Num de seus últimos compromissos oficiais em Brasília, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, assistiu ao protesto solitário e silencioso de um integrante de um grupo gay de Brasília. A menos de cinco metros de Ahmadinejad, Júlio Cardia conseguiu erguer um cartaz e a bandeira do movimento gay. O protesto se deu na sala onde o líder iraniano concedia entrevista coletiva, no hotel em que estava hospedado, um dos mais luxuosos da cidade.
Cardia, de 25 anos, conseguiu driblar a segurança, sentou-se no fundo da sala e quando a entrevista já estava perto de terminar, levantou o cartaz, que foi prontamente arrancado de suas mãos pelos agentes iranianos. Em seguida, ele desfraldou a bandeira do arco-íris. Foi retirado da sala na sequência.
Funcionário de uma empresa de serviços em Brasília, Cardia faltou ao trabalho ontem só para acompanhar os passos de Ahmadinejad na cidade. Semanas antes, ele se juntara a representantes das comunidades judaica e bahai para organizar os protestos. Juntos, conseguiram mobilizar cerca de 200 pessoas, mas nenhum deles chegou tão perto do presidente iraniano. “Não aceitamos que pessoas como nós, gays, estejam sendo esquartejadas no Irã”, disse Cardia, já do lado de fora. O cartaz que ele carregava trazia a inscrição “Pela vida dos gays, contra Ahmadinejad”.
Cardia afirmou que seu grupo pretendia realizar um protesto maior na faculdade particular onde, horas antes, Ahmadinejad teria um encontro com estudantes. O evento foi cancelado de última hora depois de as autoridades brasileiras alertarem a segurança do presidente iraniano sobre a vulnerabilidade do lugar.
Pouco antes da manifestação, Ahmadinejad respondeu à pergunta de um repórter sobre os protestos dos homossexuais à sua presença no Brasil. Sem entrar em detalhes nem repetir sua convicção de que o homossexualismo põe em risco o futuro da humanidade, ele desconversou: “Nós achamos que as pessoas estão livres para expressar suas ideias. No Brasil existe essa liberdade, e no Irã também.”