O Congresso se dividiu na avaliação do artigo escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para a revista Interesse Nacional, divulgado ontem na internet. Sob o título “O Papel da Oposição”, o texto critica “as falsidades ideológicas” do PT, assim como a estratégia tucana. Afirma, ainda, que “enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, as massas carentes ou pouco informadas, falarão sozinhos”. E sugere que a oposição se volte para “as novas classes possuidoras”, ativas nas redes sociais como Facebook, YouTube e Twitter”.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) alertou para o “risco” de erro na leitura incompleta do artigo. Diz que leu o texto inteiro e que, em vez de propor o afastamento dos eleitores mais pobres, como sugere a avaliação parcial do texto, Fernando Henrique chama a atenção para a apropriação do que ele chama de “lulopetismo” em relação às teses que o PSDB defendia.
O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), entendeu que o ex-presidente se referiu aos movimentos sociais “cooptados de forma promíscua pelo governo petista”. “A população das camadas mais pobres não participa de forma absoluta dos movimentos sociais. Então, há espaço nas camadas mais pobres que, aliás, elegeram Fernando Henrique duas vezes”.
Na Câmara, o artigo causou mal-estar nos partidos de oposição e surpresa nos aliados de Dilma Rousseff. O DEM e o PPS discordaram radicalmente da avaliação do ex-presidente de que a oposição deve desistir de buscar o “povão” e conquistar as novas classes médias. O líder petista na Câmara, Paulo Teixeira (SP), considerou que FHC dá por certo que o PT já ganhou os pobres. “Ele entregou os pontos no debate com os pobres e começou a se preocupar com a reconquista da classe média pelo PT”, afirmou Teixeira.