessoas foram detidas pela PM. A revista em mochilas pelos policiais militares resultou na apreensão de facas, estiletes, punhais e uma garrafa com spray.

Uma equipe de filmagem do PT na Câmara aproveitou a manifestação em Brasília para coletar depoimentos de pessoas pedindo a cassação do mandato do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo o jornalista Rogério Tomaz, a ideia é estimular o engajamento da militância. “Não podemos deixar prevalecer a operação para salvar o mandato de Cunha”, comentou Tomaz.